Mais pop do que nunca
Karol Wojtyla morreu. Talvez já tivesse batido as santas botas há alguns dias e a turma do Vaticano fingisse que não, como no clássico sessão-tardino Um Morto Muito Louco. Mas hoje, 2 de abril de 2005, às 16h37, horário de Brasília, anunciaram, oficialmente, que o sumo pontífice se foi. Esperem pelas próximas semanas um Globo Repórter especial do papa, trocentas piadinhas no Kibe Loco e um tempão de especulação sobre o próximo sucessor de São Pedro até a fumaça branca dar o ar de sua graça na praça que leva o nome do primeiro papa da História.
Li na Super Interessante de março uma reportagem sobre a vida de João Paulo II, e o fato que mais me impressionou não foram as conspirações políticas para a derrubada do comunismo, nem certas atitudes estranhas tomadas por ele, como visitar a África, um continente completamente devastado pela aids, e discursar contra a camisinha. O que mais me chamou a atenção foi o número de pessoas que ele canonizou. Em 26 anos de papado (palavra engraçada essa, papado), João Paulo botou no céu nada menos que 482 santos. Isso é mais do que todos os papas anteriores canonizaram em mais de trezentos anos. É santo à beça.
Certamente essa festa da uva divina deve arracetar alguns problemas. Por exemplo, qual será a ocupação desses novos santos? Temos São Pedro, que guarda a porta do céu, ao menos nas piadas. Temos São Jorge, que mora na Lua. Temos Santo Antônio, o casamenteiro, e São João, originador das festas juninas (sim, juninas não vem de junho, mas de joaninas, relativas a João). Temos o padroeiro dos agricultores, o padroeiro dos médicos, o padroeiro dos aviadores e até o padroeiro dos bêbados e boêmios, Santo Onofre. Mas e esses santos todos que João Paulo II criou?
- Ah, esse aí ajudava a pintar os vidros das igrejas, então bota aí: santo padroeiro dos pintores.
- Não dá, já tem o São Lucas nessa categoria.
- Então seja mais específico, coloca padroeiro dos pintores de vidros...
- Também não pode, o São James Grissinger já ocupou a função.
- Vixi, então coloca santo padroeiro dos pintores de vidros em igrejas e não se fala mais nisso.
Até achei um site interessantíssimo sobre santos padroeiros, e tentei achar um que fosse adequado pra mim. Ainda estou na dúvida. Tem a Santa Cecília, padroeira dos músicos, São Bernardino de Sena, padroeiro dos publicitários, São Pedro Nolasco, padroeiro dos universitários. Mas estou mais inclinado a virar devoto de São Mathurin, padroeiro dos palhaços. Ao menos o nariz vermelho já tenho, vive no porta-luvas do meu carro para qualquer emergência.
Esse número absurdo de santos (tem até o padroeiro do windsurf, me explica isso!) traz ao menos uma vantagem: ajudar as pessoas a ganhar um nome melhor. É que muita gente ainda escolhe o nome do pobre recém-nascido baseado no santo do dia. "Hoje é dia de Santa Escolástica, então você, minha filha querida, vai se chamar Escolástica". E a coitada vai odiar a hora da chamada pelo resto da vida. Mas com esse boom de santos proporcionados por João Paulo II, espera-se que isto diminua. "Hoje é dia de Santa Escolástica, Santa Águeda e Santa Jacinta Mariscotti", diz o pai, ainda indeciso. E a menina respira fundo, pensando com seus borbotões: "Por quê que eu não fui nascer numa família budista?..."
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