Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 9
Praticamente um especial do Oscar:
DRIVE (EUA, 2011, dir. Nicolas Winding Refn)
Tem muita violência, perseguições e batidas de carro, com um protagonista que é dublê por profissão e motorista de bandido nas horas vagas. Mas Drive não é um filme de ação: há muitos momentos silenciosos e coisas mais importantes para os personagens do que ganhar a mocinha no final. O filme acerta ao manter a aura de mistério do "Driver", que não tem nome nem passado e permanece calmo quase o filme inteiro. O elenco coadjuvante também está ótimo, incluindo Carey Mulligan (a garota de Educação, que aqui já tem até filho) e um fragilizado Bryan Cranston (o Walt de Breaking Bad). Nota 4/5
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Hugo, EUA, 2011, dir. Martin Scorsese)
Taí um filme que eu queria muito ver no cinema, mas não está na lista de estréias próximas ou futuras aqui na China. E não dá pra entender: filme em 3D pra toda a família, sem temas "sensíveis" ou cenas "reprováveis", seria um prato cheio para a chinesada; em vez disso preferiram exibir Happy Feet 2. A coincidência em ser lançado na mesma época que O Artista é curiosa, pois são duas obras que homenageiam o cinema mudo de formas diametralmente opostas: enquanto o filme francês se passa em Hollywood e emula as técnicas cinematográficas de quase um século atrás, Hugo – um filme americano que se passa em Paris – usa o que há de mais moderno, incluindo 3D, computação gráfica, câmeras "voadoras" que atravessam vidros e estações de trem. Também vejo um paralelo com Bastardos Inglórios: um diretor se aventurando em um terreno bem diferente do seu habitual (Tarantino na Segunda Guerra, Scorsese no "filme-família") movido principalmente por sua paixão pelo cinema. O Hugo do título fica quase em segundo plano quando percebemos que tio Martin fez seu filme para homenagear e resgatar Georges Meliès, um cara que merece todo tipo de resgate e homenagem. (Recomendo também o último episódio da ótima minissérie Da Terra à Lua, que aborda Meliès.) Quando tenta ser engraçadinho, Hugo escorrega – as cenas com os coadjuvantes na estação encabeçados por Sasha Baron Cohen não funcionam muito, e um conflito no final (quando Hugo vai buscar o automaton) soa particularmente como encheção de lingüiça. Mas a inventividade visual de Scorsese e sua paixão pelo cinema, que transparece na tela (ele se permite até uma rara ponta como um fotógrafo), compensam e muito. Nota 4/5
CAVALO DE GUERRA (War Horse, EUA, 2011, dir. Steven Spielberg)
Tinha um livro quando eu era criança chamado Brim Azul: A História de Uma Calça. Do pouco que eu lembro, era um relato episódico de uma calça jeans que ia passando de mão em mão (ou perna em perna) e acumulando um dono atrás do outro. Cavalo de Guerra é praticamente a mesma coisa, mas com um cavalo no lugar. A cada meia hora há uma reviravolta e o bicho se vê em um novo ambiente. Primeiro, é criado em uma fazenda pelo filho de um agricultor; o filme leva 50 minutos pra estabelecer a melosa relação entre o garoto e o eqüino, tirando o primeiro da jogada assim que a guerra começa. Em seguida o cavalo vai para as mãos de um capitão inglês, depois para dois irmãos alemães, para uma família francesa, para soldados de novo, e aí parei de contar. Irrita essa mania de todo mundo falar inglês – pra que contratar atores alemães, fazer o exército alemão gritar ordens em alemão e botá-los conversando entre si em inglês com sotaque carregado? O filme tem seus momentos inspirados, como o ataque-surpresa a um acampamento alemão, o fuzilamento de dois garotos e a cena em que o cavalo corre sozinho pelas trincheiras. Mas do Spielberg a gente sempre espera mais. Ou será que, nesse caso, seria