28/05/2010

Camelando no deserto

 
 

Dia 3 – Segunda-feira, 3 de maio de 2010 

06:30 
Já estou de pé, ávido por mais um dia de incríveis aventuras e altas confusões. Na verdade, foi porque o guia avisou que sairíamos às 7 em ponto para tomar café fora do hotel, e o trouxa aqui acreditou. 

07:51 
Depois de uma hora aguardando, finalmente todos se encontram no saguão – os italianos, os coreanos e o guia, morto de sono – e podemos tomar nossa refeição matinal. Entramos no ônibus e o motô dirige por três ou quatro minutos até o destino final. Tanta espera para chegar a uma lanchonete aonde poderíamos ter ido a pé. 

O café da manhã é bonzinho e inclui biscoitos salgados que lembram churros e os onipresentes ovos cozidos. Mas o destaque vai para o móbile natalino, repleto de Papais Noéis, pendendo do teto. Estamos em maio, cambada! 

 
"Então não é Natal..." 

08:34 
Deixamos Baotou pra trás. Deserto, aí vamos nós. 

09:40 
O deserto de Kubuqi é o sétimo maior da China (são quantos, afinal?) e, como cabe a um bom deserto, é grande à beça. E assim como delimitaram pedaços das estepes mongóis, deram nome e abriram para visitação, aqui fecharam um trecho e batizaram com o dramático nome de Desfiladeiro da Areia Ressonante. São 400 metros de largura e dunas que chegam a uma altura de 110 metros. A referência à "areia ressonante" vem porque, segundo a lenda, se você descer as dunas escorregando e com as mãos na areia, consegue ouvir o som dela "cantando". 

 
Propaganda de água no deserto: é só mostrar o produto que já virou sucesso de vendas. 

Quando chegamos, no entanto, não vemos nada disso. Só a areia ao longe, de perder de vista. Descemos no estacionamento e precisamos escolher: ou subimos as tais dunas a pé até chegar ao topo, ou compramos o bilhete para o teleférico. Somos todos um bando de preguiçosos e escolhemos o teleférico. 

 
Quer subir a pé? Vai que eu tô te vendo. 

09:55 
Exploração não tem limites: o ônibus para chegar ao teleférico custa 5 yuans e percorre no máximo, no máximo, quinhentos metros. Só pra comparar, em Beijing você consegue cruzar a cidade de busão pagando 1 ou 2 yuans. O teleférico, apesar de caro, cumpre seu propósito de te (e)levar às dunas altas do Desfiladeiro enquanto proporciona a sensação de poder despencar a qualquer momento. 

 
"Um dois três ..." 


 
Cadeiras flutuando sobre o deserto. 

 
"Ô Wang! Me liga daqui a cinco minutos, que eu tô voando!" 

 Sai de baixo, fia!! 

10:05 
Você já andou de tênis naquela areinha fina de Cabo Frio? No deserto não é muito diferente: a primeira pisada já enche sua meia de areia, que entra nos cantos das unhas e nas dobras dos artelhos. Quando você sai do teleférico, convenientemente te oferecem o aluguel de pantufas coloridas gigantes, que na verdade são pedaços de pano que você amarra nos pés. Claro que você tem a opção de andar descalço, mas quem resiste a pantufas coloridas gigantes? 

 
Mãe e filho bunitos na foto. 

 
Pode não parecer, mas essa escada de madeira e corda são uma mão na roda e tanto na hora de andar no deserto. 

10:15 
É chegada a hora do camelo. O passeio dura meia hora e os ungulados artiodáctilos se revelam surpreendentemente mais confortáveis que os cavalos, talvez pela velocidade reduzida (eles são puxados por guias que vão a pé), talvez pelo assento natural formado pelo vale entre as duas corcovas.

 
 
 
 
 

12:30 
Depois de um tempo andando pelo deserto a esmo, pegamos o teleférico de volta para o estacionamento e fazemos nossa última refeição em terras mongóis. O buffet é self-service (coisa rara aqui na China), mas o menu não traz inovações em relação às refeições anteriores. Carne de bode: não foi dessa vez. 

 
E os únicos cactos que eu vi no deserto foram essa dupla o-gordo-e-o-magro incrivelmente falsa, enfeitando a fachada deste hotel. 

13:30 
Entramos no ônibus. Segundo o guia, serão 6 horas até Beijing, "mas é possível que seja um pouco mais, já que é fim de feriado e pode haver engarrafamentos". 

19:37 
Começa a chover, o ônibus vai reduzindo a velocidade gradualmente até que pára. A estimativa do guia mostrou-se uma bela furada. Já se passaram 6 horas e estamos a nada menos que 200 quilômetros de distância de Beijing. A imensa fila de caminhões à frente não transmite muita esperança. 

20:13 
Estamos completamente parados há quase meia hora. O sol já se pôs e caminhões enormes tomam conta da pista até onde a vista alcança. Até vendedores ambulantes aparecem, vendendo arroz e macarrão no meio da estrada. 

 
Camelô que é camelô não perde nenhuma oportunidade, já diria Sílvio Santos. 

Finalmente, o trânsito começa a andar, mas agora temos que esperar um casal de coreanos que correu até o posto de gasolina mais próximo para usar o banheiro ou dar uma rapidinha, não se sabe ao certo. 

20:20 
Os coreanos apareceram, mas o diabo do trânsito parou de novo. Parece que agora é pra valer. Motoristas desligam motores, faróis e esperam. Sem entender o motivo de um tráfego tão intenso que imobiliza quilômetros de veículos, nós esperamos também. 

22:30 
Tomo um Dramin pra ver se consigo dormir nesse ônibus desconfortável. As horas seguintes são de um sono picado, com o pescoço doendo de tanto sentar, sem nenhum sinal de movimento e uma certeza crescente de que vamos ficar ali pra sempre. 

No próximo post: saiba quanto tempo durou a viagem de volta e veja uma porção de fotos que não entraram nos posts anteriores! 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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