Serenissima
Veneza, Itália15 e 16 de fevereiro de 2007
Tudo que eu tinha pra falar de Veneza eu já escrevi neste post de 2007. De como deixei pra última hora a tarefa de encontrar abrigo e acabei num camping na cidade vizinha de Marghera, onde tomava banho no pior chuveiro do mundo. De como o Carnaval veneziano passa longe das ruas sujas de Diamantina, do frevo suado de Olinda e das penas coloridas da Sapucaí, e se resume a transeuntes trajando fantasias caras à moda de 1600 - isso fora dos grandes salões, onde o pau quebra de verdade, mas só pra quem está disposto a desembolsar cento e tantos euros numa folia aristocrática.
Isso é mais ou menos tudo. Em Veneza não colecionei casos hilariantes, não conheci figuras pitorescas nem me embrenhei museus adentro sedento por cultura. A única atração paga que visitei foi o Campanário da Praça de São Marcos (6€), de cujo topo tem-se uma vista invejável da porção continental da cidade e de suas ilhotas espalhadas pelo Mar Adriático. Também não me dei o trabalho de encontrar o centro de informações turísticas e requisitar meu mapa grátis. Era muito mais divertido tentar seguir as placas duvidosas e as pessoas apressadas, confiando na sorte e conhecendo cantos escusos que um guia de papel não se importaria em ignorar.
Porque Veneza é isso: atração por si só, lugar pra andar a esmo sem outras preocupações a não ser achar sorveterias e desviar dos pombos. Muita água, mas também muita terra firme, o que era uma questão que me perseguia: será que todas as ruelas de Veneza são aquáticas, e a locomoção em duas pernas é só por pontes e meios-fios? Não: os canais são abundantes e vão dos filetes de água à imponência do Gran Canale, mas há diversas praças além da San Marco, e muito chão de verdade para os hidrofóbicos. Transporte, só mesmo os vaporetti - barquinhos motorizados que ligam as várias regiões da cidade - ou as gôndolas, se você for casal ou japonês.
Vagando pela Piazza San Marco, reencontrei duas brasileiras que conhecera no famigerado Alessandro Palace de Roma. Uma de Recife e outra de Belo Horizonte, ambas viajando juntas há semanas. No trem para Veneza, passaram sufoco: alguém afanou a bolsa da belo-horizontina; investigaram todos os vagões e tiveram a sorte de encontrar o passaporte, intacto, dentro de um vaso sanitário. Longe da amiga, a recifense me confidenciou que já estava de saco cheio de viajar com ela. O ritmo das duas não batia, cada uma tinha horários e objetivos e gostos e vontades diferentes, e eu pensando: tem hora que viajar sozinho é bom demais. Lembrava do grupo enorme de Brasília que conheci em Amsterdam, duas mulheres e três homens, e reparando nos problemas causados por falta de afinidades e excesso de convivência. Às vezes é melhor andar sozinho e não ter ninguém te aporrinhando quando você resolve entrar numa loja de instrumentos e comprar um kazoo barato de plástico, ou escrever postais na beira do mar tomando gelato de stracciatella (sempre ele). Se for em Veneza, então, melhor ainda.
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