07/12/2005

Hey ho, Rio!



Não consegui comprar a camisa verde-amarela, com o mascotinho da banda e a tradicionalíssima frase: "Eu Fui!". Na entrada, vendiam por 25 merréis, o que considerei exorbitante, e preferi deixar pra comprar depois do show, quando certamente cairíam a dez ou quinze. Vi-me vítima da minha certeza ao sair da Apoteose e descobrir que todas as camisetas já tinham sido vendidas para fãs felizes que agora as ontentavam por aí.

Não consegui sequer pegar um flyerzinho que distribuíam na saída, onde, além do nome da banda e da data daquele dia, estava escrito: "O show da minha vida!". A manada de quarenta mil pessoas indo embora pela Marquês de Sapucaí, e o empurra-empurra característico de saídas de shows, não me deixaram estender a mão pra pegar o papelzinho que a moça entregava pra todo mundo. Minha única lembrança material da fantástica apresentação que acabara de presenciar seria, portanto, apenas o ingresso, que felizmente não se desmanchou em meu bolso com o suor.

Por isso, foi com prazer prazer que descobri Orkut afora uma porção de links para as mp3 do show, com as duas horas e vinte minutos de canções em excelente qualidade de gravação. Dão dois cedês, com a capinha oficial inclusive, e a bizarra grafia do nome da cidade: "Rio de Janiero". É muito bom ouvir a galera cantando em uníssono e poder falar: "eu também estava lá, também cantei junto". E não uma bandinha simplesmente, mas aquela que há 15 anos era aguardada pra tocar em terras brasileñas, desde que surgiu em Seattle com um dos melhores discos dos anos 90.

Com isso, cumpro a primeira das minhas quatro resoluções de fim-de-ano que coloquei aqui em outubro. Escrevi na época: "Nem estava muito nos meus planos, mas vários amigos meus tão animando e agora estou considerando seríssimamente". Hoje sei que me arrependeria amargamente se não tivesse ido.

Saímos no sábado à noite numa excursão organizada pela Galo Metal, o que talvez tivesse a ver com o fato de que só voltaríamos... na segunda. Os dois ônibus partiriam dali em frente ao Diamond à meia-noite, mas só fomos pegar estrada depois de uma da manhã. Perguntamos o motivo do atraso pro organizador da excursão. "O ônibus veio sem televisão, tive que mandar voltar e buscar uma!", disse ele, como se doesse passar uma noite sem tevê, dormindo no ônibus. Desnecessário dizer que ela permaneceu desligada tanto na ida quanto na volta. No total, foram nove horas só de ida, contando com paradas que se alongavam por quase uma hora e um motorista dando voltas inúteis no quarteirão pra chegar em Copacabana. Sem falar nos tradicionais malas gritando a viagem inteira, e o torcicolo que adquiri após uma noite de sono nada ideal.

Ali, perto do Posto 1 de Copacabana (ou seria o Leme?), era cada um por si até as quatódatarde, horário marcado pra todo mundo se encontrar de novo. Estávamos em seis: eu, meu primo e quatro colegas dele. Fomos pro Leblon num micro-ônibus e passamos as horas seguintes simplesmente matando tempo: café da manhã na padaria, cervejinha e água de côco na beira da praia, mais comida, mais cerveja, mais ônibus de volta pro ponto de encontro.

Chegamos na avenida Presidente Vargas lá pelas cinco horas, debaixo de um céu azulzíssimo e sem nuvens. Atravessamos a Sapucaí toda a pé, sem sambar, e descobri que a avenida não era tão larga quanto eu achava, vendo pela Globo. Público imenso na Apoteose, arquibancada e pistada lotadas, difícil se locomover. Ainda assim conseguimos um lugar razoavelmente bom, no meio, embora um pouco longe do palco.

Sete e meia entra o Mudhoney. Gostei de algumas coisas, alguns riffs, mas no geral não curti muito o show de abertura. Razões principais: não conhecia absolutamente nada, assim como boa parte do pessoal ali presente; o som deixava a desejar, graves estourando e guitarras barulhentas; e, pôxa vida, não era aquela a banda que todo mundo mais queria ver.

