31/12/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 47 (e final!)

Ufa! Foram 235 filmes comentados em 47 posts, mas cumpri minha promessa de escrever breves comentários sobre todos os longas vistos em 2012. O público-alvo sou basicamente eu mesmo daqui a um tempo, quando quiser relembrar o que achei de determinado filme; tanto que divulguei pouquíssimo nos Facebooks da vida e nem sei se alguém leu. Agora chega: o que eu escrever sobre cinema em 2013 será publicado em textos maiores no Cinema de Buteco, sem esse meu compromisso de comentar absolutamente todos.

Aqui vão os cinco últimos filmes que vi em dois mil e dôuze:


2010: O ANO EM QUE FAREMOS CONTATO (2010, EUA, 1984, dir. Peter Hyams)
A galera que reclama dessa onde de remakes e seqüências não precisa se preocupar: eles sempre existiram, são lembrados quando bons e sumariamente esquecidos quando não prestam. Enquanto 2001: Uma Odisséia no Espaço é top 10 da Sight & Sound, quem é que se lembra hoje em dia de 2010: O Ano em que Faremos Contato? Pra ser justo, 2010 é uma ficção científica que tem bons momentos (o engenheiro obrigado a virar astronauta, a tensão de uma manobra espacial jamais tentada) e é muito mais fácil de entender do que 2001. Mas essa última característica é justamente a sua ruína: é um filme que não sabe quando calar a boca. Tudo é explicado tintim por tintim através de diálogos, narrações em off, mensagens escritas em telas de computador. Cenas que se beneficiariam da "mudez" do original, como o interessante (embora absurdo) final, são estragados pelo falatório, e os mistérios de 2001 são mastigados e explicados como um guia de estudo: descobrimos até porque HAL 9000 ficou doidão. (Sugestão para um terceiro filme: um improvável romance entre HAL e SAL 9000, a "computadora" que aparece aqui.) E enquanto 2001 era um filme à frente de seu tempo e continua à frente até do nosso, 2010 tem uma cara datada de anos 80, com toda aquela história de Guerra Fria e Roy Scheider como protagonista. Nota 2/5


STANLEY KUBRICK A LIFE IN PICTURES (EUA, 2001, dir. Jan Harlan)
Documentário narrado por Tom Cruise e lançado dois anos após a morte de Kubrick, A Life in Pictures exalta todas as genialidades do diretor no que diz respeito à sua obra, mas não o glorifica como pessoa: está lá a Shelley Duvall dizendo o quanto sofreu durante O Iluminado, Malcom McDowell contando que ele nunca mais o telefonou e até a própria filha de Kubrick falando que o pai era uma pessoa difícil. É uma pena que haja tão pouco material em vídeo com o próprio Stanley Kubrick – e seria complicado para os documentaristas arranjarem isso com ele morto –, mas A Life in Pictures faz um ótimo trabalho em retratar o diretor a partir de todos os fragmentos pessoais e cinematográficos que ele deixou. Nota 4/5


REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL (Rebecca, EUA, 1940, dir. Alfred Hitchcock)
Um dos raros filmes de Hitchcock que (durante sua maior parte) não envolve uma trama policial, Rebecca tem mesmo assim uma morta assombrando os vivos, embora não no sentido literal: é a memória da personagem-título, tão forte entre os que se lembram dela, que oprime a nova Mrs. de Winter (Joan Fontaine, com um adequado ar ingênuo). Algumas opções estilísticas não envelheceram muito bem, com a trilha melodramática sempre presente e algumas atuações meio teatrais, mas é um ótimo Hitchcock onde o suspense demora um pouco pra aparecer e segredos surgem nas figuras de quem você menos espera. Nota 4/5


DONNIE DARKO (EUA, 2001, dir. Richard Kelly)
Não é difícil entender por que Donnie Darko virou cult: misterioso, onírico, cheio de conceitos intrigantes que dão margem a diversas teorias e um protagonista que personifica muitos sentimentos de outsider compartilhados pelos jovens. A trama de viagem no tempo não é assim tão difícil de entender, mas a sensação é de que o então estreante Richard Kelly tinha uma porção de idéias e quis usar tudo-ao-mesmo-tempo-agora, ignorando as pontas soltas. Não estou cobrando uma explicação de mão beijada sobre certos detalhes do filme, mas – já que Kelly aparentemente explica bastante nos comentários do DVD e na versão do diretor (a que eu vi é a do cinema) –, seria bacana se pudéssemos montar o quebra-cabeça sozinhos, sem precisar de um manual. Nota 3/5


A.I. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (A.I. Artificial Intelligence, EUA, 2001, dir. Steven Spielberg)
O polêmico filme de Spielberg é daqueles que pode não agradar da primeira vez, mas vale revisitar. As idéias que propõe sobre inteligência artificial, amor, desejo e livre arbítrio são bem interessantes, Haley Joel Osment está excelente como o pequeno robô e Spielberg não economiza em imaginação (e orçamento) na hora de criar seu mundo futurista: tem uma infinidade de modelos robóticos, Nova York submersa, Mechas superavançados – não, eles não eram aliens, e já faziam parte da versão original proposta pelo Kubrick (essa história de que há "o final do Kubrick" e o "final do Spielberg" é uma injustiça que o próprio Spielberg já se encarregou de esclarecer). Não é um filme perfeito, mas está longe de ser a porcaria que pintam por aí. Nota 4/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 46

Especial Kubrick...