menos? Menos trilha sonora sentimental, menos personagens, menos diálogos expositivos, menos coincidências no roteiro... O pior momento é quando um personagem diz: “Quando ouvi falar do cavalo milagroso, viajei 3 dias pra chegar aqui”. Milagroso? O lazarento só traz desgraça pra todo mundo que se afeiçoa a ele! Sou fã do Spielberg e acho ruim quando alguém desdenha do cara que fez Indiana Jones, E.T., Tubarão, Jurassic Park, O Resgate do Soldado Ryan e tantos outros; mas se eu precisasse escolher 5 ou 10 ou mesmo 15 obras de sua filmografia, Cavalo de Guerra não estaria entre elas. Nota 2/5
HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help, EUA, 2011, dir. Tate Taylor)
Não é nada assim memorável, mas também não achei execrável como estão falando por aí. O elenco é irregular e as interpretações variam do sutil (Viola Davis) ao exagerado (Octavia Spencer). E traz umas participações curiosas, como Sissy Spacek (Carrie, a Estranha) e Mary Steenburgen (a namorada do Doc Brown em De Volta Para o Futuro III). Quanto às acusações de racismo, é complicado: as intenções do filme são boas, mas não ajuda que a heroína seja uma garotinha branca e que a personagem de Octavia Spencer seja responsável por uma vingancinha escrota e deplorável, situação que é tratada como piada pelo filme e seus personagens. Histórias Cruzadas patina de vez a partir do momento da revelação do "ingrediente secreto" da tal torta, quando investe em motivações artificiais e injustificáveis – como o flashback da mãe de Skeeter ou a mesa de comida preparada pela patroa, que "dá forças a Minny para abandonar o marido" (o que é explicado em uma simples frase narrada). Mais injustificável ainda é toda o prestígio que esse filme tem recebido nas premiações desta temporada. Nota 3/5
TÃO FORTE E TÃO PERTO (Extremely Loud & Incredibly Close, EUA, 2011, dir. Stephen Daldry)
O mais malhado dos indicados ao Oscar de Melhor Filme este ano (tem inclusive um atestado de "podre" no tomatômetro), Tão Forte e Tão Perto merece as críticas. Quando o protagonista de um filme dramático é um moleque chato e malcriado e o principal recurso narrativo é uma narração em off redundante e repetitiva, temos problemas. Até o compositor Alexandre Desplat, que fez a bela trilha de A Árvore da Vida, entrega aqui um trabalho burocrático e meloso – todas as vezes que alguém menciona a expressão "11 de setembro", sobe o som da orquestra implorando pro espectador chorar. O pentelho Thomas Horn lembra uma versão infantil do Sheldon de Big Bang Theory, mas sem o tino cômico que torna o personagem do seriado suportável. As raras cenas em que o pirralho não aparece (como o telefonema entre Tom Hanks e Sandra Bullock) saem beneficiadas. A narração é outro pé no saco, repetindo pela enésima vez tudo o que acabamos de ver ("Se havia uma chave, também havia uma fechadura. Se havia um nome, também havia uma pessoa. Tinha que haver uma fechadura." Vontade de socar o moleque). Tão Forte e Tão Perto tem uma história parecida com A Invenção de Hugo Cabret e uma execução xinfrim como Os Descendentes – mas eu queria mesmo é que fosse mudo como O Artista. Nota 2/5
Bonus track - minha lista dos candidatos a Melhor Filme em ordem de preferência:
1. O Artista
2. O Homem que Mudou o Jogo
3. A Invenção de Hugo Cabret
4. A Árvore da Vida
5. Meia-Noite em Paris
6. Os Descendentes
7. Histórias Cruzadas
8. Cavalo de Guerra
9. Tão Forte e Tão Perto
Bonus track 2 - meus palpites para os vencedores da noite. (Update pós-Oscar: acertei 16 das 24 categorias, até que não fui mal. Os chutes em curtas e documentários foram todos pra fora. Categorias como Montagem, Fotografia e Efeitos Visuais foram surpresas pra quase todo mundo; e Atriz estava bem dividido de qualquer forma.)
