23/07/2009

¡Olé!



Madrid, Espanha
22 e 23 de janeiro de 2007

Cheguei na fila da imigração do aeroporto de Barajas com todas as respostas na ponta da língua: vim passar 30 dias na Europa, aqui está minha passagem de volta, meu seguro-saúde internacional, a reserva do albergue em Madrid, não sou terrorista, traficante ou cantor de barzinho com playback, não pretendo estabelecer família nem abrir uma lojinha de suprimentos de informática por aqui. Afinal, depois da minha experiência ao entrar na Nova Zelândia, é natural que eu esperasse o pior.

Sacanagem: só me pediram o passaporte, carimbaram e emendaram um "Bienvenido". Muito mais trabalhoso, na verdade, foi sair dali e chegar no albergue. Caminhei que nem condenado nos terminais T1 e T2, avistei ao longe o terminal T4 em destroços (por causa do atentado do ETA algumas semanas antes), peguei um elevador que andava na diagonal (!!), fiz 3 baldeações no metrô e emergi nas ruas de Madrid, debaixo de uma chuva chata, sem idéia de onde ficava a tal da rua Cañizares.

Resolvi perguntar prum sujeito parado em frente a um hotel, naquele meu espanhol torto, e recebi como resposta:

- Ô meu amigo, eu não sou daqui não, sou de Belo Horizonte.

Ante meu olhar incrédulo, ainda deu a dica:

- Quando cê for pedir informação, pede pra policial. Esses zé bucetas aí na rua não sabem nada.

O Cat's Hostel é um albergue ideal pra você começar uma viagem. É verdade que peca no café (croissant, suco de laranja e só) e tem um chuveiro extremamente irritante - a cada 10 segundos, você precisa apertar um botão pra ele não desligar. Parece o computador da escotilha de Lost. Mas o grande barato do Cat's é o porão, que tem bar, internet grátis, vez ou outra algum show e cerveja de 1 litro a 3 euros. Na primeira noite, bebendo e batendo papo com uma galera de Idaho, Califórnia, Sydney, Buenos Aires e Québec, acabei me empolgando com o preço da cerveja e terminei batizando a privada do albergue.

Nos dois dias em que andei por Madrid, visitei os três museus mais famosos da cidade. Foi um exagero: devia ter me concentrado em apenas um por dia, porque visitar o Thyssen-Bornemisza depois de uma manhã inteira no Museu do Prado dá uma canseira e não se aproveita mais nada. O que mais me agradou foi o Reína Sofia: um monte de Dalís, Mirós e Picassos, como o monumental "Guernica" (um senhor quadro de 3,5 por 7,7 metros) e o intrigante "El Hombre Invisible", de Dalí, que só é revelado quando se enxerga de longe.

Em Madrid também pude aproveitar almoços relativamente baratos (para o padrão europeu), como o combo paella + bife + garrafinha de vinho + flan de sobremesa por 8 euros. Se em reais não soa nada econômico, era uma pechincha comparando com as refeições de países mais setentrionais. Aliás, vale lembrar a velha máxima: "quem converte não se diverte". Você não vai pagar 120 euros por um jantar no La Terraza del Casino, mas também não pode passar a viagem inteira comendo pão com cream cheese.

Na minha segunda e última noite no Cat's, planejei ficar mais tranqüilo, não exagerar na bebedeira, tomar minha gemada e dormir cedo, porque meu trem pra Barcelona partia às seis e vinte da matina. No entanto, acabei saindo pra dar uma volta com uma turma brasileira e um madrilenho mala, que encheu a cara de sangria e ficava tentando dar as direções em inglês ("Left... I mean, right... I mean..."), e fui dormir tarde do mesmo jeito.

Confiei no alarme do relógio vagabundo que eu comprara por dérreal no Shopping Tupinambás, que evidentemente não funcionou, e quando abri os olhos eram cinco e trinta e seis. Saí correndo pela rua, zonzo de sono, e só quando já estava dentro do trem é que percebi que tinha deixado pra trás as luvas emprestadas da minha tia. Melhor pra ela, que na volta ganhou luvas novas de Paris.



As placas das ruas no centro histórico de Madrid têm sempre esse design interessante, 9 azulejos e uma ilustração alusiva. Se fosse em BH, finalmente descobriríamos quem diabos foi Raja Gabaglia.



Cavalos e carruagens debaixo de chuva (tá bom, chuvisco) na Plaza Mayor.



E não se fala mais nisso!



Pichação na parede do Real Monasterio Santa Isabel Agustinas Recoletas.



Ela é uma vaaaaaaca...

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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