A MORTE PASSOU POR PERTO (Killer's Kiss, EUA, 1955, dir. Stanley Kubrick)
Kubrick retorna ao universo do boxe depois de seu primeiro curta, o documentário Day of the Fight. Este segundo longa tem uma estrutura estranha, com flashbacks dentro de flashbacks; o romance entre o boxeador e a garota acontece rápido demais e a história só engrena no final. Mas também tem seus momentos interessantes, como a desajeitada luta final em um depósito de manequins, e uma seqüência de sonho pelas ruas de Nova York que lembra bastante a viagem bizarra do astronauta no final de 2001. Nota 3/5


O GRANDE GOLPE (The Killing, EUA, 1956, dir. Stanley Kubrick)
Após dois longas medianos, este é o primeiro filme realmente ótimo de Kubrick. É um filme de assalto em que é fácil entender quem é quem, qual é o plano e o que acontece a cada momento, apesar das inúmeras reviravoltas e saltos temporais. Bom, a narração explicativa ajuda bastante, ainda que seja um recurso "fácil" demais (que já tinha sido usado nos filmes anteriores de Kubrick e também apareceria em vários outros no futuro). O assalto pode até dar certo, mas o que acontece depois disso com os bandidos é quase de partir o coração... Nota 5/5


SPARTACUS (EUA, 1960, dir. Stanley Kubrick)
Muito mais um filme de Kirk Douglas do que de Stanley Kubrick, Spartacus é, não obstante, um épico de primeira, com a trajetória trágica de seu protagonista, várias cenas memoráveis (gosto particularmente daquelas na escola de gladiadores, como os exercícios e as tintas usadas pelo "professor" para mostrar onde acertar – vermelho, mata na hora; azul, aleija; amarelo, mata lentamente...) e uma cena de batalha que impressiona ainda hoje. A música não precisava estar presente o tempo inteiro e o tom às vezes fica meio meloso nas cenas entre Spartacus e sua amada Virinia, mas isso faz parte do gênero e vou até relevar. Nota 5/5


BARRY LYNDON (Reino Unido/EUA, 1975, dir. Stanley Kubrick)
Um filme pouco visto de Kubrick, feito entre os ultraconhecidos Laranja Mecânica e O Iluminado, Barry Lyndon é geralmente elogiado pela bela fotografia que utiliza apenas luz natural e criticado pela falta de emoção. O que é estranho, já que as obras de Kubrick sempre foram conhecidas por serem muito mais cerebrais, e nem por isso deixam de ser grandes filmes. Em defesa de Barry Lyndon, há sim vários momentos humanos, como a cena em que o protagonista conta uma história para seu filho (e o narrador, que dá spoiler o tempo inteiro sobre o que vai acontecer, não atrapalha a história, que não depende do suspense para funcionar). Longo (três horas), mas nunca monótono como dizem os detratores, Barry Lyndon narra com calma a ascensão e queda de seu personagem-título, contando com o estilo particular do diretor (que enche de zoom-outs um filme de época), duelos absurdos e um epílogo ótimo de apenas uma frase. Nota 5/5


LARANJA MECÂNICA (A Clockwork Orange, Reino Unido/EUA, 1971, dir. Stanley Kubrick)
Um dos melhores de Kubrick (de uma filmografia excepcional), Laranja Mecânica pode não ter agradado o autor do livro, mas é quase unanimemente um filmaço. Alguns podem se assustar com a "dose de ultraviolência", mas é curioso que odiemos Alex DeLarge na primeira metade do filme e fiquemos quase com pena na segunda. A trilha beethoviana, a direção de arte detalhista e o vocabulário muito particular de DeLarge e seus amigos (ou "droogs") completam o pacote. Nota 5/5

19/12/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 45


SEVEN UP! (Reino Unido, 1964, dir. Paul Almond)
Primeiro de diversos documentários da série "Up" (não, não tem nada a ver com a animação da Pixar), Seven Up! reúne 14 crianças inglesas de diversos círculos sociais, todas com 7 anos de idade, para conhecer o seu cotidiano e entender seu pensamento. Este primeiro episódio é o mais curto (40 minutos) e o único em preto e branco. Com tantos protagonistas, ainda é difícil entender quem é quem, embora alguns se sobressaiam. É legal ver o que moleques de 7 anos pensam (ou pensavam nos anos 70): um deles comenta que os Beatles são muito barulhentos, outros fazem declarações racistas, uma garotinha gostaria de ter 4 filhos, dois garotos querem ser astronautas. Acho que vai ficar ainda mais interessante nos próximos filmes, quando começarem a justapor as imagens antigas das crianças com os jovens e adultos que se tornarão. Nota 4/5


7 PLUS SEVEN (Reino Unido, 1970, dir. Michael Apted)
Agora vemos como estão as mesmas crianças, já adolescentes, sete anos depois de Seven Up!. O menino que queria ser jóquei está treinando diariamente para isso, enquanto outros (como os ex-futuros astronautas) mudaram completamente de idéia. Eu gostaria de ver mais de seu cotidiano e muitas vezes é bem difícil entender o que estão falando sem legendas, mas é bacana ver essas pessoas "tomando forma", sabendo que vamos reencontrá-las ao longo de suas vidas. Nota 4/5


O PROFISSIONAL (Leon, França, 1994, dir. Luc Besson)
Eficiente como thriller de ação – quando Léon faz ao jus à alcunha de "profissional" – e como um improvável romance/drama de relacionamento entre Jean Reno e uma Natalie Portman que tinha apenas 12 anos. Gary Oldman também é um grande destaque, com suas caras e bocas e seu icônico grito de "E-VERY-ONE!!". Nota 4/5


WOODY ALLEN: A DOCUMENTARY (EUA, 2012, dir. Robert B. Weide)
Documentário de quase 3h30 sobre a carreira de Woody, bem estruturado e contando com vários depoimentos do próprio. A primeira parte narra a infância e o início da carreira, depois fala sobre cada filme do diretor até Memórias (1980). As inovações gráficas para mostrar textos, fotos e vídeos são criativas, mas também distrações desnecessárias. A segunda parte é mais livre e menos cronológica: há muita coisa sobre o processo criativo e o estilo de direção de Woody, com muitos depoimentos de atores famosos e curiosidades como os recados que ele mandou para esses atores e a famosa gaveta com idéias mil. Eles não se importam em não mencionar vários filmes (principalmente dos últimos 20 anos), mas tampouco fogem de assuntos mais cabeludos como a questão Mia Farrow/Soon-Yi. Ótima pedida para os fãs do cara, como eu. Nota 4/5


