03/12/2005

It´s my aeroplane



Essa vai ser ótima pro meu currículo: finalista nacional do Campeonato Mundial de Aviões de Papel na categoria melhor acrobacia.

2005 tem sido um ano de fatos avulsos, como conhecer pessoalmente um ornitorrinco. Mas essa do campeonato de aviõezinhos superou tudo. Principalmente pelo absurdo da situação, mas também por causa do prêmio: além de duas latinhas de Red Bull e uma caixinha-troféu, vou para São Paulo em abril do ano que vem, junto com cinco outros belorizontinos, disputar a final brasileira!

Tudo começou no dia 24 de novembro, quando, na saída da faculdade, uma estudante de Relações Públicas me entregou um pop card. Marcela é seu nome, e me lembro de ter encharcado a coitada de tinta no dia do trote dela. O pop card falava do campeonato patrocinado pela Red Bull e contava que a final seria lá nas Oropa, na cidade austríaca de Salzburg. A própria Marcela, que trabalha na Red Bull, me inscreveu ali na hora pro tal campeonato.

Nos dias seguintes, descobri na internet um modelo bacana, chamado Nick Plane. Aprendi a construí-lo e treinei um pouco em casa e no estágio, planejando disputar com ele a categoria de maior tempo de vôo. E só. Para as categorias restantes, maior distância e melhor acrobacia, pouco me lixei. Alguns dias depois, recebi um e-mail dizendo que a eliminatória de Belo Horizonte seria realizada no dia 3 de dezembro, um sábado à tarde, no ginásio do Barroca Tênis Clube. Achei ótimo, não tinha nada pra fazer no dia mesmo, e o Barroca ainda ficava do lado da casa dum primo meu.

Pretendia ir hoje mais cedo pro prédio dele fazer um treinamento na quadra ou no salão de festas, mas acabou que não ia ter ninguém em casa, e acabei indo em cima da hora direto pro Barroca. No caminho ainda cruzei com o Celton, célebre vendedor ambulante de revistinhas em quadrinhos de fabricação caseira. Estava no sinal com sua tradicional plaquinha, terno amarelo estilo Máskara e, dessa vez, uma faixa amarrada na testa. Passei por ele e gritei: "Celton!!". Ele fazia uma pose mezzo super-herói, mezzo lutador de kung-fu, e gritou: "Rá!!" pra mim. Não entendi o significado daquilo, mas ri bastante sozinho.

Cheguei num ginásio quase vazio lá no Barroca. Aos poucos, as pessoas foram chegando, mas não mais que quarenta, sendo que dessas apenas metade estava de fato participando, o resto era gaiato. Meu primo e co-piloto, Bruno, apareceu logo em seguida (também como gaiato) e ficou me ajudando na confecção de alguns aviões. Colocaram nas mesinhas vários maços de papel A4, e dá-lhe gente fazendo e tacando aviãozinho pra cima, uns muito bons, outros ridículos.

Para o maior tempo no ar, fiz alguns Nick Planes. Já no quesito maior distância, nosso trunfo era o "super a jato nato", modelo que desenvolvemos ainda na infância, capaz de singrar o ar com considerável velocidade e atravessar uma quadra, se jogado direito. Enquanto isso, bebíamos Red Bulls e nos esbaldávamos com pães de queijo, coxinhas e enrolados de presunto que nos foram distribuídos. A tarde já valeria a pena somente por aquele lanchinho free.

Lá pelas tantas, começou o campeonato. Fizeram uma pista de pouso na quadra, com luzinha e tudo, e era de lá que os participantes jogavam suas aeronaves de papel. Foi aí que descobri uma coisa muito legal: só havia por ali alunos da PUC e da Uni, e se classificariam final em Sampa três alunos de cada faculdade, ou seja, seis pessoas de Beagá. Vi minhas chances aumentarem bastante quando descobri isso, porque tinha mais gente da PUC que da Uni, e muita, mas muita gente simplesmente não foi: dos 72 universitários inscritos, só uns vinte deram as caras.

