29/03/2011

Booooom diaaaaa, Vietnããããã!

 

Comprar passagem da China para o Vietnã deveria ser fácil, mas não foi. A única companhia aérea que saía em conta era a China Southern, mas o sistema de compras do site deles não funcionava nem a porrete. Tentei com cartão de crédito internacional, nada. Com cartão de banco chinês, necas. Decidi ligar para um famoso serviço de vendas de passagens, e travei o seguinte diálogo com a atendente: 

“Por favor, você poderia verificar o preço de uma passagem de Beijing para Hanói?” 
“Só um momento, senhor.” 
“Ok.” 
“O sistema encontrou um vôo, mas tem uma escala.” 
“Onde é?” 
“Em Amsterdam.” 
“Em... Amsterdam?” 
“Sim. Amsterdam.” 
“Só pra confirmar: em que país?” 
“Holanda, senhor.” 

Achei a sugestão meio fora de mão e desliguei. 

 
Se você não visualizou direito, foi esse o itinerário que ela me recomendou. 

Munido de todas as informações desencontradas que catei na internet, fui pessoalmente até o escritório da China Southern em Beijing. Consegui uma passagem com escala em Guangzhou (vulgo Cantão), no sul da China, o que me pouparia umas boas 20 horas em relação ao trajeto proposto pela telefonista, e pude enfim garantir minha viagem para o feriado do Ano-Novo Chinês. 

A Festa da Primavera, como também é conhecido o reveillón com base no calendário lunar, muda de data a cada ano: em 2011, a hora da virada caiu à meia-noite de 3 de fevereiro. Mas ao contrário do nosso ano-novo, que é pura curtição, a versão chinesa está mais para um Natal, festa quieta em casa, comilança em família. Ano passado fiquei em Beijing durante a Festa da Primavera e não foi muito empolgante: apesar dos incessantes fogos de artifício, não se via viv'alma nas ruas, e até os bares e restaurantes estavam fechados, porque todos os cozinheiros e garçonetes voltam para suas cidades natais pra passar o feriado com a família. 

Em 2011, resolvi zarpar para outros ares. Mas em que direção? Viajar dentro da China nessa época é quase impraticável. Os vôos se esgotam, os trens viram formigueiros, as estradas ficam empacotadas. É a maior migração em massa do planeta, com mais de 2 bilhões de viagens em um período de poucas semanas. O Vietnã acabou surgindo como uma opção interessante: não fica tão longe, é um lugar barato e tem um clima bem camarada em comparação com países mais próximos a Beijing, como Coréia do Sul ou Mongólia. Depois de meses passando frio de até -15 graus, qualquer solzinho é lucro. 

A maioria dos brasileiros ainda associa o Vietnã à imagem da guerra. É natural, ainda mais com tantos filmes sobre o tema até hoje aparecendo por aí. (E tem o caso da minha avó, que, ao saber que eu iria pra lá, reagiu com o seguinte aviso: “Cuidado que o Bin Laden te pega lá! ”.) Uma pesquisa rápida sobre o Vietnã, no entanto, já passa uma imagem bem diferente: belas paisagens naturais, boa comida, um “caos moderado” nas cidades e aquela mistura de cores e cheiros típica do Sudeste Asiático. 

 
Sorrisos contagiantes como esse são a cereja do bolo. 

Não vou ficar relembrando a guerra por aqui: se você matou as aulas de História, é legal dar um pulo na Wikipedia ou ouvir o Nerdcast sobre o assunto. Aliás, no Vietnã o combate é conhecido por outro nome: Guerra Americana. (Isso me faz pensar: como será que a Guerra do Paraguai é chamada por lá?) Hoje em dia os norte-americanos são bem-vindos no país, e as verdinhas nos seus bolsos mais ainda. 

