19/01/2006

Coisas que você precisa saber sobre Brisbane

1) É a capital do estado de Queensland e a terceira maior cidade da Austrália, depois apenas de Sydney e Melbourne. Apelido: Brisy.

2) A população de cerca de um milhão e oitocentos mil habitantes é eclética e engloba de garotos com a cara do filho do Ozzy a garotas dark de cabelos roxos que cospem na rua. Mas o que salta aos olhos mesmo é a quantidade de olhos puxados. É asiático pra tudo quanto é lado, turistas, engravatados, balconistas de lojinhas de souvenirs. Muitos, muitos mesmo. No hotel em que Bruno e eu ficamos entrava chinês toda hora. Uma vez eu estava lá sentado no sofá do saguão olhando um mapa quando chegaram dezenas de chineses, chineses de terno, famílias de chineses, crianças chinesas, todos falando alto na sua língua estranha e lotando os sofazinhos. É tanta gente que a cidade tem até um Chinatown. Não sei pra quê, o saguão do hotel já era o próprio Chinatown.

3) Brisbane é uma cidade muito agradável e fácil de se locomover a pé, bastando munir-se de um mapinha esperto. O único problema, principalmente nesta época do ano, é o calor. O clima insuportavelmente quente nos obrigava, de vez em quando, a entrar nos shoppingzinhos só por causa do ar-condicionado. Quando saíamos, vinha aquele bafão. E tome Coca-Cola, Sprite e Jamaica Juice na barraquinha de sucos pra agüentar. Um viva pra quem teve a idéia de distribuir uns bebedouros públicos pela cidade. E dois vivas para o free refill nas lanchonetes tipo o Subway, ou traduzindo: beba até entortar.

4) Os sinais verdes para pedestres fazem um barulhinho engraçado semelhante a uma bomba relógio prestes a explodir, que poderia ser grafado assim: "tchiu!! tchu tchu tchu tchu tchu..."

5) Queen Street Mall é um quarteirão fechado no centro da cidade, repleto de lojinhas, restaurantes e shoppings, e onde vez ou outra acontecem uns eventos inusitados, tipo a apresentação meio circense que presenciamos em nossas andanças. As lojinhas de souvenirs são muitas e acabam se diferenciando uma da outra principalmente pelo preço, porque os itens são quase sempre os mesmos: bumerangues, placas de cuidado com o crocodilo, didgeridoos (a flauta aborígene), cartões postais e bichos de pelúcia típicos. Não só daqueles com maior potencial fofístico como coalas e cangurus, mas também ornitorrincos, crocodilos e emus. O cúmulo foi uma água-viva de pelúcia que vi no aeroporto de Brisbane.

6) A principal praça do centro é a King George's Square. No domingo em que estivemos lá, rolava uma espécie de feira hippie, com gente vendendo salsichas alemãs, esculturas de metal, roupas. Um casal tocava instrumentos exóticos e músicas insólitas que lembravam uma versão remix da Enya.

7) É na King George's Square que fica o edifício do City Hall, com sua indefectível torre do relógio e o Museum of Brisbane, que eu já tinha visitado anteriormente e achado bem legal. Só que o pessoal troca as exposições lá dentro regularmente, e foi com uma certa decepção que constatei que os zilhares de Budas e os curtas-metragens na parede não estavam mais lá. Subimos na torre do relógio no dia seguinte. Dois elevadores pra chegar até o topo. Não dava pra ver muita coisa, mas aproveitamos o raro momento para tirar uma foto do relógio por dentro.


Save the Clock Tower!


Clock Tower inside

8) Brisy tem um famoso rio (não por acaso chamado Brisbane River), que corta a cidade e rendeu a ela a alcunha de "River City". Fizemos uma espécie de cruzeiro pelas águas desse rio, uma hora e meia de duração, onde uma locução pré-gravada contava a História e as histórias das construções em volta. Vira e mexe alguém encontra um tubarão por lá - sim, tubarões em água doce. Mesmo que infelizmente não tenhamos visto uma barbatanazinha sequer nos dois dias que ficamos em Brisbane, não convém cruzar o rio a nado. Melhor usar uma das várias pontes existentes, como a Victoria ou a Goodwill, esta feita só pra transeuntes e bicicleteiros.


Cadê os tubas?

9) Perto do centro fica o Jardim Botânico de Brisbane, assaz aprazível e cheio de árvores gigantes, como as figueiras colossais plantadas em 1874. Saindo do Botanical Gardens cai-se direto na Goodwill Bridge, que cruza o rio e chega à região do Southbanks. Outro lugar deveras agradável que tem até praia artificial. Mineiro não tem mar, e vai pro bar. Os brisbânicos, que também não têm mar, preferiram construir uma praia de mentirinha. Algum belorizontino disposto a fazer o mesmo na Pampulha ou no Arrudas?


Bruno e uma árvore muito grande

10) No Southbanks tem um monte de monumentos, museus e galerias de arte. Australianos adoram um monumento em homenagem a alguém, seja aos veteranos da Primeira Guerra, seja aos combatentes que lutaram na África do Sul, ou à reconstrução da Victoria Bridge - tinha até um arco do triunfinho em homenagem a isso. Lá perto, um dos museus abrigava uma grande exposição científica, cheia de fósseis de dinossauros, animaizinhos no formol, reproduções de bichos e os sons que eles fazem, carros velhacos e aviões do tempo de Santos Dumont. A galeria de arte num dos prédios ao lado era ainda mais inusitada, como a exposição "Kiss of the Beast" (sobre monstros e gorilas da cultura pop mundial) e as diversas criancinhas construindo imensas torres de Lego branco.

11) Brasileiros não vi. Mas um dia chegamos no hotel, cansados da caminhada e do calor, e o cara da recepção perguntou de onde éramos. "Brazil", respondi. Ele rebateu: "Então a gente pode falar portuguêish." Era um argentino que tinha morado um ano no Rio de Janeiro, e se apresentou como Johnny. Tinha a minha idade e em dois meses se casaria com uma brasileira. Às sete da noite, Bruno foi tirar uma soneca e eu desci ao saguão pra pedir sugestões ao Johnny de algo para se fazer na noite brisbânica. Ele me indicou a Brunswick Street, onde havia um punhado de pubs e clubs. Subi ao quarto e o Bruno continuava dormindo. Resolvi cochilar também, o organismo estava ainda todo bagunçado pelo fuso. Acordamos quase às onze da noite, sem forças pra sair, e acabamos dormindo de novo em seguida, o que fez com que às 4h55 da manhã seguinte já estivéssemos de olhos abertos, e às sete na rua, munidos de mochila, câmera e mapinhas espertos, pronto para outra bateria de andanças. Estaríamos de volta apenas às três, para pegar um ônibus pro aeroporto e depois um avião da Jet Star pra Mackay, onde mora meu pai (rimou). Fomos no fundão, ao lado do horroroso barulho da turbina, e o lanchinho no vôo ainda era pago. Não, obrigado, deixamos a alimentação pra Mackay. Por alguma dessas ironias da vida, o restaurante onde compramos a comida era chinês.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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