14/01/2011

Hong Kong e China: iguais em muitas coisas, diferentes em outras tantas

Hong Kong e China têm algumas diferenças bem óbvias e outras mais sutis. Como expliquei no post anterior , os cento e cinqüenta e tantos anos de colonização inglesa em Hong Kong ainda são bem perceptíveis, e o status de “Região Administrativa Especial” confere ao lugar algumas características bem particulares. Neste post, listo algumas que observei durante meus cinco dias por lá.

Vale dizer que minhas comparações com a China são baseadas principalmente em Beijing, onde moro há mais de um ano. Viajei pouco pela China em si e talvez algumas das particularidades hongkongueanas que cito aqui possam ser notadas em outras cidades chinesas. Mas a maioria se aplica com certeza. Em Hong Kong, por exemplo...

Brasileiro não precisa de visto pra entrar. A China exige visto para os viajantes de praticamente todos os países do mundo, em trocentas variações (turismo, estudo, trabalho, visita de negócios, etc). Hong Kong é que nem na Europa: brasileiro pode ficar até 90 dias sem precisar de visto nem nada. É só comprar a passagem e ir.

Hong Kong tem sua própria moeda. É o Hong Kong Dollar (HKD), que tem sua cotação atrelada ao dólar americano. 1 HKD equivale a 0,85 RMB (a moeda da China) ou 21 centavos de real.

Já imaginei que Hong Kong seria um lugar caro quando vi os valores máximos de suas notas e moedas. Na China, a moedinha que vale mais é a de 1 RMB (R$ 0,25), e a maior nota, 100 RMB (R$ 25). Em Hong Kong, as moedas vão até 10 HKD (R$ 2,14) e as notas chegam a absurdos 1000 HKD (R$ 214).

E o conjunto de notas ainda conta com o curioso espécime de 10 HKD, que é rosada, de plástico, traz uma rodela transparente e uns desenhos bem psicodélicos.

 

É mais fácil trocar dinheiro. Se na China é só no banco e com passaporte em mãos, em certas áreas de Hong Kong você não dá três passos sem topar com uma casa de câmbio. 

 

Transporte público mais caro. Em Beijing, dá pra atravessar a cidade (que é imensa) de metrô com 2 RMB (R$ 0,50). No metrô de Hong Kong, você paga de acordo com a distância que percorre. O mínimo que gastei foi 5 HKD (R$ 1) para andar umas três estações na mesma linha. Com troca de linhas, subia para 8.50 HKD (R$ 1,80), e pra ir até a ilha de Lantau, foram 21 HKD (R$ 4,50). Mas safado mesmo foi o ônibus de dois andares que custava 9.80 HKD e não dava troco. Quem é que tem nove e oitenta trocados toda vez que entra num ônibus? De vinte centavos em vinte centavos, eles vão enchendo o bolso. Bom é pegar ferry boat e bonde, que são bem mais baratos e muito mais interessantes. 


Fique com o troco, seu animal. 

Os pedestres respeitam o sinal. A rua vazia, nenhum carro passando, e todo mundo lá parado, esperando o bonequinho vermelho mudar de cor. Quase impensável na China, onde se atravessa na primeira chance que aparece, mesmo porque os carros não costumam ligar muito para as faixas brancas pintadas no asfalto ou para os bonequinhos verdes. 

 

Dirigem pelo lado esquerdo. Um londrino se sente em casa nas ruas de Hong Kong. Já eu nunca sabia pra que lado olhar ao atravessar, e mais de uma vez me peguei pensando: “caceta, aquele carro tá andando sozinho!”. Pra facilitar a vida da galera, as ruas estão cheias de avisos que indicam para onde você deve olhar. 


"Olha pro lado. Olha pro outro. Não vem ninguém... alá!" 

Influência inglesa. A Inglaterra devolveu Hong Kong à China há relativamente pouco tempo, em 1997. A herança do país ainda é bem visível e, além da mão inglesa no trânsito, pode ser notada nos nomes das ruas (Queen Road, Waterloo Road), na quase ausência do “chinglish” (não vi nenhuma placa escrita em inglês insano), sem esquecer dos inúmeros pubs estilo britânico vendendo Guinness no balcão. 

Cinemas geograficamente ecléticos. Os cinemas chineses só podem exibir coisa de 20 filmes estrangeiros por ano, que acabam se resumindo aos Avatares e Harry Potters da vida porque são garantia de boas bilheterias. O resto é tudo produção local. Em Hong Kong, dei uma folheada no jornal e reparei que estavam passando filmes de várias partes do globo, incluindo Estados Unidos, Japão, Suécia, Taiwan, Coréia do Sul e França. Curiosamente, não havia nenhum da China. 

Presença mais forte da religião. Mais especificamente, do cristianismo. Outro dia vi um presépio em Beijing e tinha até um texto do lado explicando do que se tratava, quem era aquele menino na manjedoura e o que aqueles três reis estavam fazendo ali. Em Hong Kong passei por várias igrejas (imagino que sejam anglicanas, mas não confirmei) e vi até um grupo local numa passarela cantando músicas gospel em cantonês, atrás de um pedestal com um banner onde se lia “Jesus loves you”. 

É Natal, é Natal! Ou era, na época em que estive lá. Pra todo canto era Papai Noel, guirlandas, árvores e o escambau. Se em Beijing a decoração de Natal esteve mais forte este ano do que em 2009, mesmo que os nativos não saibam bem o que está sendo celebrado, em Hong Kong o clima natalino beirava o insuportável. Perdi a conta de quantas vezes ouvi “Jingle Bells”, “Wish You a Merry Christmas” e aquela “ Todos tenham um bom Nata-al, tralalalalá, lalalalá ” dentro de toda e qualquer lojinha em que entrava, em versões jazz, reggae, rap. 


No que é que esse Papai Noel tá segurando?! 

Pouquíssimas bicicletas. A cidade é plana, não entendi porque o ciclismo não é estimulado. Contei no dedo as bicicletas que vi nas ruas durante quase uma semana em Hong Kong – foram seis. Em Beijing, é só abrir a janela que você já vê umas seiscentas. 

É proibido fumar em qualquer ambiente fechado, incluindo bares, restaurantes, shoppings, karaokês e escadas rolantes. A multa é de 1500 HKD (R$ 320). Na China, infelizmentíssimo, uma lei desse tipo está longe de ser aprovada, e às vezes é difícil até almoçar sem escapar daquela fedentina tabagista vindo de todos os lados. 

É permitido multar. A multa para os fumantes não é a única de Hong Kong. Jogar bituca de cigarro no chão ou alimentar pombos pode levar a uma penalidade de 1500 HKD, puxar a alavanca de emergência do metrô sem necessidade rende multa de 5000 HKD (R$ 1070) e jogar lixo no cais do porto acarreta multa de 10.000 HKD (R$ 2140) e seis meses de prisão. Suspeito que o pessoal com medo de atravessar a rua no sinal fechado também tenha algo a ver com isso. 

 

Mania de limpeza. É difícil caminhar dez metros em Beijing sem passar por aquela cusparada certeira batizando o asfalto. Em Hong Kong é o contrário: a mania de limpeza parece quase obsessivo-compulsiva. Maçanetas desinfectadas a cada meia hora e botões de elevador esterilizados trinta vezes ao dia fazem você pensar se aquilo já não é demais. Ah, e nada de cuspir na lixeira do metrô: a multa é de 5000 HKD. 

 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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