 

O Vietnã é um país alto e magro, tipo o Chile. Tem a China em cima, o Laos e o Camboja espremendo pelos cantos e um marzão no lado leste. Minha idéia inicial era visitar a capital, Hanói, e a antiga capital do Vietnã do Sul, Ho Chi Minh City, ex-Saigon (ela ganhou o nome do líder do norte logo após o fim da guerra). Mas essa longa distância entre uma e outra me fariam gastar mais tempo em trânsito do que conhecendo, e optei apenas por Hanói e um arquipélago espetacular não muito longe dali, Halong Bay. 

Passagem nas mãos, hotel reservado (com direito a carro buscando a gente no aeroporto, o que é uma mão na roda quando se chega em um país desconhecido à uma hora da manhã), só faltava o visto. O documento é exigido apenas para arrancar um dindim extra dos turistas, porque quem é que almeja ser trabalhador migrante ilegal no Vietnã? Exceto alguns privilegiados (russos, escandinavos, sul-coreanos, cidadãos de países vizinhos), todo mundo precisa de um visto para lá, que é estilo PP (pagou, pegou), mas exige uma certa disposição pra visitar a embaixada pelo menos duas vezes. 

Escolhemos uma alternativa mais conveniente: um visto em duas etapas, iniciado pela internet e completado no aeroporto, ao chegar no país. Você paga uma taxa para uma agência, manda seus dados e eles te retornam em alguns dias com uma carta carimbada pra você imprimir e levar. No aeroporto, paga mais uma taxa pra eles colarem o adesivo oficial no passaporte. Não é barato, mas não fica mais caro que o processo normal, e ao menos dá pra evitar os escassos horários de atendimento ao público na embaixada só pra pedir seu papelzinho. 

Mas não dá pra evitar a fila. Acho que metade dos gringos do meu vôo optaram pelo visto em duas partes, e eu achei que fôssemos ficar umas duas horas ali, porque fomos um dos últimos a entregar a papelada e o passaporte para conferência. Ledo (e agradável) engano: eles foram empilhando os passaportes da galera e começaram a emitir os vistos pegando primeiro os que estavam por cima da pilha. Não demorou muito e já tínhamos o passaporte de volta, ao contrário daqueles que correram pra chegar na frente e precisariam esperar até o final. Com o visto nos trinques, eu seguia o exemplo de Forrest Gump, Rambo e tantos outros, e entrava finalmente em solo vietnamita. 

 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

22/03/2011

Hong Kong: a raspa do tacho

A série de posts sobre Hong Kong aqui no Boca de Gafanhoto foi a mais longa do blog até hoje. Depois de uma introdução , falei das comidas hongkonesas , das diferenças entre HK e a China continental , do dinheiro que perdi nas corridas de cavalos , mostrei algumas atrações turísticas interessantes ( The Peak, Avenida dos Astros , o restaurante Bubba Gump , museus do Espaço, de Arte de Ciência de estátuas de cera ), comparei os dois meios de transporte mais icônicos da ilha, descrevi o prédio bollywoodiano onde me hospedei e publiquei vídeos sobre os mercados "noturnos" da cidade e o Buda Gigante .

Chegou a hora de encerrar a série ronguecônguica com uma tradicional "raspa do tacho", com algumas fotos avulsas tiradas durante meus cinco dias em Hong Kong.

Como acomodar quarenta turistas em um mesmo riquixá? Moleza: é só inventar um ônibus-riquixá.


Detalhe para o vergonhoso desenho da roda e do capô.


É a crise: em vez de celebridades para atestar a credibilidade de um produto, agora apelam para personagens fictícios.

"Clark Kent veste Chocolate. Confie no bom gosto de uma celebridade de PAPEL!" 

O revéillon brasileiro em HK tem que ser, claro, um Carnaval antecipado.


E a Amazônia virou tema de bar, com direito ao slogan "Welcome to the jungle".


A vasta variedade da medicina chinesa...


...utiliza ingredientes que não soam lá muito ecológicos. Pílulas e óleos de foca?




As tradicionais placas de proibido guardam algumas surpresas. Por exemplo: uma cusparada pode levar a uma salgada multa de 5 mil dólares de Hong Kong (R$ 1000)...


...e não me venha querer andar de patinete no metrô!


"Polvos são bem-vindos"?

