16/11/2008

A HISTÓRIA DE PARTE II - O MEIO DO FIM

Capítulo 2 - Pânico, mortes e um boneco de pano



Pânico
era uma referência constante – falo do filme de Wes Craven ("Scream", no original), não de Zurita e sua turma. Pouco mais de dois anos haviam se passado desde a primeira vez que assisti, em vídeo, às perseguições que o mascarado de boca aberta infligia aos estudantes de Woodsboro. Nesse meio tempo, compareci religiosamente às estréias das seqüências no cinema, assisti o primeiro tantas vezes em VHS que ainda hoje sei diálogos inteiros de cabeça, e planejei, com alguns colegas da oitava série, cenas avulsas de uma paródia do filme. Muitas acabariam gerando outras em nosso curta de 2000 - se na idéia inicial teríamos uma ponta do assassino de Eu sei o que vocês fizeram no verão passado errando de filme, a personagem vivida por Ana Carolina Sacco topava com o assassino de Pânico fazendo exatamente o mesmo - e era eu sob a fantasia, usando como arma um inofensivo desentupidor de pia.

De Pânico vieram ainda o nome do personagem do Leandro, Sidnélson Prescott – uma mistura de Sydney Prescott (mocinha interpretada por Neve Campbell) com o Sidnélson, mascote da marca de tênis Rainha, que Leandro usou como pseudônimo nos tempos da M8; e a idéia de todos os estudantes se reunindo para assistir filmes de terror. No nosso caso, era Wilber (personagem do Léo, originado de sua estranha mania de interromper conversas com a pergunta: "Alguém viu o pequeno Wilber por aí?") que convidava os amigos para uma sessão-terror em sua casa. A fita escolhida: O Rei Leão. A cena filmada na casa do Thiago no final do primeiro dia de gravações - todos reunidos na sala de TV, a Thaís gritando "Eles vão matar o Simba" e a Patrícia Fajardo saindo para ir ao banheiro - foi inteiramente refilmada no segundo dia, agora na casa da Sacco, com a adição de numerosos detalhes.

Começava com Verônica e Pâmela Rebeca - codinomes de Sacco e Thaís, respectivamente - chegando à casa de Wilber e encontrando os colegas de escola: Sidnélson Prescott (Leandro Fabel), Laurinha (Patrícia Fajardo, cujo nome de personagem veio de uma obscura piada interna envolvendo uma certa Laurinha Pega-Pega) e Maria (Ana Carolina Furlan, que na verdade nunca foi chamada assim no filme). Em determinado momento, Laurinha vai ao banheiro e torna-se a segunda vítima do assassino malemolente de capuz pontudo, que, desta vez, usa o chuveirinho do banheiro para enforcar a coitada.

O velório de Laurinha contou com um dos maiores méritos da equipe de direção de arte do filme: o caixão da vítima. Ficou um pouco torto, é verdade, mas poucos espectadores percebem que aquilo se trata, na verdade, de uma disfarçada tábua de passar roupas. É no velório que o assassino aparece novamente e mata Sidnélson, personagem do Leandro. A cena em que eles descobrem o cadáver de Sidnélson, de olhos virados e catchup na boca, foi uma das mais demoradas. César dizia: "Porra, como é que morre gente nesse filme", e o Paulo deveria retrucar: "Lógico, tem que morrer metade do elenco em menos de15 minutos...", mas, take após take, não conseguia segurar o riso. A cena acabou entrando só com a fala do César.

Esse segundo dia aconteceu na primeira semana de agosto de 2000, e depois disso as gravações foram interrompidas sem previsão de volta. Me foge à memória o motivo dessa pausa - mas achávamos que o filme fosse ficar pra sempre inacabado, porque as cenas que demoraram duas tardes pra ficarem prontas não davam nem metade da história.

Finalmente, na última semana do mês, voltamos para mais dois dias de filmagens, tendo como locação a casa do Léo. Começamos com a longa cena da festa que encerrava o filme e matava mais um bocado de gente. Nesse ponto, aliás, já tinham morrido tantos que faltava quórum para a festa. A solução foi colocar perucas nas vítimas, no delegado e nos detetives, para que fizessem as vezes de figurantes. Entre os mortos da tarde, tivemos a Sara, no papel da Professora Helena (qualquer relação com Carrossel terá sido meramente proposital), que morre rindo; Verônica (Ana Carolina Sacco), que se recusava a contar à amiga Pâmela quem tinha feito aquilo com ela; e o Léo, este só na fala do Adriano, que saía para procurar quem ele considerava o principal suspeito e voltava com a bomba: "O Wilber morreu".

Era a hora da revelação do assassino. Com Pâmela Rebeca presa em um braço, com o outro ele tirava o capuz pontiagudo e declarava: "Sou eu, Sidnélson Prescott". Perplexidade geral: "Ué, mas você não tinha morrido?!", e ele, triunfante: "Claro que não. Era um boneco". E cortava para a cena de flashback, filmada em preto e branco na casa da Sacco, repetindo a descoberta do cadáver de Sidnélson pelos outros personagens. Só que, desta vez, era Zé, boneco de pano feito pela minha avó, que jazia inerte em seu lugar, com uma peruca na cabeça. Voltávamos ao presente e finalmente Sidnélson, após levar uma pancada de Pâmela Rebeca, tinha o que merecia - mas não sem antes voltar à vida por um breve momento para o último susto. Terminava a cena que encerrava o filme, terminava o terceiro dia de filmagens e terminava também mais uma fitinha lotada de material, entre erros, palhaçadas e cenas utilizáveis, o que daria um trabalhão pra editar depois. E ainda faltava coisa pela frente.

(Continua...)

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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