03/04/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 14


RASHOMON (Rashômon, Japão, 1950, dir. Akira Kurosawa)
Um homem é assassinado e a versão de cada testemunha – incluindo um notório bandido, a esposa da vítima e o próprio morto – difere entre si. Belissimamente filmado e sem oferecer uma solução propriamente dita para o crime, este clássico de Kurosawa é tão influente que gerou vários filmes com estrutura parecida (como Herói) e deu origem até a uma expressão, "efeito Rashomon", que se refere à subjetividade de diferentes pontos de vista ao se recontar um fato. Nota 5/5


NA CHINA COMEM CÃES (I Kina Spiser de Hunde, Dinamarca, 1999, dir. Lasse Spang Olsen)
O título passa a impressão errada, já que não tem nada a ver com a China nem com cachorros. Este filme dinamarquês é uma comédia de humor negro misturada com filme de ação: há uma boa dose de tiros, perseguições e sangue, entremeados por diálogos mórbidos e sarcásticos. A premissa é altamente improvável – um bancário bonzinho entra na vida do crime para ajudar a família de um bandido que ele ajudou a prender. Se é difícil acreditar nas motivações do protagonista Dejan Cukic, Kim Bodnia convence bastante como seu irmão "do mal" que tem todo o know-how necessário para a empreitada fora-da-lei. As cenas de ação funcionam bem, provavelmente devido à experiência do diretor na área – o IMDB lista 60 participações suas como dublê. Mas o destaque é mesmo o humor negro, tanto nos diálogos ("Ela está na sala... e também na cozinha") quanto na sequência de situações que dão errado. Nota 4/5


PETER PAN (EUA, 1953, dir. Clyde Geronimi, Wilfred Jackson & Hamilton Luske)
Se alguns reclamam que o Peter Pan da Disney omite muitas das passagens sombrias do original de J.M. Barrie (nunca li, mas não duvido), por outro lado não lhe falta o que hoje chamam de politicamente incorreto: há crianças fumando cachimbo da paz, gente levando tiro por motivo besta, índios retratados quase como uma raça inferior. De qualquer forma, é uma animação bacana, muito mais coesa do que o filme anterior da Disney (e também adaptação de uma obra inglesa), Alice no País das Maravilhas – que pra mim é mais uma salada de situações nonsense e canções chatinhas. Nota 4/5


VAMPIROS DE ALMAS (Invasion of the Body Snatchers, EUA, 1956, dir. Don Siegel)
Outro título enganador: não é um filme de vampiros, mas de invasão alienígena. Clássico da ficção científica dos anos 50, também pode ser lido como uma crítica à conformidade. Há alguns pontos mal contados no roteiro (nunca entendi o que acontece com os corpos humanos quando os aliens assumem sua forma) e um pouco de overacting aqui e ali ("You're next, you're next!" – imaginem se em vez do Kevin McCarthy fosse o Charlton Heston), mas em geral é um suspense sci-fi bastante eficiente. Nota 4/5


CAMINHOS PERIGOSOS (Mean Streets, EUA, 1973, dir. Martin Scorsese)
Um dos primeiros filmes de Scorsese, tem muita coisa que viria a se tornar sua marca registrada, ao menos no imaginário coletivo – o submundo de Nova York, quase-gângsters que ainda têm muito o que aprender, a culpa católica, trilha rock'n'roll, Robert De Niro, Harvey Keitel. O que a maioria lembra de filmes posteriores e mais famosos como Taxi Driver e Os Bons Companheiros já estava ali, no Martin de 30 anos. Nota 5/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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