20/11/2008

A HISTÓRIA DE PARTE II - O MEIO DO FIM

Capítulo 3 - Improvisos, edições e projetos inacabados

O quarto e último dia de filmagens de Parte II - O Meio do Fim começou ainda de manhã, numa aula de Geografia. Sônia, nossa professora, fez uma ponta em duas cenas: na primeira, imitava uma propaganda de curso de inglês onde um professor repetia: "Alguém sabe o que significa isso? Alguém?..."; na segunda, apresentava à turma Billy Nose (ou "Neuse", como ela pronunciou), o agente infiltrado com cara de estudante do primeiro ano. Mateus Isoni, colega nosso na época, fez com a boca o efeito sonoro do sinal tocando.

Voltamos à casa do Léo à tarde, para as cenas finais. Primeiro registramos o epílogo, feito para entrar após os créditos: Pâmela Rebeca, grávida e já com um filho (um rinoceronte de pelúcia da Parmalat embrulhado num pano), combinava um almoço com seu agora esposo Billy Nose e se deparava com um inesperado visitante dentro do banheiro. Surgia na tela a manjada frase "To be continued": era a deixa para a seqüência, nunca produzida. Em seguida filmamos a morte de Wilber, na garagem do prédio, e a perseguição a pé de Billy ao assassino - três takes bastaram para evidenciar o despreparo físico dos atores para cenas de ação como aquela.

A última cena a ser filmada foi também das mais demoradas: a cirurgia no agente Billy Nose para implantar uma câmera em seu cérebro. Para o papel do doutor que o operava, só tinha sobrado eu - e eu, mais do que o Paulo naquela cena da metade do elenco em quinze minutos, não conseguia controlar o riso. É uma cena longa, muito improvisada e completamente non-sense, da disparatada presença do assassino como ajudante do médico às bugiganas que habitavam a cabeça de Billy Nose.

Ao final da maratona, tínhamos duas horas de material bruto para editar num filme ainda sem nome que não podia ultrapassar os 15 minutos. Danielle, a professora de Produção de Vídeo, prometeu marcar pra gente um dia numa ilha de edição, mas antes tentei fazer minhas próprias montagens caseiras. Adriano foi lá pra casa e fizemos os créditos no computador, que ele deletou involuntariamente após horas de trabalho. Resultado: fechamos a lente da câmera e, com a tela toda preta, o Adriano leu os créditos em voz alta ao som de "Alive", do Pearl Jam. Depois juntei tudo, editando de vídeo-cassete pra vídeo-cassete, e ficou uma merda: meu vídeo cortava os primeiros segundos de todas as cenas, tornando aquilo que já não tinha muito sentido numa maçaroca audiovisual sem pé nem cabeça.

Finalmente, no dia 30 de outubro de 2000, pudemos visitar uma ilha de edição de verdade e montar o curta a nosso bel-prazer. Sem mapa de edição nem nada (eu tinha mapeado mas esqueci a folha em casa; só que já tinha visto as fitas tantas vezes que já sabia a ordem de cor), adicionamos trilha - Nirvana, Led Zeppelin, Legião Urbana, Raimundos e Green Day, que pusemos sem esquentar a cabeça com royalties -, os créditos (com o sobrenome da Christiane errado e faltando a Sara, por erro nosso) e o título do filme, o que deu um certo trabalho. Pretendíamos usar o nome 15 Minutos, tamanho máximo que nos era permitido para o curta. Como batemos na casa dos 17 minutos, não fazia mais sentido - e foi coincidência que, no ano seguinte, lançassem um filme de mesmo nome com o Robert DeNiro. Partimos para o plano B: Parte I - O Começo do Fim, assim já no subtítulo. Na hora H, porém, acabamos optando por Parte II - O Meio do Fim, fazendo deste a segunda parte de uma trilogia que seria encerrada por Parte III - O Fim do Fim.