Filme – O Artista
Diretor – Michel Hazanavicious (O Artista)
Ator – Jean Dujardin (O Artista)
Atriz – Viola Davis (Histórias Cruzadas)
Ator Coadjuvante – Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Atriz Coadjuvante – Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Roteiro Adaptado – Os Descendentes
Roteiro Original – Meia-Noite em Paris
Animação – Rango
Filme Estrangeiro – A Separação
Fotografia – A Árvore da Vida
Direção de Arte – Hugo
Figurino – O Artista
Documentário – Paradise Lost 3
Curta Documentário – Incident in New Baghdad
Montagem – O Artista
Maquiagem – A Dama de Ferro
Trilha Sonora Original – O Artista
Canção Original – Os Muppets
Curta Animação – La Luna
Curta – Pentecost
Edição de Som – Hugo
Mixagem de Som – Hugo
Efeitos Visuais – Planeta dos Macacos
DRIVE (EUA, 2011, dir. Nicolas Winding Refn)
Tem muita violência, perseguições e batidas de carro, com um protagonista que é dublê por profissão e motorista de bandido nas horas vagas. Mas Drive não é um filme de ação: há muitos momentos silenciosos e coisas mais importantes para os personagens do que ganhar a mocinha no final. O filme acerta ao manter a aura de mistério do "Driver", que não tem nome nem passado e permanece calmo quase o filme inteiro. O elenco coadjuvante também está ótimo, incluindo Carey Mulligan (a garota de Educação, que aqui já tem até filho) e um fragilizado Bryan Cranston (o Walt de Breaking Bad). Nota 4/5
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Hugo, EUA, 2011, dir. Martin Scorsese)
Taí um filme que eu queria muito ver no cinema, mas não está na lista de estréias próximas ou futuras aqui na China. E não dá pra entender: filme em 3D pra toda a família, sem temas "sensíveis" ou cenas "reprováveis", seria um prato cheio para a chinesada; em vez disso preferiram exibir Happy Feet 2. A coincidência em ser lançado na mesma época que O Artista é curiosa, pois são duas obras que homenageiam o cinema mudo de formas diametralmente opostas: enquanto o filme francês se passa em Hollywood e emula as técnicas cinematográficas de quase um século atrás, Hugo – um filme americano que se passa em Paris – usa o que há de mais moderno, incluindo 3D, computação gráfica, câmeras "voadoras" que atravessam vidros e estações de trem. Também vejo um paralelo com Bastardos Inglórios: um diretor se aventurando em um terreno bem diferente do seu habitual (Tarantino na Segunda Guerra, Scorsese no "filme-família") movido principalmente por sua paixão pelo cinema. O Hugo do título fica quase em segundo plano quando percebemos que tio Martin fez seu filme para homenagear e resgatar Georges Meliès, um cara que merece todo tipo de resgate e homenagem. (Recomendo também o último episódio da ótima minissérie Da Terra à Lua, que aborda Meliès.) Quando tenta ser engraçadinho, Hugo escorrega – as cenas com os coadjuvantes na estação encabeçados por Sasha Baron Cohen não funcionam muito, e um conflito no final (quando Hugo vai buscar o automaton) soa particularmente como encheção de lingüiça. Mas a inventividade visual de Scorsese e sua paixão pelo cinema, que transparece na tela (ele se permite até uma rara ponta como um fotógrafo), compensam e muito. Nota 4/5
CAVALO DE GUERRA (War Horse, EUA, 2011, dir. Steven Spielberg)
Tinha um livro quando eu era criança chamado Brim Azul: A História de Uma Calça. Do pouco que eu lembro, era um relato episódico de uma calça jeans que ia passando de mão em mão (ou perna em perna) e acumulando um dono atrás do outro. Cavalo de Guerra é praticamente a mesma coisa, mas com um cavalo no lugar. A cada meia hora há uma reviravolta e o bicho se vê em um novo ambiente. Primeiro, é criado em uma fazenda pelo filho de um agricultor; o filme leva 50 minutos pra estabelecer a melosa relação entre o garoto e o eqüino, tirando o primeiro da jogada assim que a guerra começa. Em seguida o cavalo vai para as mãos de um capitão inglês, depois para dois irmãos alemães, para uma família francesa, para soldados de novo, e aí parei de contar. Irrita essa mania de todo mundo falar inglês – pra que contratar atores alemães, fazer o exército alemão gritar ordens em alemão e botá-los conversando entre si em inglês com sotaque carregado? O filme tem seus momentos inspirados, como o ataque-surpresa a um acampamento alemão, o fuzilamento de dois garotos e a cena em que o cavalo corre sozinho pelas trincheiras. Mas do Spielberg a gente sempre espera mais. Ou será que, nesse caso, seria menos? Menos trilha sonora sentimental, menos personagens, menos diálogos expositivos, menos coincidências no roteiro... O pior momento é quando um personagem diz: “Quando ouvi falar do cavalo milagroso, viajei 3 dias pra chegar aqui”. Milagroso? O lazarento só traz desgraça pra todo mundo que se afeiçoa a ele! Sou fã do Spielberg e acho ruim quando alguém desdenha do cara que fez Indiana Jones, E.T., Tubarão, Jurassic Park, O Resgate do Soldado Ryan e tantos outros; mas se eu precisasse escolher 5 ou 10 ou mesmo 15 obras de sua filmografia, Cavalo de Guerra não estaria entre elas. Nota 2/5
HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help, EUA, 2011, dir. Tate Taylor)
Não é nada assim memorável, mas também não achei execrável como estão falando por aí. O elenco é irregular e as interpretações variam do sutil (Viola Davis) ao exagerado (Octavia Spencer). E traz umas participações curiosas, como Sissy Spacek (Carrie, a Estranha) e Mary Steenburgen (a namorada do Doc Brown em De Volta Para o Futuro III). Quanto às acusações de racismo, é complicado: as intenções do filme são boas, mas não ajuda que a heroína seja uma garotinha branca e que a personagem de Octavia Spencer seja responsável por uma vingancinha escrota e deplorável, situação que é tratada como piada pelo filme e seus personagens. Histórias Cruzadas patina de vez a partir do momento da revelação do "ingrediente secreto" da tal torta, quando investe em motivações artificiais e injustificáveis – como o flashback da mãe de Skeeter ou a mesa de comida preparada pela patroa, que "dá forças a Minny para abandonar o marido" (o que é explicado em uma simples frase narrada). Mais injustificável ainda é toda o prestígio que esse filme tem recebido nas premiações desta temporada. Nota 3/5
TÃO FORTE E TÃO PERTO (Extremely Loud & Incredibly Close, EUA, 2011, dir. Stephen Daldry)
O mais malhado dos indicados ao Oscar de Melhor Filme este ano (tem inclusive um atestado de "podre" no tomatômetro), Tão Forte e Tão Perto merece as críticas. Quando o protagonista de um filme dramático é um moleque chato e malcriado e o principal recurso narrativo é uma narração em off redundante e repetitiva, temos problemas. Até o compositor Alexandre Desplat, que fez a bela trilha de A Árvore da Vida, entrega aqui um trabalho burocrático e meloso – todas as vezes que alguém menciona a expressão "11 de setembro", sobe o som da orquestra implorando pro espectador chorar. O pentelho Thomas Horn lembra uma versão infantil do Sheldon de Big Bang Theory, mas sem o tino cômico que torna o personagem do seriado suportável. As raras cenas em que o pirralho não aparece (como o telefonema entre Tom Hanks e Sandra Bullock) saem beneficiadas. A narração é outro pé no saco, repetindo pela enésima vez tudo o que acabamos de ver ("Se havia uma chave, também havia uma fechadura. Se havia um nome, também havia uma pessoa. Tinha que haver uma fechadura." Vontade de socar o moleque). Tão Forte e Tão Perto tem uma história parecida com A Invenção de Hugo Cabret e uma execução xinfrim como Os Descendentes – mas eu queria mesmo é que fosse mudo como O Artista. Nota 2/5
Bonus track - minha lista dos candidatos a Melhor Filme em ordem de preferência:
1. O Artista
2. O Homem que Mudou o Jogo
3. A Invenção de Hugo Cabret
4. A Árvore da Vida
5. Meia-Noite em Paris
6. Os Descendentes
7. Histórias Cruzadas
8. Cavalo de Guerra
9. Tão Forte e Tão Perto
Bonus track 2 - meus palpites para os vencedores da noite. (Update pós-Oscar: acertei 16 das 24 categorias, até que não fui mal. Os chutes em curtas e documentários foram todos pra fora. Categorias como Montagem, Fotografia e Efeitos Visuais foram surpresas pra quase todo mundo; e Atriz estava bem dividido de qualquer forma.)
Filme – O Artista
Diretor – Michel Hazanavicious (O Artista)
Ator – Jean Dujardin (O Artista)
Atriz – Viola Davis (Histórias Cruzadas)
Ator Coadjuvante – Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Atriz Coadjuvante – Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Roteiro Adaptado – Os Descendentes
Roteiro Original – Meia-Noite em Paris
Animação – Rango
Filme Estrangeiro – A Separação
Fotografia – A Árvore da Vida
Direção de Arte – Hugo
Figurino – O Artista
Documentário – Paradise Lost 3
Curta Documentário – Incident in New Baghdad
Montagem – O Artista
Maquiagem – A Dama de Ferro
Trilha Sonora Original – O Artista
Canção Original – Os Muppets
Curta Animação – La Luna
Curta – Pentecost
Edição de Som – Hugo
Mixagem de Som – Hugo
Efeitos Visuais – Planeta dos Macacos
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