España? No! Catalunya!
Barcelona, Espanha (digo, Catalunha)
24 a 26 de janeiro de 2007
Em Barcelona, não ouse chamar os nativos de espanhóis. Teve uma menina que conheci num pub crawl em Berlim, perguntei de onde vinha e ela disse: "Barcelona", com aquele "c" sibilante, com a língua no céu da boca. "España!", bradei empolgado, mas ela foi veemente: "No! Catalunya!". Tanto que placas, anúncios e até as lixeiras do McDonald's vêm com textos em catalão, esse inusitado cruzamento de espanhol com francês e umas intromissões de italiano.
Turisticamente, Barcelona respira Gaudí, o arquiteto que assina os edifícios mais famosos da cidade e que morreu em 1926 atropelado por um bonde (!). É dele a Casa Battló, cuja fachada parece ser feita de ossos. É dele o Parc Güell, que demorei um tempão pra achar (isso é que dá pegar o metrô errado), onde mora o famoso lagarto de pedra que levou uma porrada de adolescentes punks apenas alguns dias depois que estive lá. É dele a Casa Milà, que também atende por La Pedrera, um prédio enorme que funciona como um museu sobre seu projetista, com audioguia incluído na visita e um andar mobiliado como um apartamento do início do século XX, bem bacana.
E é também de Gaudí, claro, a notória Sagrada Família, catedral que está em construção desde 1882 e que deve ficar pronta, se nada mais der errado, em 2026. É de se esperar que seja um grande canteiro de obras - como tem sido nos últimos cento e vinte e sete anos. Mas isso não tira o fascínio de se admirar as fachadas prontas, a beleza de ver a cidade de cima de uma das torres ou o cansaço de ter que descer depois a estreita escadaria (não tem outra opção, o elevador só sobe mesmo). A Sagrada Família também foi um dos poucos pontos turísticos em toda minha viagem que tinha folhetos explicativos em língua portuguesa. O engraçado era que juntava português, finlandês, holandês, basco e mandarim, tudo no mesmo folder.
Para caminhar a esmo por Barcelona, o melhor é percorrer a pé as Ramblas - um imenso calçadão fechado para carros que desemboca perto do porto, cheio de homens-estátuas tentando ganhar o seu - ou se perder no Bairro Gótico, onde as ruas nunca chegam aonde se imagina. Acho que andei umas duas horas pra encontrar o Museu Picasso, que fica por ali e traz desde os desenhos do artista quando moleque até obras clássicas do cubismo, incluindo variações que ele fez do "Las Meninas" de Velásquez. Curioso que ainda hoje no Museu do Prado, em Madrid, fica cheio de copistas reproduzindo os quadros mais famosos, e o próprio Picasso já foi um deles antes da fama. Mais curioso ainda é o nome completo do pintor: Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso. Todo mundo zoa D. Pedro II, mas o nome de Pablito tinha apenas 2 letras a menos.
Acho que o meu erro em Barcelona foi ter escolhido um albergue muito pacato. Eu estava apenas na primeira semana de viagem: precisava era da alardeada farra do Kabul ou do Gothic Point, não do marasmo do Centric Point, apesar das instalações serem ótimas. Tinha café bacana, internet grátis, localização jóia (no meio do Passeig de Gràcia, do lado da Casa Battló). Mas em comparação com o Cat's, onde a cada minuto se conhecia alguém, no Centric Point o ambiente não era tão propício à socialização. No meu quarto, só apareceu gente na segunda noite. No salão onde os hóspedes se reuniam, ficavam todos assistindo televisão ou vidrados em seus próprios laptops.
No dia em que eu voltar a Barcelona, vai ser pra encher a cara. Quem sabe na festinha de inauguração da Sagrada Família?
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