A "première" de Parte II seria feita na Feira de Cultura anual realizada em nosso colégio, junto com os curtas produzidos pelos outros grupos. Haveria até uma votação para premiar o melhor filme, mas chegando no dia... cadê o filme? Ninguém sabia: a professora perdera a nossa fita e não tinha idéia de onde podia estar. Desenterrei uma conversa minha com o Leandro Fabel, pelo saudoso ICQ, que conta mais detalhes:

Lucas Paio: koleh. passaro o filme nosso lá?
Leandro: NAUM!!!!! AKELA FILHA DA P*** ISKECEU U FILME OU PERDEU, SEI LAH!!
Lucas Paio: AH MAS SE ELA NAO DEVOLVER ELA TÁ F*****!!!
Lucas Paio: c viu algum filme? falou com a lindalva? q q c sabe sobre isso?
Lucas Paio: responde
Leandro: eu falei q u filme tava no c* dela !!!!! HAHAHAHAHAHAHAHA
Lucas Paio: fala serio sô
Leandro: falei, cum a fessôra !!! HAHAHAHA
Lucas Paio: desde o começo
Leandro: a fessôra disse q naum sabia onde tava o filme, a thaís buzinô nu ovidu dela ateh.............
Lucas Paio: e aí?
Lucas Paio: o q aconteceu?
Leandro: aí o Fred xegô e perguntô ondi tava a fita, aí eu falei : No c* dela !!! ela soh falô: q isso gente.........eu raxei us biku.........
Lucas Paio: hahahahhahah
Lucas Paio: ou, mas ela falou o q? q perdeu?
Lucas Paio: escreve mais rapido
Leandro: naum, depois passô um compacto, o nosso tava lah, aí naum teve eleiçaum du melhor pq ela dise q vai axah u nossu..............

O letreiro inicial do nosso filme, calcado em A Bruxa de Blair, dizia que "em agosto de 2000, treze adolescentes fizeram um filme totalmente idiota e sem sentido. Três meses depois, as filmagens foram encontradas". Coincidência ou não, em novembro do mesmo ano - três meses depois, portanto, do início das filmagens -, um belo dia o Jorge, faz-tudo do colégio, apareceu com um punhado de fitas no meio de um recreio e entre elas, surpreendentemente, estava o Parte II. Por via das dúvidas, levei comigo antes que desaparecesse de vez.

Apesar de planejadas e até roteirizadas, com falas e tudo, os dois filmes restantes da trilogia "Parte" nunca foram feitos. Parte I - O Começo do Fim mostraria a origem de tudo: a turma, o assassino, a história pregressa de Billy Nose. Parte III - O Fim do Fim traria todo o elenco original de volta por meio da SIGMA ("Sociedade dos Irmãos Gêmeos Malvados"), que reuniria as contrapartes malignas de cada personagem. O Leandro até chegou a fazer um teaser-trailer do Parte III, usando o subtítulo "o Retorno de Sidnélson Prescott", mas o mais próximos que chegamos de uma seqüência foi um filme realizado de improviso em 2003 chamado A Liga da Preguiça. O elenco: Adriano como Batman, Léo como Super-Homem, eu no papel do Robin e o Leandro voltando a encarnar o assassino encapuzado de Parte II. Muitas cenas faziam referência ao nosso curta de 2000 - o personagem que desaparecia e era truque de câmera, a cena de perseguição com o Leandro e o Adriano e, não podia faltar, a revelação do assassino no final.

Já o DVD duplo para colecionadores, com o filme completo, a versão do diretor, o making of de uma hora de duração, erros de gravação, entrevistas atuais com o elenco e os créditos consertados, incluindo o nome da Sara e o sobrenome correto da Christiane, tudo isso ainda são projetos em andamento. Mas consegui, enfim, digitalizar o filme e jogá-lo no YouTube. Sem mais delongas, portanto...

PARTE II - O MEIO DO FIM

Comece por aqui:



E depois assista esse:

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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