Camelando no deserto
Dia 3 – Segunda-feira, 3 de maio de 2010
06:30
Já estou de pé, ávido por mais um dia de incríveis aventuras e altas confusões. Na verdade, foi porque o guia avisou que sairíamos às 7 em ponto para tomar café fora do hotel, e o trouxa aqui acreditou.
07:51
Depois de uma hora aguardando, finalmente todos se encontram no saguão – os italianos, os coreanos e o guia, morto de sono – e podemos tomar nossa refeição matinal. Entramos no ônibus e o motô dirige por três ou quatro minutos até o destino final. Tanta espera para chegar a uma lanchonete aonde poderíamos ter ido a pé.
O café da manhã é bonzinho e inclui biscoitos salgados que lembram churros e os onipresentes ovos cozidos. Mas o destaque vai para o móbile natalino, repleto de Papais Noéis, pendendo do teto. Estamos em maio, cambada!
"Então não é Natal..."
08:34
Deixamos Baotou pra trás. Deserto, aí vamos nós.
09:40
O deserto de Kubuqi é o sétimo maior da China (são quantos, afinal?) e, como cabe a um bom deserto, é grande à beça. E assim como delimitaram pedaços das estepes mongóis, deram nome e abriram para visitação, aqui fecharam um trecho e batizaram com o dramático nome de Desfiladeiro da Areia Ressonante. São 400 metros de largura e dunas que chegam a uma altura de 110 metros. A referência à "areia ressonante" vem porque, segundo a lenda, se você descer as dunas escorregando e com as mãos na areia, consegue ouvir o som dela "cantando".
Propaganda de água no deserto: é só mostrar o produto que já virou sucesso de vendas.
Quando chegamos, no entanto, não vemos nada disso. Só a areia ao longe, de perder de vista. Descemos no estacionamento e precisamos escolher: ou subimos as tais dunas a pé até chegar ao topo, ou compramos o bilhete para o teleférico. Somos todos um bando de preguiçosos e escolhemos o teleférico.
Quer subir a pé? Vai que eu tô te vendo.
09:55
Exploração não tem limites: o ônibus para chegar ao teleférico custa 5 yuans e percorre no máximo, no máximo, quinhentos metros. Só pra comparar, em Beijing você consegue cruzar a cidade de busão pagando 1 ou 2 yuans. O teleférico, apesar de caro, cumpre seu propósito de te (e)levar às dunas altas do Desfiladeiro enquanto proporciona a sensação de poder despencar a qualquer momento.
"Um dois três ..."
Cadeiras flutuando sobre o deserto.
"Ô Wang! Me liga daqui a cinco minutos, que eu tô voando!"
Sai de baixo, fia!!
10:05
Você já andou de tênis naquela areinha fina de Cabo Frio? No deserto não é muito diferente: a primeira pisada já enche sua meia de areia, que entra nos cantos das unhas e nas dobras dos artelhos. Quando você sai do teleférico, convenientemente te oferecem o aluguel de pantufas coloridas gigantes, que na verdade são pedaços de pano que você amarra nos pés. Claro que você tem a opção de andar descalço, mas quem resiste a pantufas coloridas gigantes?
Mãe e filho bunitos na foto.
Pode não parecer, mas essa escada de madeira e corda são uma mão na roda e tanto na hora de andar no deserto.
10:15
É chegada a hora do camelo. O passeio dura meia hora e os ungulados artiodáctilos se revelam surpreendentemente mais confortáveis que os cavalos, talvez pela velocidade reduzida (eles são puxados por guias que vão a pé), talvez pelo assento natural formado pelo vale entre as duas corcovas.
12:30
Depois de um tempo andando pelo deserto a esmo, pegamos o teleférico de volta para o estacionamento e fazemos nossa última refeição em terras mongóis. O buffet é self-service (coisa rara aqui na China), mas o menu não traz inovações em relação às refeições anteriores. Carne de bode: não foi dessa vez.
E os únicos cactos que eu vi no deserto foram essa dupla o-gordo-e-o-magro incrivelmente falsa, enfeitando a fachada deste hotel.
13:30
Entramos no ônibus. Segundo o guia, serão 6 horas até Beijing, "mas é possível que seja um pouco mais, já que é fim de feriado e pode haver engarrafamentos".
19:37
Começa a chover, o ônibus vai reduzindo a velocidade gradualmente até que pára. A estimativa do guia mostrou-se uma bela furada. Já se passaram 6 horas e estamos a nada menos que 200 quilômetros de distância de Beijing. A imensa fila de caminhões à frente não transmite muita esperança.
20:13
Estamos completamente parados há quase meia hora. O sol já se pôs e caminhões enormes tomam conta da pista até onde a vista alcança. Até vendedores ambulantes aparecem, vendendo arroz e macarrão no meio da estrada.
Camelô que é camelô não perde nenhuma oportunidade, já diria Sílvio Santos.
Finalmente, o trânsito começa a andar, mas agora temos que esperar um casal de coreanos que correu até o posto de gasolina mais próximo para usar o banheiro ou dar uma rapidinha, não se sabe ao certo.
20:20
Os coreanos apareceram, mas o diabo do trânsito parou de novo. Parece que agora é pra valer. Motoristas desligam motores, faróis e esperam. Sem entender o motivo de um tráfego tão intenso que imobiliza quilômetros de veículos, nós esperamos também.
22:30
Tomo um Dramin pra ver se consigo dormir nesse ônibus desconfortável. As horas seguintes são de um sono picado, com o pescoço doendo de tanto sentar, sem nenhum sinal de movimento e uma certeza crescente de que vamos ficar ali pra sempre.
No próximo post: saiba quanto tempo durou a viagem de volta e veja uma porção de fotos que não entraram nos posts anteriores!