04/04/2005

Absurdos na terra do frango xadrez



Um dos motivos pelo qual eu gostei muito de Kill Bill, agora percebo, foi o fato de ser uma sátira às absurdas peripécias acrobáticas típicas dos filmes orientais. Não consigo engolir muito esse tipo de coisa. É legal, até. Aliás, quando vi O Tigre e o Dragão, quando uma cena de luta acabava eu torcia pra outra começar. Kill Bill faz piada de tudo isso, em cenas como a Uma Thurman decepando os 88 neguinhos (volume um) e no treinamento com o Pai Mei (volume dois). Hoje fui ver Herói, um dos filmes dessa nova safra de importados orientais que tá pintando por aí.

(Pausa para informação essencial: pessoal, Herói não é um filme do Tarantino. O Tarantino não tem nada a ver com a produção. Simplesmente assistiu o filme na Ásia e sugeriu aos produtores que usassem seu nome para promovê-lo no mercado ocidental, daí o "Quentin Tarantino apresenta..." no cartaz. Titio Quentin é mestre da picaretagem. Não bastasse ter dividido seu último filme em dois pra ganhar mais uns trocados, ainda anunciou que pretende fazer o mesmo com o próximo. Eita...)

Voltando ao Herói. Sabe, o filme é até bacana. Tem uma fotografia belíssima, direção de arte competente, e as cenas de luta são divertidas de se ver. E engraçadas, sem dúvida. Não tem como não rir quando os personagens quicam na água ou planam pelo cenário. Eles fazem mais do que desafiar as leis da física. É como se cuspissem na cara do Isaac Newton e dissessem: "Você está ultrapassado, meu caro, o lance hoje é rodopiar mil vezes pelo ar antes de furar alguém".

Mas chega uma hora que cansa. As frases de efeito ditas a toda hora por todo mundo não ajudam muito a construir uma situação, digamos, próxima da realidade. Pode reparar, nesses filmes de olhos puxados todo mundo é filósofo. Até o ajudante do pedreiro que construiu a Grande Muralha tem alguma pérola da sabedoria para oferecer ao público. Há quem goste, claro, mas não é pra mim. Sou mais os diálogos e atuações realistas de um Antes do Pôr-do-Sol, a sacação divertida de um Kill Bill, as frases de efeito de um Exterminador do Futuro 2 ou mesmo as músicas de um Rei Leão. Isso é viver, é aprender.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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