MEDO E DESEJO (Fear and Desire, EUA, 1953, dir. Stanley Kubrick)
Primeiro longa de Kubrick, feito com pouquíssima grana quando ele tinha vinte e poucos anos. Nota-se que não é um filme profissional, com algumas atuações exageradas (como o jovem soldado que fica louco) e um roteiro meio truncado. Mas é um esforço interessante de um jovem diretor, com diálogos interessantes e fotografia competente – embora eu recomende mesmo só para cinéfilos e kubrickianos. Kubrick voltaria à guerra várias vezes depois, e é bacana comparar sua estréia ainda "verde" com grandes filmes como Glória Feita de Sangue e Nascido Para Matar. Nota 3/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 44


ESPOSAS EM CONFLITO (The Stepford Wives, EUA, 1975, dir. Bryan Forbes)
As semelhanças com O Bebê de Rosemary – a família que se muda para um novo lugar, os estranhos novos vizinhos, o marido envolvido em algo misterioso, a paranóia da protagonista que se revela verdadeira... – não são por acaso: Esposas em Conflito é baseado em um livro do mesmo Ira Levin que escreveu o clássico de Roman Polanski. Este aqui não é uma obra-prima, mas é um suspense eficiente com um roteiro que planta várias pistas antes de virar sci-fi no final. Nota 4/5


MARIDOS E ESPOSAS (Husbands and Wives, EUA, 1992, dir. Woody Allen)
No excelente livro Conversas com Woody Allen, Woody explica porque filmou Maridos e Esposas com a câmera na mão e cheio de cortes bruscos: "Porque sou preguiçoso. Eu queria fazer um filme em que não tivéssemos que esperar. Tínhamos uma câmera na mão e só usamos isso. Eu corto quando quero cortar e introduzo algo que queira. Não me importava com a beleza da coisa. Fiz sem nenhuma sensação de fazer um filme com propriedade". Seja como for, o estilo "preguiçoso" contribui bastante para o ar documental – algo reforçado, claro, pelas entrevistas que surgem durante toda a projeção. E a separação do personagem de Woody com o de Mia Farrow e o envolvimento dele com uma garota muito mais jovem são bastante irônicos considerando o que aconteceu com Allen na vida real bem na época deste filme. Nota 4/5


AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, EUA, 2012, dir. Ang Lee)
Do prólogo criativo – que explora a origem do nome de Pi, o zoológico de seu pai e sua vida na Índia antes da viagem que mudaria sua vida – ao final que deixa as interpretações para o espectador, As Aventuras de Pi é todo ótimo. E precisa ser visto em 3D para se apreciar seqüências impressionantes, como a que mistura o fundo do mar e o espaço sideral, do jeito que elas merecem. Os diversos "Pis" (principalmente o adulto Irrfan Khan e o adolescente Suraj Sharma) fazem um trabalho tão consistente que nem notamos que o ator mudou, e os vários animais – a maioria, um CGI extremamente convincente – contribuem para fazer jus às aventuras do título (embora "Life" seja muito mais interessante do que "Aventuras"...). É um filme que enche os olhos e a cabeça, e um dos melhores do ano. Nota 5/5


PICKPOCKET - O BATEDOR DE CARTEIRAS (Pickpocket, França, 1959, dir. Robert Bresson)
Estranhei o estilo seco de Bresson, a narração que explica tudo e o desempenho teatral e duro dos estreantes Martin LaSalle e Marika Green, apesar das cenas eficazes que enfocam o "pickpocketing" e alguns questionamentos interessantes do protagonista. Pickpocket é um clássico bastante influente que, no entanto, não me cativou. Nota 3/5


2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (2001: A Space Odyssey, EUA/Reino Unido, 1968, dir. Stanley Kubrick)
2001 e eu sempre tivemos uma relação complicada. A primeira vez que vi, para a faculdade, lá pelos idos de 2003, achei meio chato e nem cheguei a terminar. Aluguei a fita, depois o DVD, e sempre dormia na primeira meia hora. Finalmente assisti de cabo a rabo no ano passado, gostei bastante da maior parte mas o final ainda era porra-louca demais pra mim. O filme continuou o mesmo, mas acho que eu mudei, porque desta vez agora tudo fluiu excepcionalmente bem. Encarar 2001 com paciência é imprescindível, e também ajudou bastante ter conhecido algumas teorias sobre os elementos mais misteriosos do filme, como o monólito paralelepipédico que aparece em diversas ocasiões. O ritmo lento faz parte da coisa e não poderia ser de outra forma; é fundamental para retratar a rotina dos nossos ancestrais, o balé espacial que envolve uma acoplagem, os detalhes minuciosos de uma viagem pelo espaço, o suspense da história com HAL 9000 (a parte mais "normal" do filme, com um dos vilões mais bacanas do cinema) e o psicodélico segmento final, que pode parecer coisa de doidão mas é aberto a várias interpretações interessantes. Fizemos as pazes, 2001. Espero um dia te reencontrar no cinema. Nota 5/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 43