(Na verdade eles estão falando do "octopus card", um cartão multifunções que todo hongkonês tem. Mas é claro que imaginei o finado polvo Paul, sendo recebido com tapete vermelho e honras de Estado.)

Mas nesta aqui, a julgar pela descrição na plaquinha - "a padaria para cachorros" - os animais são recebidos de braços abertos.


Banco Imobiliário gigante!


Quando vi, já estava em cana.


Os bondes ainda são um meio de transporte comum em HK, e além de estilosos são baratos. Alguns têm um terraço bacanudo e permitem até aluguel para festas fora do horário de funcionamento. Dá pra pegar o bonde andando, sambando e enchendo a cara.


Olha que beleza: no pé da escada do metrô, um cartaz anunciando quantos degraus você tem pela frente. E ainda o conselho: "suba escadas todos os dias para ter boa saúde e felicidade". Queria ver uma plaquinha dessas no pé da Grande Muralha.


Pra quem não quer subir escada cousa nenhuma, uma descoberta curiosa: a primeira vez que vejo na vida uma escada rolante que faz curva.


Esses andaimes estavam por toda a cidade e me chamaram a atenção:


Não que eu seja de subir em andaime por aí, mas se fosse o caso, me sentiria bem mais seguro equilibrado numa estrutura de metal, do que numa de... bambu.



E o bambu? 

11/03/2011

A sorte vem a cavalo

Quando negociou a devolução à China da colônia britânica de Hong Kong, o ex-presidente chinês Deng Xiaoping tratou de tranqüilizar os moradores da ilha quanto aos assuntos mais importantes: 

– "As boates continuarão funcionando, e os cavalos continuarão competindo". 

As corridas de cavalo são um dos passatempos preferidos dos hong kongers, uma herança britânica que já dura uns bons cento e cinqüenta anos. A incerteza quanto à continuidade dessas corridas fazia sentido: na China continental, qualquer jogatina valendo grana é proibida. Mas assim como os inúmeros cassinos de Macau prosseguiram a pleno vapor, os cavalos de Hong Kong não foram aposentados e permanecem fazendo a alegria de sua multidão de fãs – e apostadores. 

Tirei minha última noite em Hong Kong para conferir a famosa corrida de cavalos. Não fazia idéia de como seria – se o ambiente era tranqüilo ou agitado, quantas corridas havia por noite, qual o valor das apostas, se teria que usar roupa chique –, mas só a experiência já tava valendo. O hipódromo onde fui, o Happy Valley, é véio de guerra: sua primeira corrida foi em 1846. 

Indo pra apostar ou pra bisoiar, tem que pagar a entrada. Mas o preço é camarada: 10 dólares de Hong Kong (HKD), o que dá uns 2 reais. Muita gente freqüenta o Happy Valley só pra matar o tempo e tomar uma cerveja. E nisso, ele é bem equipado. Tem quiosques de marcas famosas de cerveja, restaurantes e até um méquidônalde. O freqüentador comum, que não tem cadeira cativa e carteirinha do Jockey Club, pode escolher as arquibancadas ou ficar na grade pra ver os cavalos de perto. Não estava muito cheio e escolhi a grade. Mas eu não tinha ido ali só pra olhar: como é que vou na primeira corrida de cavalos da minha vida e não aposto ao menos uns trocados? Às vezes a sorte vinha a cavalo e eu saía de lá com cheio da nota. 

 

O sistema de apostas parece complicado de cara, mas é preparado para calouros. Cheguei lá com cara de perdidão e um funcionário veio me explicar como proceder. Disse que a aposta mínima era de 10 HKD e me deu um papel cheio de dados e estatísticas, que não entendi patavina e resolvi ignorar, escolhendo meus cavalos pelo nome. Algumas possibilidades: Conqueror, King Galileo, Son of the West, Incredible Eagle. Optei pelo número 7 (Fantastic Time) e o 2, Kowloon Pride, em homenagem à região de Kowloon, onde eu estava hospedado 

 

Voltei ao alambrado para esperar a corrida, que começava às 19h15. Trouxeram os cavalos, doze no total. Vieram os jóqueis e subiram em suas cacundas. Veio a contagem regressiva e pá! Foi dada a largada. A tropa veio zunando e desapareceu rápido do nosso campo de visão, mas um telão mostrava tudo o que acontecia, com ângulos espertos de câmera e informações sobre quem vinha na frente. Pouco depois, comecei a ouvir o galopar, os cavalos despontaram no horizonte, os jóqueis empolgados, a galera gritando alucinada, vai Malhado!, vai Malhado!, e terminou. No total, um minuto, 42 segundos e 25 centésimos (eu contei). 