A primeira categoria foi maior distância. Logo de cara, um aluno da PUC fez um vôo de 22 metros, sorte que eu não concorria diretamente com ele. Seguiram-se muitos vôos na média (nove, dez metros), e alguns absurdamente horríveis (dois metros, por exemplo). Nesses casos, um sonoplasta engraçadinho punha aquela famosa vinhetinha de fracasso: "féum, féum, féum...". A tal Marcela que me inscreveu ia anunciando os competidores e narrando os arremessos.

Quando chegou a minha vez, lancei os dois super a jato natos que o Bruno tinha feito, mas os resultados não foram tão bons quanto a gente esperava. Tínhamos testado-os tanto que já estavam meio amassados, e sua performance ficou prejudicada. O primeiro voou 9,45 metros e o segundo percorreu 12 e uns quebrados. Era permitido duas tentativas, e a melhor era a que contava. O aluno da Uni que ganhou (um cara chamado Marco Aurélio, com quem eu tinha conversado mais cedo) fez 13 metros e um tiquim. Ou seja, perdi por um metro.

A segunda categoria foi a de maior tempo de vôo. Fui bem: a maioria voava 2 ou 3 segundos, mas o meu Nick Plane ficou 4 segundos e 40 centésimos no ar. Dessa vez perdi por menos ainda: o vencedor voou durante 4 segundos e 64 centésimos. Em minha segunda tentativa, taquei não um Nick Plane, mas um modelo semelhante que conhecia já há alguns anos, mas fui bem pior, chegando a ganhar um "féum féum féum" do sonoplasta.

Veio então a terceira categoria, a mais menosprezada da tarde. Tinham todos trabalhado com afinco pensando em voar muito ou voar longe, mas não nas piruetas da categoria de melhor acrobacia. Eu mesmo fiz um aviãozinho ali na hora: lembrei de um antigo modelo que vi num livro que meu pai me deu e tentei fazer parecido. Nem cheguei perto, e consegui um avião bizarro, mas que pelo menos era um avião. Os outros competidores tinham confeccionado modelos totalmente esdrúxulos, que só rodavam loucamente em torno de si mesmo, ou que nem chegavam propriamente a voar. Lancei meu avião improvisado pra cima, que não fez nada de muito especial: um looping aqui, uma guinada de 180 graus ali, uma plainada e pronto. Em vista dos concorrentes, no entanto, arranquei algumas palmas e fiquei, aí sim, na expectativa.

A angústia não durou muito, já que o anúncio dos vencedores foi logo em seguida. Puseram uns latões da Red Bull pra servir de pódio e falaram primeiro o nome dos três ganhadores da PUC. Algumas fotos e sorrisos depois, anunciaram os da Uni-BH. Marco Aurélio, o cara dos 13 metros, ganhou na maior distância. Para o maior tempo de vôo, venceu Fabrício, o dos 4 segundos e 64 centésimos. Finalmente, a Marcela diz no microfone: "Na categoria melhor acrobacia... Lucas Paio!"

Taí a foto aí em cima que não me deixa mentir. Vai ser um bom final de semana: campeão de aviãozinho num dia, show do Pearl Jam no outro.

E que venha a Áustria.

   5 comentários :

  1. bruno paio12:09 PM

    se voce tivesse treinado a "tecnica de arremesso do super a jato nato" ele teria chegado nuns 20 metros facil.

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  2. Unbelievable! Unbelievable! Congratulations mate! Este eh um premio super importante que com certeza fara diferenca em QUALQUER carreira que seguir! I'm very, very proud of!

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  3. Silveira12:10 PM

    Esse é o fato mais avulso em muito tempo...

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  4. Bernardo12:10 PM

    féum féum féum?????

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  5. Mariana12:10 PM

    Wow!!!
    Nossa.. to orgulhosíssima de vc!!!
    Pena que quando vc vier para a Austria naum vou estar mais aqui.. senaum podia torcer!!!hehehe
    Beijocas e saudades!

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Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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