007 - UM NOVO DIA PARA MORRER (Die Another Day, Reino Unido/EUA, 2002, dir. Lee Tamahori)
A meia hora inicial – aquela terrível música-tema da Madonna à parte – é bem promissora, com Bond capturado por norte-coreanos, mantido em cativeiro por 14 meses e recebendo esculacho da M depois de tudo o que passou. O que vem a seguir é tão ridículo que acaba divertindo: uma terapia de substituição de DNA (!!), um castelo de gelo, um satélite que emula a força do sol, os óculos com o videogame mais realista jamais criado, Bond surfando com um CGI que já não convencia ninguém quando o filme saiu e, claro, o infame carro invisível. Um Novo Dia Para Morrer é definitivamente um filme ruim, com poucas cenas realmente competentes (gosto do início e da luta de espadas), mas pelo menos não é tão genérico quanto O Mundo Não é o Bastante. Ser considerado o filme mais absurdo de Bond, considerando tudo o que veio antes, não é pra qualquer um. Nota 2/5


BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS, PARTE 1 (Batman: The Dark Knight Returns, Part 1, EUA, 2012, dir. Jay Oliva)
Mais uma animação extremamente fiel aos quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas – Parte 1 adapta os dois primeiros volumes da espetacular The Dark Knight Returns, de Frank Miller. É difícil errar quando o material original é uma das melhores HQs de todos os tempos, mas a equipe merece elogios pela trilha épica, o ótimo trabalho de voz (principalmente o líder dos Mutantes e o Batman de voz soturna dublado por Peter "Robocop" Weller) e tom adequadamente sombrio. O ritmo da história, com menos saltos temporais do que Batman – Ano Um, também ajuda bastante. A parte 2, com um Coringa dublado por Michael Emerson (o Ben Linus de Lost) e a antológica luta contra o Superman, promete. Nota 4/5


007 - CASSINO ROYALE (Casino Royale, Reino Unido/República Tcheca/EUA/Alemanha/Bahamas, 2006, dir. Martin Campbell)
O conceito de "James Bond Begins" fez muito bem à série, em especial neste primeiro filme com Daniel Craig. Cassino Royale traz um ar novo para elementos tradicionalíssimos (o tiro na câmera é integrado à narrativa, a obrigatória cena de perseguição é feita a pé, usando parkour), "reinsere" outros (Bond inventa o martini perfeito, veste smoking pela primeira vez, conhece seu "velho" chapa Felix Leiter) e elimina outros que tinham levado a franquia ao exagero absoluto (aqui não há vilões sobre-humanos – Le Chiffre, inclusive, tem asma – nem gadgets absurdos). Vesper é uma bond girl que reage com realismo à violência, e o destino de sua personagem molda a atitude de Bond em relação às mulheres. E Craig, feioso, bronco e nada classudo, é um Bond bem diferente de seus predecessores e igualmente digno, exibindo macheza e senso de humor (uma das melhores cenas de toda a série é a da tortura na cadeira). Filmaço. Nota 5/5


007 – QUANTUM OF SOLACE (Quantum of Solace, Reino Unido/EUA, 2008, dir. Marc Forster)
 A comparação com Cassino Royale é inevitável porque o próprio filme destaca isso, apresentando-se como a primeira seqüência de verdade em toda a série e seguindo de perto a história do anterior. É um bom entretenimento, com cenas de ação sólidas, um Bond bruto como Jason Bourne e uma justa homenagem a Goldfinger. Mas o vilão Greene não é lá muito interessante e nenhuma cena é particularmente memorável – vi pela primeira vez há menos de um ano e não me lembrava muito de nada. Nota 3/5

E assim termino minha Maratona Bond, que cobriu 22 filmes oficiais (mais um "bastardo") em cerca de 5 semanas. Faltou Skyfall, que só verei no cinema em janeiro, fazer o quê. Para encerrar, deixo aqui meu ranking particular, do melhor para o pior, incluindo o ano de lançamento e o ator por dentro do smoking. Como toda lista, ela pode mudar completamente em uma futura revisão, mas a de hoje ficou assim:

1.007 Contra Goldfinger (1964) – Connery
2.007 – Cassino Royale (2006) – Craig
3.Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967) – Connery
4.007 Contra o Satânico Dr. No (1962) – Connery
5.Moscou Contra 007 (1963) – Connery
6.007 Contra GoldenEye (1995) – Brosnan
7.007 – O Espião Que Me Amava (1977) – Moore
8.007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969) – Lazenby
9.007 – O Amanhã Nunca Morre (1997) – Brosnan
10.Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973) – Moore
11.007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974) – Moore
12.007 Contra o Foguete da Morte (1979) – Moore
13.007 Na Mira dos Assassinos (1987) – Dalton
14.007 Contra a Chantagem Atômica (1965) – Connery
15.007 Na Mira dos Assassinos (1985) – Moore
16.007 – Quantum of Solace (2008) – Craig
17.007 – Nunca Mais Outra Vez (1983) – Connery * não-oficial
18.007 Contra Octopussy (1983) – Moore
19.007 – Os Diamantes São Eternos (1971) – Connery
20.007 – Permissão Para Matar (1989) – Dalton
21.007 – Um Novo Dia Para Morrer (2003) – Brosnan
22.007 – Somente Para Seus Olhos (1981) – Moore
23.007 – O Mundo Não é o Bastante (1999) – Brosnan
24.Cassino Royale (1967) * não-oficial


DR. FANTÁSTICO OU COMO APRENDI A PARAR DE ME PREOCUPAR E AMAR A BOMBA (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, EUA/Reino Unido, 1964, dir. Stanley Kubrick)
Peter Sellers é o destaque óbvio, interpretando três personagens distintos – embora seu personagem-título não seja meu favorito; sou mais o presidente dos EUA, que liga para o premiê russo e avisa que um general louco “fez uma coisa engraçada”. Mas o restante do elenco também é jóia, como o general cheio de caras e bocas vivido por George C. Scott e o piloto-cowboy que “monta” a bomba atômica. Dr. Fantástico não é exatamente uma comédia “rá rá” de se gargalhar a cada cena, mas uma sátira nervosa e genial aos perigos reais que o mundo corria durante a Guerra Fria. Ótimo para rever nestes tempos de fim do mundo. Nota 5/5

07/12/2012

Vientiane, uma capital interiorana

 

O clima interiorano de Vientiane começa no aeroporto com jeitão de rodoviária. A área de espera das bagagens tem uma única esteira, onde as malas deslizam por alguns metros e param logo em seguida, sem percursos sinuosos automobilísticos. O check-in é manual: preenchem seu cartão de embarque com caneta bic, pesam sua mala nessas balanças de famárcia, amarram uma etiqueta desprovida de adesivos ou códigos de barra. O quadro com os horários de embarques e desembarques não poderia ser mais analógico, e os poucos vôos do dia são substituídos como quem atualiza o placar de um jogo de várzea. 