Oito e cinqüenta, céu já escuro, apagam-se os holofotes e entram, finalmente, os caras da banda. Putaquepariu. O Pearl Jam está no palco.

Não foi à toa que jornais impressos e internéticos publicaram manchetes como: "Pearl Jam gera catarse coletiva no Rio". Já na segunda música, "Do The Evolution", a empolgação era geral, e pouco importava se não conseguíamos ver tudo direito, se o vendedor de águas enchia o saco toda hora pra passar com sua caixa enorme, se incomodava a quantidade de pés e cotovelos por metro quadrado. A tal "catarse coletiva" continuou até a última música, uma cover do The Who, quando, já com os holofotes ligados, Eddie Vedder se despediu: "Be good to yourselves. Peace. Peace. Love you. Good night. Goodbye". Será que demora mais quinze anos?

Melhores momentos:

>> Gritar "It´s evolution babeeeeeeeee!" sem a mínima preocupação em ficar rouco.

>> Os versos iniciais de "Corduroy", que pareciam se encaixar muito com a situação ali: "The waiting drove me mad / You´re finally here and I´m a mess". Embora "a mess" mesmo eu tenha ficado após o show, as pernas doendo e a garganta acabada.

>> "Daughter" e os gritos de guerra puxados por Eddie Vedder, e que depois todo mundo ficava repetindo entre as músicas.

>> Quarenta mil pessoas cantando "Better Man". E ainda emendando ao final um lado B dos Ramones, "I Wanna Be Your Boyfriend". Maravilhoso.

>> O alívio de ver "Alive" ao vivo (dá um poema, não?).

>> O segundo bis, com a melhor seqüência do show: A inesperada "Last Kiss", as ultra-esperadas "Black" (numa versão gigantesca, 12 minutos, boa parte deles com "tchururu tchu tchururu" da galera), "Jeremy" e "Yellow Ledbetter", e a saideira com "Baba O´Riley", do The Who.

Melhores frases faladas por Eddie Vedder e seu português quase incompreensível:

>> "Esta é nossa última noche no Brazil. Vamos tentar fazê-la a melor."

>> "Então as escolash de samba desfilam aqui. Hodi o rock de Seattle vai desfilar."

>> "Cuiden ben uns dos outros, por favor, yes?"

>> "Vamos dar as ben-vindas ao palco para o grande Mudhoney! O sinhor Steve Turner e sinhor Mark Arm! No que o tal Mark grita pra galera: "Right now, Rio di Janerio...!"

>> "Tocamos para cento e vinte mil brassilieros e vocês foram tremendos! A próxima vez que tocarmos aqui, o mundo será melor, porque George Bush não será más presidente!". Há relatos de que muita gente começou a gritar, nessa hora: "O Lula também não! O Lula também não!

Para baixar as mp3 do Rio, entre aqui, e siga as instruções. Para todas as músicas da turnê sul-americana, aqui é melhor.

   5 comentários :

  1. bruno paio12:11 PM

    i believe in miracles.

    ps: e aquela especie de cavaquinho? doidimais!

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  2. Silveira12:12 PM

    A do "Alive" foi boa

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  3. Gostei do post.

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  4. Mariana12:13 PM

    ahaha, me diverti. Mas num fui ver o Pearl Jam.. why?? why?? tnatas coisas legais acontecem no Brasil quando eu NAuM ESTOU AI?
    oW.. vc já fez algum post sobre "feriados"? nossa.. aqui na Alemanha quase naum te feriados... vira e mexe minha mae me liga e diz.. "adivinha? hj é feriado aqui.. de novo!". é... hj é feriado aí.. de novo.. e eu to aki..
    kjhelaykjbcslkjfdhna sdkhfwernaöshfd

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  5. Leandro Fabel12:14 PM

    Better man, meu sonho realizado...
    Soon Forget no Ukelele...
    Tchu ru ru tchu tchu ru ru...
    A apoteose inu abaixo em Do the Evolution...
    E as falas em " português " do Eddie em geral, neguim ria qndo entendia e ria qndo nao entendia nda...o msm para as palmas e os gritos...mto bom...
    Melhor show da minha vida sem sombra de dúvidas...e que vanham os Rolling Stones...bóra ???

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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