05/08/2009

Mochilão em Amsterdão



Amsterdam, Holanda
31 de janeiro a 3 de fevereiro de 2007


Cheguei em Amsterdam no fim de uma tarde de quarta-feira, sob uma chuva ligeira e com certo medo de pegar catapora.

No trem que veio de Paris, atravessando a Bélgica e a típica paisagem holandesa repleta de moinhos e tulipas (mentira, não vi tulipa nenhuma), dividi os assentos com uma família amsterdamesa de mãe, vó e um menino de uns 4 anos. Pra passar o tempo, peguei o multi-dicionário com frases-curinga em 14 línguas européias que o De Pinho tinha me emprestado, abri na seção do holandês e fiquei lá tentando conversar com a criança: "Hallo! Hoe gaat het? Hoe heet u?". E reparando nas estranhas marcas vermelhas que ele tinha na cara e pelo corpo.

- Ele teve catapora esses dias, ainda tá meio doentinho - disse a mãe dele para mim, em inglês.
- Eh... e não tem perigo de pegar?
- Diz o médico que não tá mais na fase de contágio. Mas se você pegar, vai saber em duas semanas - e deu um sorrisinho. Era só o que me faltava, pegar catapora no meio de um mochilão. Mas corto logo o suspense: duas semanas depois, meu pedido à Fontana di Trevi foi me manter livre do HHV3, e parece que funcionou.

Fiquei três noites no Stayokay Vondelpark, albergue grandão com gente do mundo inteiro. Teve dia em que saí com uma pá de brasileiros, Rio, São Paulo, Brasília, Paraná. Noutro, fui pro bar com uma turma de estudantes da Sicília que tinham ido de excursão (e eu que me empolgava quando fazíamos excursão pra Gruta da Lapinha...). Na fauna do hostel tinha até uma austríaca que falava português com sotaque arretado, depois de morar por um tempo em Recife. Ri alto no café da manhã quando ela me disse, estupefata:

- Mas você tá viajando SOZINHA?! PÓRRA!

Amsterdão, como dizem os lusitanos, é uma cidade muito simpática. Plana como todos os Países Baixos, cheia de canais e casas de fachada reta, iguais aquelas casinhas de brinquedo cujo nome exato pelejei pra lembrar agora, sem sucesso. Há que se olhar pros cinco lados antes de atravessar a rua, não só porque bicicletas surgem aos bandos quando menos se espera, mas também pro bonde não pegar você andando. Dá pra percorrer o miolo todo a pé, mesmo porque, nessas cidades onde qualquer lugar onde se olhe é um wallpaper em potencial para seu desktop, não convém desperdiçar paisagem enfurnado no metrô.

Casa de Anne Frank: não vá sem ter lido o livro. O prédio onde a jovem judia se escondeu durante anos com a família, entre 1942 e 1944, é um lugar comum, com painéis contando a história da guerra e da família Frank. Mas só quem passou pela leitura do diário da garota consegue ter uma sensação do que deve ter sido passar tanto tempo naqueles cômodos apertados, subir aqueles degraus inclinados, olhar pelas frestas daquelas janelas.

Outras atrações intetressantes em Amsterdam incluem o Museu Van Gogh, com zilhões de quadros de Vincent dispostos em ordem cronológica, entre eles os famosos Comedores de Batata e uma das versões do Quarto em Arles; e o Rijskmuseum (não me perguntem como é que se fala isso), abarrotado de obras de Rembrandt, Vermeer e outros baluartes da pintura holandesa. Repetindo o conselho que dei no texto de Madrid: não visitem os dois direto, um atrás do outro, porque cansa. No meu caso era falta de opção mesmo, dei azar de chegar na cidade num daqueles dias onde não abre museu nenhum.


Mas eu sei que você quer saber é sobre drogas e putaria. Então vamos lá. Ainda no âmbito cultural, Amsterdam oferece o Sex Museum, que custa só 3 euros e exibe em vários andares uma vasta coleção de fotos, pinturas, bonecos e esculturas sobre o ato reprodutivo humano, ou nem tão reprodutivo assim. Quem quer ação de verdade pode ir ao velho Red Light District, onde as moças se exibem nas portinhas de vidro mesmo quando o sol está rachando. Quanto à maconha, não é segredo que é vendida em qualquer coffee-shop, tanto a erva pura quanto cigarrinhos já enrolados. Mas tem uma cousa: onde vende cannabis não vende álcool, e vice-versa. Se você quiser fazer uns combos à la Tim Maia e mandar pra dentro um bolo batizado, uma garrafa de absinto e um Big Tasty, precisa pular de galho em galho.

Agora, o que me intrigou foram as lojas vendendo "magic mushrooms". Porque maconha o cara fuma e no máximo filosofa sobre o sentido da vida (se bem que um brasiliense no meu albergue disse que encontrou Jesus). Mas com cogumelo o sujeito vê berimbau no lugar de gaita, pula no canal achando que é piscina de bolinha e aí já viu. Ao que parece, foi tudo proibido no final do ano passado, e quem quiser um vidrinho de cogumelos tailandeses, havaianos ou amazônicos vai ter um trabalho maior do que pedir num balcão e pagar 13 euros. Muita gente vai reclamar, mas os cachorros agradecem.

Mais Amsterdam aqui.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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