 

Não parece, mas esta é a maior e mais populosa cidade do Laos, e também a capital do país. Sua população de 200 mil é um punhadinho de gente se comparada às capitais de vizinhos como o Camboja (2 milhões em Phnom Pehn) e a Tailândia (6,5 milhões em Bancoc). O aeroporto fica a meros quatro quilômetros do centro da cidade, e o viajante com muita disposição pra pouca grana pode até caminhar de lá para o hotel. Táxis ou tuk-tuks são opções mais lógicas e ligeiras, embora o esquema de preço tabelado te obrigue a pagar mais do que deveria. Tudo bem, você está chegando em um país novo, tudo é festa, e o valor exorbitante – que não passa de uns 12 reais – vai ser das coisas mais caras em toda a viagem. 

Chegando na pousada, a primeira diferença cultural: tem que tirar o sapato pra entrar. Não no quarto, mas no saguão da pousada, mesmo – os calçados ficam na calçada. Na China é normal ficar descalço ao entrar na casa das pessoas (aqui em casa a gente adota esse hábito e tem até chinelos de pano pras visitas) mas no Laos isso era uma constante em vários outros lugares, incluindo hotéis, atrações turísticas e até algumas lojas. A meia acabava ficando preta de qualquer forma, porque poeira que é poeira chega em qualquer lugar, mas ignorar o protocolo e entrar de sola é desrespeito grave. 

 

Na primeira andança pela cidade, a constatação: é tudo ainda mais perto do que sugeria o mapa. O miolinho da cidade, onde estão os templos mais famosos, os restaurantes listados nos guias e a maioria dos hotéis, é coisa pra se conhecer em uma tarde descompromissada. Fica tudo do lá de cá do imponente rio Mekong – na outra margem já começa a Tailândia. O Mekong é o décimo segundo rio mais extenso do mundo e faz um tour por diversos países do Sudeste Asiático, incluindo China, Mianmar e Vietnã. Banhando tantas fronteiras, vira e mexe é palco de conflitos entre marinheiros briguentos de nações distintas, mas em Vientiane o Mekong é pacífico e só testemunha crianças praticando esquibunda, turistas comprando roupas e tralhas em feirinhas noturnas e muita gente bebendo Beerlao. 

   

A Beerlao é possivelmente a única marca de cerveja do Laos, encontrada em qualquer biboca e bem agradável. A versão comum tem 5% de álcool e custa por volta de 10.000 kip (não se assuste com os zeros, isso vale uns R$ 2,50). A Gold tem sabor parecido e um rótulo curiosamente prateado. Mas elegi como minha predileta a Beerlao Dark, 6,5%, mais encorpada e saborosa. A Beerlao é vendida em países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e China, mas acho complicado encontrá-la no Brasil, onde a maioria nem sabe que o Laos existe. 


E ainda dá pra improvisar pecinhas de dama tomando apenas 40 garrafas! 

Andar a esmo, experimentar a comida local e escolher um bom bar na beira do Mekong pra tomar Beerlao e ver o pôr-do-sol é basicamente o que tem pra se fazer em Vientiane, uma cidade aprazível mas sem atrativos muito especiais. Os templos budistas estão a cada esquina, mas a menos que você seja um templomaníaco ou não vá sair de Vientiane, é melhor deixar pra conhecê-los em uma cidade mais charmosa como Luang Prabang. Há também uma espécie de Arco do Triunfo chamado Patuxai, com quatro arcos ao invés de um e uma plaquinha que denigre a própria atração: "De perto, é ainda menos impressionante, como um monstro de concreto". Quanta franqueza. 

 

No último dia, já na traseira de um tuk-tuk, aproveitei para registrar em vídeo todo o trajeto do hotel, no centro da cidade, até o aeroporto. Com vocês, Vientiane em 33 segundos: 




Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

23/11/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 42


A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (Brasil, 2011, dir. Vinícius Coimbra)
Os diálogos são afiados e cheios de sacadas ótimas – claro, esta é uma adaptação fiel ao conto de Guimarães Rosa – e João Miguel é um ator que cresce cada vez mais no nosso cinema, completamente diferente em cada papel: aqui ele convence tanto como bandidão quanto homem bom. Há também boas participações (a melhor é a de Chico Anysio, em um de seus últimos papéis). O roteiro poderia ser melhor estruturado – a passagem do tempo não fica muito clara, a família só ganha uma cena avulsa envolvendo os filhos, Joãozinho Bem-Bem só aparece no terceiro ato; talvez porque tenha sido fiel demais à obra original? As cenas em câmera lenta e a trilha melosa também contribuem para o clima meio novelesco, o que é compreensível dada a experiência televisiva do diretor Vinícius Coimbra. Nota 3/5


O PALHAÇO (Brasil, 2011, dir. Selton Mello)
Me lembrou muito os filmes de Wes Anderson, não só pelos planos com tudo centralizado, mas pelo senso de humor bizarro, que às vezes causa estranheza e desconforto em vez de risadas. E esta era certamente a intenção de Selton Mello ao fazer um filme sobre um palhaço melancólico que pensa em desistir da profissão. A estrutura do roteiro também é estranha: os primeiros dois terços se ocupam da vida circense, apresentando um elenco de rostos e corpos únicos e várias participações bacanas (tem até Zé Bonitinho e Ferrugem); quando o conflito parece finalmente começar, o filme já está em seu terço final e acaba relativamente rápido – não sem antes nos mostrar suas melhores cenas. Nota 4/5


