04/10/2006

Carcaça imunda e vil



O crítico Pablo Villaça, do Cinema em Cena, publicou hoje em seu blog:

Más notícias para todos nós: "Muito Gelo e Dois Dedos D'água" não é só o pior filme do ano; é o pior filme do século 21 até agora.

Declaração perigosa. Nunca confiei muito em filmes do Daniel Filho e não duvido que o roteiro de Fernanda Young possa ter patinado, mas daí a colocá-lo no posto de pior longa-metragem dos últimos 6 anos me parece exagero de calor do momento. Aliás, hoje mesmo ouvi comentários de que o filme é até bacana. A discrepância ímpar de opiniões, claro, só aguça a curiosidade. E, como Pablo apenas deu uma palhinha de seu desgosto mas ainda não publicou a crítica completa, só resta imaginar qual o motivo tão grave é capaz de tamanha repulsa - e se realmente é pra tanto.

Um disco ruim é relativamente fácil de se fazer: é só juntar um punhado de canções terríveis, estão aí sendo produzidas e lançadas às dúzias todos os dias. Pra que saia um livro ruim, basta um escritor sofrível e um editor sem senso crítico (não confundir com tino comercial). Mas um filme demanda tanto planejamento, tanta gente e tanto dinheiro que mesmo as bombas completas têm lá seu ponto positivo: um efeito especial convincente, uma sacada interessante perdida no meio do diálogo, uma boa idéia desperdiçada cuja essência ainda permanece. Sem falar no célebre limiar da ruindade, cujo mote "É tão ruim que é bom" garantiu o título de "cult" a centenas de pérolas trash.

Na verdade, os filmes realmente ruins são os que não conseguem atravessar esse limiar e ficam ali no meio termo. É a comédia sem sal, o terror que não gera medo nem humor involuntário, o "difícil entendimento" usado como desculpa para a inabilidade do diretor em transformar suas pretensões em algo palatável. A pior laia talvez seja a dos aproveitadores do sucesso de outrém, sendo "Esqueceram de Mim 4" o exemplo mais emblemático. Não satisfeitos com a parte 3, que usava o peso do nome "Home Alone" pra contar a história de um menino com catapora (!!), resolveram vilipendiar o legado da família McCallister e puseram os personagens dos dois primeiros filmes nas mãos de um elenco insosso - e ainda tiveram a insolência de reunir tudo depois num box único de DVDs, como se Joe "Harry" Pesci e John "Polka Polka" Candy tivessem algo a ver com aquela palhaçada. Pra suportar, talvez só mesmo um cachorro engarrafado, com muito gelo e uns dois dedos d'água.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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