14/02/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 8

Filmes vistos entre 9 e 13 de fevereiro:


O ABISMO PRATEADO (Brasil, 2011, dir. Karim Aïnouz)
"Faroeste Caboclo" vai virar filme em breve, mas "Olhos nos Olhos", do Chico Buarque, saiu na frente e ganhou uma adaptação livre estrelada pela Alessandra Negrini. Abandonada pelo marido no início da trama, acompanhamos a moça pelas ruas do Rio durante 24 horas. O filme é bem dirigido e Alessandra mata a pau na dura tarefa de transmitir seu turbilhão de emoções em poucos diálogos. Mas o fato de ser uma adaptação da música acaba gerando uma decepçãozinha, justamente por não seguir a letra à risca. Quando lembramos de versos como "Quantos homens me amaram / Bem mais e melhor que você", imaginamos a atriz despirocando geral, mas o roteiro prefere passear por outras praias. E a própria canção inspiradora dá as caras no final, mas numa versão chatinha que nem se compara com a do Chico ou da Bethânia. Nota 3/5


E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ? (O Brother, Where Art Thou?, EUA/Reino Unido/França, 2000, dir. Joel & Ethan Coen)
Engraçado: revendo o filme em meio à minha maratona coeniana, e comparando com outras obras dos irmãos, não achei tão bom quanto da primeira vez. A trama (uma adaptação amalucada da Odisséia do Homero) é episódica demais, faltando a lógica orgânica de uma-coisa-leva-a-outra tão presente nos roteiros dos Coen. Mas minhas cenas preferidas continuam excelentes – em especial a das sereias e todas aquelas que envolvem os Soggy Bottom Boys. E tem um momento específico que, assim que revi, lembrei que da primeira vez fiquei voltando e assistindo umas cinco vezes seguidas. E, revendo agora, fiz o mesmo da vez passada. É quando John Turturro, disfarçado com uma barba falsa, diz aos companheiros: "Crazy! No one's ever going to believe we are a real band!". A forma como Turturro mexe a boca quando diz band (em 1h21m04s) é uma nuance brilhante de interpretação. Nota 3/5


NA RODA DA FORTUNA (The Hudsucker Proxy, EUA/Reino Unido/Alemanha, 1994, dir. Joel & Ethan Coen)
Talvez o único filme com efeitos de computador dos irmãos Coen, Na Roda da Fortuna assume um tom de fantasia no final que lembra muito A Felicidade Não Se Compra. A história de Tim Robbins como o zé mané alçado a presidente da empresa é bacana, mas o que gostei mesmo neste filme foram os detalhes – a burocracia infernal do sistema de correspondências com códigos quase iguais (3-37, 37-3...), o minuto de silêncio que pedem pela morte do presidente e depois dizem que será deduzido do pagamento, o ascensorista piadista ("Mr. Kline, up to nine. Mrs Dell, personnel. Mr. Levin, thirty-seven." "Thirty-six." "Walk down!"). E ainda tem uma das melhores seqüências de todos os filmes dos Coen, a que acompanha o bambolê desde o início de sua fabricação até o fracasso nas vendas e a subseqüente reviravolta quando um exemplar solitário vagueia pelas ruas e é encontrado por uma criança. Nota 4/5


OS MERCENÁRIOS (The Expendables, EUA, 2010, dir. Sylvester Stallone)
O conceito era promissor: juntar todos os heróis de ação dos anos 80, hoje cinqüentões ou sessentões, em uma porradaria nostálgica. O problema é que o filme não vai muito além disso. As piadas não funcionam, as cenas de ação são meio nhé, e muitas participações soam como a ponta de Keith Richards em Piratas do Caribe 3: só estão ali para falarmos "porra, é o fulano!", pois não acrescentam mais nada. O maior exemplo é a cena que reúne Stallone, Schwarzenegger e Bruce Willis. Se ela parece meio desconjuntada, é porque é mesmo: foi filmada com os atores separadamente usando fundo verde. Os Mercenários 2 vai trazer de volta Sly, Schwarza, Dolph Lundgren, Jason Statham e Jet Li, e ainda contará com Van Damme e Chuck Norris. O elenco, mais uma vez, promete. Esperemos que o resto funcione dessa vez. Nota 2/5


GOSTO DE SANGUE (Blood Simple, EUA, 1984, dir. Joel & Ethan Coen)
Filme de estréia dos Coen, já trazia todas as marcas registradas da dupla, e muito bem executadas. A direção é segura, fazendo o dever de casa ao estabelecer com calma personagens, motivações e objetos futuramente importantes. Dan "Dois Queixos" Hedaya está ótimo como o corno vingativo que ordena o assassinato da esposa e o amante, M. Emmet Walsh é um detetive/mercenário adequadamente asqueroso, e os protagonistas John Getz e Frances McDormand são responsáveis pelas duas cenas mais angustiantes do filme: a que Getz enterra um personagem vivo ("respeitosamente" começando pelas pernas, mas mudando para o rosto quando a coisa aperta) e a que McDormand espeta uma faca na mão de Walsh. Filmaço. Nota 5/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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