XINGU (Brasil, 2012, dir. Cao Hamburger)
Tirando a narração (que às vezes soa pouco natural e desnecessária) e alguns probleminhas com a passagem do tempo (os personagens não envelhecem e quando assustamos já se passaram décadas), gostei muito de Xingu desde as cenas iniciais (que mostram os irmãos Villas-Bôas se voluntariando para uma complicada expedição) até os planos finais (o close no índio, a revelação do piloto do avião). Tenso quando indígenas e homens brancos ainda se desconhecem, emocionante quando são aceitos e enraivecedor sempre que os jogos políticos ganham destaque, é uma história real bem contada e que infelizmente não fez o sucesso merecido no Brasil. Nota 4/5


TRABALHAR CANSA (Brasil, 2011, dir. Marco Dutra & Juliana Rojas)
Quando terminei de assistir, eu sabia que tinha gostado, mesmo que não soubesse exatamente o porquê. É um filme pequeno, independente e esquisito, que mistura drama familiar, comédia nervosa e terror, nem sempre provocando os resultados mais esperados desses gêneros. As atuações estão longe de excelentes, mas isso combina bastante com o aspecto derrotado dos personagens, cada um lidando com sua rotina enfadonha: a mulher cuidando de seu mercadinho cheio de problemas, o marido enfrentando ridículas dinâmicas de grupo para conseguir emprego, a empregada agüentando os pitacos da mãe da patroa. A ausência de trilha sonora contribui para aumentar a tensão e a sensação de vida real: todas as músicas vêm exclusivamente de dentro da narrativa. E o toque fantástico no final não soa avulso, com tantas pistas plantadas desde o início. É difícil prever quem vai gostar ou não de Trabalhar Cansa, mas indiferente pouca gente fica. Nota 4/5


007 - O MUNDO NÃO É O BASTANTE (The World Is Not Enough, Reino Unido/EUA, 1999, dir. Michael Apted)
Os filmes com Pierce Brosnan vão caindo a qualidade nitidamente: enquanto o anterior não desviava da fórmula mas pelo menos tinha seus bons momentos, em O Mundo Não é o Bastante não há nada particularmente memorável. Brosnan traz de volta os trocadilhos, Denise Richards não convence como física nuclear vestindo roupinha de Lara Croft e a única cena de ação mais interessante é a cena pré-créditos, envolvendo uma superlancha e um balão – porque depois temos a qüinquagésima perseguição com esquis e a tricentésima seqüência submarina. O seqüestro de M vale pelo ineditismo, mas não é capaz de salvar o filme da mesmice. Nota 2/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 41


007 - PERMISSÃO PARA MATAR (Licence to Kill, Reino Unido/EUA, 1989, dir. John Glen)
Talvez seja o filme mais sério de James Bond, já começando com tragédia: a esposa de Felix Leiter (agente da CIA presente em diversos filmes da série, sempre com um ator diferente) é assassinada, Leiter é mordido por tubarões e Bond vai atrás de vingança pessoal. É um bom começo e o filme flui bem até a metade, mas depois se torna bem desinteressante; as duas bond girls, péssimas atrizes, também não ajudam em nada. Eu gostei de Timothy Dalton como Bond, mas esse seu segundo e derradeiro filme deixou bastante a desejar. Nota 2/5


007 CONTRA GOLDENEYE (GoldenEye, Reino Unido/EUA, 1995, dir. Martin Campbell)
Vi só uma vez quando tinha 12 anos e me lembrava bem de vários momentos, como Bond pulando atrás de um avião sem piloto na cena pré-créditos e a caneta que explode com 3 cliques. Este é o melhor Bond em muitos, muitos anos, não só pelas cenas de ação (tem uma ótima perseguição na Rússia com Bond dirigindo um tanque de guerra) mas pelo próprio roteiro, que brinca com as tradições dos filmes anteriores (como as famosas senhas e contra-senhas usadas quando dois agentes se encontram e o flerte entre Bond e a Moneypenny dos anos 90, que insinua que as cantadas dele poderiam ser qualificadas como assédio sexual), introduz a interessante relação entre Bond e a primeira M mulher ("Acho você um sexista misógino, um dinossauro da Guerra Fria") e guarda a revelação do verdadeiro vilão para o momento apropriado. Nota 4/5


DETONA RALPH (Wreck-It Ralph, EUA, 2012, dir. Rich Moore)
Em seu conceito, Detona Ralph é o primo digital de Toy Story: quando o fliperama fecha, os personagens dos videogames transitam livremente entre os jogos. Já a história lembra mais Shrek, com a crise de identidade do personagem-título, que está cansado de ser vilão. Cheio de detalhes e referências a games antigos, é um barato descobrir dentro de que jogo os vilões se reúnem para sua terapia em grupo, ou saber o que acontece quando Ryu e Ken terminam de lutar. A estética dos videogames também é bem explorada: no universo 8 bits de "Fix-it Felix", os personagens têm movimentos quase robóticos e até os fluidos são pixelados; o de "Hero's Duty" é realista, violento e ultrabarulhento e contrasta bastante com o adocicado e willy-wonkiano "Sugar Rush". É nesse último que passamos mais tempo, talvez pela tentação da Disney de aumentar seu panteão de princesas, e fica a vontade de ver muitos outros mundos (jogos de luta, RPG, pinball, Tetris, GTA...) – mas provavelmente já estão pensando nisso para as seqüências. No mais, Ralph é um anti-vilão carismático, o roteiro é redondinho (embora dê pra notar alguns furos envolvendo o tilt de Vanellope) e o filme é muito bem-sucedido em emular a experiência de se jogar videogame. Foi mal, Valente, mas este ano a Disney foi melhor que a Pixar. Nota 4/5


