02/02/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 6

Filmes vistos ou revistos entre 29 de janeiro e dia 2 de fevereiro (dia de festa no mar), incluindo três candidatos ao Oscar 2012 e dois da minha maratona particular de irmãos Coen:


O ARTISTA (The Artist, França/Bélgica, 2011, dir. Michel Hazanavicius)
Este é definitivamente o melhor filme mudo feito nos últimos 80 anos! (Rá.) Mas falando sério: é preciso ter colhões pra lançar uma obra assim no cinema colorido, ultradinâmico e tridimensional da segunda década do século 21. Se pra maioria das pessoas este será o primeiro filme mudo que elas verão no cinema, para uma grande parcela será também o primeiro filme mudo que verão na vida – e, sendo tão simpático e fácil de agradar, vai servir pra tirar de muitos esse preconceito ridículo contra filmes mudos ou mesmo em preto-e-branco. A trama é uma mistura de Cantando na Chuva com Crepúsculo dos Deuses, tratando da transição do cinema mudo pro falado e de como grandes estrelas de uma era caíram rapidamente no esquecimento. Pode-se argumentar que o roteiro é convencional e até formulaico; que é "filme francês pra agradar americano" (usando Hollywood como cenário e o inglês nos intertítulos); ou que tanto prêmio e aval da crítica acaba criando uma expectativa muito alta. Mas O Artista funciona, e funciona muito bem. Jean Dujardin e Bérénice Bejo ganham a simpatia do público desde a primeira cena, pra não falar de Uggie, o cachorro (e não deixa de ser curioso ver rostos conhecidos como John Goodman em um filme mudo). Há alguns efeitos sonoros, raros, mas sempre adequados, mas gosto principalmente de como o filme trabalha o silêncio absoluto em dois momentos: em aplausos efusivos – e silenciosos – na primeira cena, e em um instante crucial no clímax. Quem diria que o cinema de 2011 conseguiria ousar olhando quase um século para trás. Nota 5/5


O HOMEM QUE MUDOU O JOGO (Moneyball, EUA, 2011, dir. Bennett Miller)
Eu não sou fã de baseball, não entendo de baseball e não costumo assistir filme de baseball – mas gostei muito de O Homem Que Mudou o Jogo. O foco aqui não são os jogadores ou o técnico, mas o administrador responsável por montar o time (um Brad Pitt com jeitão de Robert Redford) e seu conflito entre os métodos nada científicos comumente usados pelo clube – um cara chega a desconsiderar um jogador porque "ele tem uma namorada feia", e isso "demonstra pouca autoconfiança" – e as teorias matemáticas defendidas pelo personagem de Jonah Hill (que finalmente deixa de ser só um nerd gordo e ganha uma profissão!). É como se fizessem um filme sobre Elifoot. Além do elenco inspirado (que também inclui Phillip Seymour Hoffman como o treinador cansado e pançudo) e dos diálogos espertos ("I'm playing my team in a way I can explain in job interviews next winter", diz Hoffman), vale destacar a montagem, que cria boas transições em cenas geralmente clichês, como flashes do passado de Pitt ou repórteres entrevistando jogadores. Nota 4/5


OS DESCENDENTES (The Descendants, EUA, 2011, dir. Alexander Payne)
Já começa com o pé esquerdo quando depende de 20 minutos de narração em off para apresentar a história e explicitar as emoções do protagonista. O filme tenta se estabelecer como "dramédia", pontuando uma difícil situação familiar com momentos esporádicos de humor, mas se a parte dramática geralmente funciona, os alívios cômicos soam forçados e inverossímeis. Tome como exemplo um personagem como Sid, o peguete da filha mais velha de George Clooney: ele acompanha o elenco principal o filme inteiro sabe-se lá por que motivo, agindo ora como um boçal que não mede as palavras, ora como um adolescente maduro com insights certeiros sobre a vida, conforme for mais conveniente para o roteiro. O carisma de Clooney e as cenas que envolvem Judy Greer e o sumido Matthew Lillard salvam Os Descendentes de virar uma novela das oito em widescreen. Nota 3/5


FARGO (EUA/Reino Unido, 1996, dir. Joel & Ethan Coen)
Acho que este foi o primeiro filme que eu vi dos irmãos Coen, e lembro que não curti tanto. Hoje, depois de ter visto 10 dos 15 filmes da carreira de Joel e Ethan e bem mais familiarizado com o estilo dos irmãos, gostei muito mais. São obras meio à parte do cinema tradicional, muito imprevisíveis para serem filme de gênero, muito frias pra funcionarem como comédia, e ainda assim excelentes. Fargo tem tudo o que há de mais particular nos filmes dos Coen: uma situação que foge do controle, personagens importantes que só aparecem depois de 40 minutos, um roteiro que parece tomar vida própria e vai andando, andando, sem querer saber onde vai dar. Nota 5/5


ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (No Country for Old Men, EUA, 2007, dir. Joel & Ethan Coen)
Quando vi Onde os Fracos Não Têm Vez no cinema, um senhor ao meu lado reclamou em voz alta: "Ah, eles tão com mania disso agora!" – referindo-se ao "final sem final", que parece terminar do nada. Mas é um desfecho totalmente coerente com o estilo dos Coen, mesmo que o roteiro aqui seja adaptado de um livro. A direção é primorosa, criando tensão só com a composição dos planos e praticamente não usando música. Javier Bardem, assustador com aquele cabelo de Beiçola, é o "ultimate badass" perfeito. Tommy Lee Jones é quase o espectador, assistindo a tudo sem compreender muito bem qual é o propósito, se é que há algum. E Josh Brolin, com seu destino totalmente anticlimático (pisquei na hora errada no cinema e fiquei sem entender) é quase uma piada dos diretores para a platéia: "vocês investiram tanto tempo nesse personagem, e olha como descartamos ele fácil". Nota 5/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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