22/02/2010

Fogos de artifício, massagistas cegos e obras

O ano do tigre já chegou há mais de uma semana e até hoje tem gente soltando fogos de artifício. Sério. Se você se impressiona com os vinte ou trinta minutos de fogos na virada do ano em Copacabana, não faz idéia do que rola no reveillón chinês. O foguetório começou alguns dias antes, e toda noite se escutava um bum aqui, um tatatatá ali. Tão logo o sol se pôs no dia treze, a pirotecnia se intensificou e em qualquer direção já se viam explosivos em combustão lançando luzes coloridas no horizonte. E não é que nem no Rio, onde barquinhos ancorados lá longe se encarregam da tarefa para evitar desastres. Em Beijing, cada família compra seus fogos em qualquer esquina e acende o pavio da janela de casa, que é pra espantar os maus espíritos dentro da residência. Pra andar na rua há que se ter cuidado, porque quando você assusta lá está uma criancinha com um foguete na mão, pronto para disparar – e não dá pra saber se o projétil se transformará em belas luzinhas enfeitando o ar ou virá em sua direção. Em locais mais afamados como o lago de Houhai, os fogos de artíficios queimaram ininterruptamente por horas e horas, antes e depois da meia-noite. É muito bonito, coisa e tal, mas uma semana disso, noite após noite, definitivamente cansa. Já os chineses não compartilham da mesma opinião e soltarão mais fogos daqui a pouco.

 
E quem limpa tudo depois? 

Beijing é tão deserta no ano-novo quanto Beagá no Carnaval. Foi muito estranho passar dias inteiros sem dificuldades para atravessar a rua nem empurra-empurra no metrô. Mas a debandada da população atinge também os estabelecimentos comerciais, e não só as lojas e restaurantes chineses não funcionaram, como até redes ocidentais – Starbucks, Subway – fecharam as portas por alguns dias. Você marca um jantar, todo mundo chega na hora certa e cadê o restaurante? Fechado até semana que vem. Pior é quando aproveitam o feriado pra reformar tudo: você entra em um café onde esteve há menos de quinze dias e tudo que encontra são escombros pós-apocalípticos. Ontem mesmo resolvi continuar as aventuras gastronômico-brasileiras em Beijing e almoçar no premiado Alameda, em Sanlitun. Chegando lá, mas que lasqueira: só tinha poeira. Depois a cidade ganha o apelido carinhoso de “canteiro de obras” e o pessoal reclama. 

 

Eu já tinha visto plaquinhas por aí e sempre me perguntava: é isso mesmo? Pois é sim: onde tem escrito “Blindman Massage”, é porque realmente todos os massagistas do lugar são deficientes visuais. O princípio é simples: desprovidos de um dos sentidos, eles se concentram muito mais no tato, guiando-se intuitivamente pelos pontos do corpo que carecem de uns apertões. Experimentei uma blind-massage esta semana pra ver (ops) como era, e foi satisfatório. É bem verdade que o meu massagista não era cego totalmente: aproximando o objeto bem perto dos olhos, conseguia checar a hora no celular e distinguir as cores das notas. Os outros todos eram cegos mesmo, atendendo às exigências. O preço é bem mais em conta que outros centros de massagem: 50 minutos saíram por 60 yuans (R$ 16). Mas é melhor preparar o mandarim: apontar o ombro ou o pescoço e dizer “é aqui que dói” não vai adiantar muito. 

 
Que “cdmforpble” é “comfortable” é fácil deduzir, mas custei a sacar que “bund massage” não tinha nada a ver com os fundilhos, e sim com a “blind massage” aplicada pelos ceguinhos. Será que foi um dos massagistas quem escreveu?

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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