007 - O AMANHÃ NUNCA MORRE (Tomorrow Never Dies, Reino Unido/EUA, 1997, dir. Roger Spottiswoode)
Se GoldenEye deu uma revigorada em James Bond ao subverter algumas tradições da série, este aqui segue à risca a velha fórmula. O vilão Elliot Carver, apesar de "atualizado" com a roupagem de chefão da mídia, poderia ser membro da antiga SPECTRE – não falta nem a reunião em que cada um apresenta seu relatório de maldades ("Como solicitado, o novo software está cheio de bugs e vai forçar os usuários a baixar atualizações por anos"). O Amanhã Nunca Morre acaba sendo um filme de ação competente (a melhor cena envolve um carro guiado por controle remoto), mas que nunca se arrisca ou vai além. Nota 3/5


HELENO (Brasil, 2011, dir. José Henrique Fonseca)
Rodrigo Santoro é a alma do filme, um canalha carismático nos anos de glória, fraco e irreconhecível no período de decadência – e as constantes idas e vindas temporais ajudam a ampliar esse contraste. Histórias de sucesso e autodestruição existem aos montes por aí (e a bela fotografia em preto e branco de Heleno reforça a lembrança de Touro Indomável), mas isso não tira o mérito deste competente e triste estudo de personagem. Nota 4/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 40

Chegando ao meu ducentésimo filme de Dois Mil e Dôuze!...


007 - NUNCA MAIS OUTRA VEZ (Never Say Never Again, Reino Unido/EUA/Alemanha Ocidental, 1983, dir. Irvin Kershner)
Um James Bond não-oficial lançado no mesmo ano que Octopussy, o grande trunfo de Nunca Mais Outra Vez é ter Sean Connery de volta, ainda que visivelmente mais velho, apenas 6 anos antes de viver Papai Jones em A Última Cruzada. (O engraçado é que, mesmo assim, Connery era mais novo que Roger Moore, o Bond oficial.) Por outro lado, perde pontos por ser um remake de 007 Contra a Chantagem Atômica, justamente um dos mais fracos do Bond Connery. Há bons momentos, como a luta no spa com um brutamontes (deve ser a primeira vez que realmente tememos por Bond) e o vilão meio imprevisível, que fica o tempo todo com um meio-sorriso no rosto – sem falar em Kim Basinger como bond girl e na improvável participação de Rowan Atkinson, futuro Mr. Bean! Mas eles teriam saído melhor se escolhessem uma história original sobre um Bond maduro e evitassem as chatas cenas submarinas que estavam por todo o Chantagem Atômica. Nota 3/5


TED (EUA, 2012, dir. Seth MacFarlane)
O ursinho desbocado, criado por um CGI bem convincente e a dublagem do diretor Seth MacFarlen (também criador de Family Guy e voz de Peter Griffin), é o que dá vida a Ted. O filme funciona porque sua relação com Mark Wahlberg parece real e nos importamos com eles, já que o romance entre Walhberg e Mila Kunis é ok e a estrutura do roteiro é bem padrão (uma amizade que se racha, vilões que surgem no terceiro ato para esticar o conflito). MacFarlane está mais comportado do que em sua série animada, colocando até momentos "com emoção". As cenas envolvendo sexo, drogas e escatologia não chocam tanto quanto certos deputados podem fazer parecer, mas são bem engraçadas; junte a isso as referências pop e os flashbacks típicos de Family Guy, mais a já citada química entre Ted e seu "dono", e temos uma comédia das boas. Nota 4/5


DESCONSTRUINDO HARRY (Deconstructing Harry, EUA, 1997, dir. Woody Allen)
Woody revisita o tema de Memórias, desta vez interpretando um escritor com diversas ex-esposas no currículo. A metalinguagem abunda, e não acho que seja um filme indicado para novatos em Woody Allen: podem se assustar com a montagem à la Godard cheia de cortes bruscos, personagens vividos por vários atores e uma estrutura algo confusa; eu gostei bastante (bem mais do que Memórias, aliás). As historietas tiradas das obras do personagem-título são filmadas de forma mais convencional, embora sempre criativas: a mais famosa é a que tem Robin Williams sofrendo de "fora-de-foquismo", mas minha predileta é a que mostra Woody descendo ao inferno e discutindo com o Diabo, vivido por Billy Crystal. Nota 4/5


007 NA MIRA DOS ASSASSINOS (A View to a Kill, Reino Unido/EUA, 1985, dir. John Glen)
Último de sete Bonds com Roger Moore (que já estava com seus 57 anos!), Na Mira dos Assassinos também ganhou má fama como vários de seus antecessores, mas eu achei um filme mais coeso. Tem boas cenas de ação (Bond dirigindo um carro pela metade em Paris, escapando de um elevador pegando fogo, dependurado na ponte Golden Gate), uma capanga mulher (Grace Jones, assustadora) e Christopher Walken como vilão. Longe de ser uma obra-prima do entretenimento, é um bom final para a Era Moore. Nota 3/5


007 MARCADO PARA A MORTE (The Living Daylights, Reino Unido, 1987, dir. John Glen)
Timothy Dalton foi um Bond bem diferente de Roger Moore: mais sério, menos apressado em pegar a mocinha, maneirando bastante no humor (quando faz piada, se sai bem sem precisar recorrer a trocadilhos: "Estamos livres!", diz a garota; "Kara, estamos em uma base aérea russa no meio do Afeganistão", retruca Bond). Marcado Para a Morte tem uma primeira metade muito boa, com uma trama envolvendo um general russo que foge para o Ocidente com a ajuda de Bond e repleta de plot twists. Já quando Bond chega ao Afeganistão, a coisa fica um pouco morna e vira um filme de ação comum (com excessão da ótima luta com o capanga, quase caindo do avião); brincar de soldadinhos também não contribui para tornar o vilão muito ameaçador, e fica a sensação de que John Rhys-Davies deveria ter aparecido mais. Nota 3/5

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 39


007 - O ESPIÃO QUE ME AMAVA (The Spy Who Loved Me, Reino Unido, 1977, dir. Lewis Gilbert)
Apesar de um início repetitivo (deve ser o terceiro tanque de tubarões da série), O Espião Que Me Amava se revelou meu Bond preferido com o Roger Moore. Pra começar, a trama é mais interessante – Bond tem que se aliar com uma agente rival cujo amante ele matou recentemente. Os absurdos são sempre visualmente atraentes (o escritório do MI6 em uma tumba antiga no Egito, o carro-submarino que sai do mar direto pra praia) e o capanga da vez é o icônico e indestrutível Jaws "Dentes de Aço": o cara despedaça um carro com a mão e mata um tubarão a dentadas! A segunda metade, quando Bond se infiltra no covil do inimigo, lembra o final de You Only Live Twice, mas o fato de ser mais seco e sério conta pontos a seu favor. Nota 4/5


007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE (Moonraker, Reino Unido/França, 1979, dir. Lewis Gilbert)
Sim, Foguete da Morte é absurdo e exagerado; mas também é um filme bem divertido, que não merecia essa má fama que tem. Afinal, tudo o que é mostrado aqui já tinha sido abordado antes na série, da ciência espacial para loucos às impossibilidades geográficas e culturais. A cena inicial já dá o tom: Bond pula em queda livre de um avião e arranca o pára-quedas das costas de outro cara. Depois parte para Veneza, onde passeia de carro-gôndola (!) e quebra cristais caríssimos que valem milhões, durante uma luta corpo-a-corpo. Aí vem, claro, a famosa seqüência de James Bond no Brasil: lembro de ver este filme na TV, quando era criança, e ainda me lembrava de Jaws mordendo e arrancando o cabo do bondinho do Pão de Açúcar. Algumas cenas de ação são bem mal-feitas (Jaws pulando de um bondinho a outro sem sequer pegar impulso, os croma-keys toscos na perseguição amazônica); outras, mais competentes, apesar dos pesares (Bond sai de asa delta de dentro de um barco e escapa de se espatifar nas cachoeiras; o "detalhe" é que ele estava na Amazônia e foi parar nas Cataratas do Iguaçu!). O último ato do filme envolve James Bond – sim! – indo para o espaço. Ele está no foguete com uma outra agente e já pensamos: o cara vai pro espaço sem preparo nenhum? E a agente: "Não se preocupe, estamos em um vôo pré-programado". Ah, bom! Os efeitos especiais das seqüências espaciais são decentes (melhores que as das cenas amazônicas), apesar de um disparate científico atrás do outro: as lutas de raio laser calcadas em Star Wars, os astronautas completamente soltos no espaço, o vilão Drax viajando para o espaço de terno. No final, claro, Bond pega a mocinha em gravidade zero e o Q até solta uma piada suja ("Acho que ele está tentando a reentrada"). Nota 3/5


MAIS UM ANO (Another Year, Reino Unido, 2010, dir. Mike Leigh)
Dividido em quatro segmentos-estações, Another Year é um estudo de personagens muito competente, com diálogos bem construídos, atores excelentes e personagens tridimensionais. O feliz casal de meia-idade formado por Jim Broadbent e Ruth Seen é quem conduz a narrativa, mas os conflitos vêm mesmo de seus amigos: a carente Mary (Lesley Manville), o desesperançoso Ken (Peter Wight), o irritado sobrinho Carl (Martin Savage). Se o final não satisfaz por deixar no ar o futuro desses personagens, bem... a vida não é assim? Nota 4/5


007 - SOMENTE PARA SEUS OLHOS (For Your Eyes Only, Reino Unido, 1981, dir. John Glen) Somente Para Seus Olhos é o anti-Foguete da Morte: tudo o que o anterior tinha de exagerado este tem de comedido. A intenção pode ter sido boa, mas tornou o filme mais genérico: se não fosse um James Bond, não sei se seria lembrado hoje em dia. Há uma boa perseguição de carros no interior da Espanha e umas cenas bacanas no fundo do mar; há também um momento "continuidade" no início, em que o Bond Moore visita o túmulo da esposa morta de Bond Lazenby e mata Blofeld de uma vez por todas. Depois disso, o filme fica menos interessante, com um MacGuffin bobinho (ele precisa resgatar um comunicador que estava num navio naufragado), uma bond girl lindíssima, mas meio sem sal; artifícios previsíveis (é óbvio que aquele papagaio vai soltar uma informação importante quando todos estão escutando) e sermões hipócritas (você falando pra garota não matar o cara, James Bond? Logo você?). A "cereja" do bolo é a aparição de Margaret Tatcher conversando com um papagaio e achando que está falando com Bond. Pois é... Nota 2/5


007 CONTRA OCTOPUSSY (Octopussy, Reino Unido/EUA, 1983, dir. John Glen)
O Bond absurdo está de volta, mas em uma dose menos polêmica. As cenas de ação são o destaque de Octopussy: tem Bond escapando de um míssil teleguiado em um avião, correndo a cavalo à la Indiana Jones, dirigindo seu carro numa ferrovia e lutando com o vilão em cima de um bimotor. Já a trama é meio confusa: uma hora é contrabando de jóias, noutra é uma bomba atômica que vai explodir em um circo (Bond até se veste de palhaço!). Minha "Maratona Bond" já completou 13 filmes, e confesso que a fase Roger Moore já está cansando... Nota 3/5

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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