Decepção. O primeiro lugar foi para o Amazing Venture, seguido por Multilove e Incredible Eagle. Meus cavalos foram terríveis: Fantastic Time terminou em sétimo e Kowloon Pride amargou o penúltimo lugar, para vergonha de Kowloon. 


Tem que limpar rápido, senão os cavalos passam por cima. 

Nesse ponto eu estava com um copão de cerveja numa mão, o folheto de estatísticas na outra e já tinha desistido de ir embora cedo. Ao meu redor, aficionados liam compenetrados seus jornais, analisando chances e riscos, levando a coisa a sério. A próxima corrida seria dali a meia hora. Peguei uns folders explicativos e resolvi aprender direito como é que funcionava aquele troço. 

Não é difícil. Existem dois tipos básicos de apostas: WIN e PLACE. 

Apostando em algum cavalo no WIN, você só ganha se ele chegar em primeirão. 

Apostando no PLACE, você ganha se o cavalo escolhido ficar em primeiro, segundo ou terceiro. 

Por ser mais duvidosa e arriscada, a aposta no Win paga muito mais. O Place triplica suas chances, mas paga bem menos – e se seu cavalo chegar em primeiro, você ainda passa raiva de pensar que poderia ter jogado no Win. 

Você pode apostar quanto quiser, em quantos cavalos quiser, e o valor do prêmio é inversamente proporcional à popularidade do cavalo: quanto mais gente aposta suas fichas no cavalo tal, menos cada apostador receberá. No telão você fica sabendo em detalhes se um cavalo está em alta ou em baixa: 

 
Qualquer relação entre a foto tremida e meu copão de cerveja terá sido mera coincidência. 

Vamos lá. A coluna em vermelho indica o número do cavalo, de 1 a 12. Ao lado de cada um desses, temos um número em azul claro (representando o WIN) e outro em amarelo (PLACE). Esses números mostram quanto é que cada aposta vai pagar nessa corrida. Digamos que você apostou 10 HKD no número 1. Se jogou no Win e o cavalo chegou em primeiro, você receberá 19 vezes o valor da aposta, ou seja, 190 HKD. Se marcou Place e o eqüino ficou entre os três primeiros, ganhará 5,3 vezes a sua aposta (53 HKD). 

Número alto significa que ninguém está botando fé no bicho: um Win no cavalo 9 está pagando 29 pra 1, tornando este o azarão da corrida. Número baixo significa que ele é um dos favoritos. Nesta aqui, o mais cotado é o cavalo 4, que paga o menor valor: 4,5 pra 1 no Win, 1,9 pra 1 no Place. (O vencedor da corrida da foto foi o cavalo 1.) 

 

O que esse pessoal tanto lia nos jornais eram as estatísticas de corridas passadas e os palpites dos especialistas sobre quem tá com tudo, quem pode surpreender, esse lero-lero. Tava tudo no papel que ganhei do cara do balcão de apostas. Dá pra você saber se determinado cavalo venceu alguma corrida recente, se tem costume de correr com esse jóquei, qual sua velocidade média, só faltou falar se come ração fortificada e se o horóscopo do dia é favorável. 

 

Claro que, na hora do vamuvê, estatísticas não significam nada. Tanto que o meu Kowloon Pride, que perdeu vergonhosamente, era o único que tinha 3 "joinhas" no papel. É tipo o Brasil nas últimas Copas. 

Para a segunda corrida, diversifiquei minhas apostas. Continuei jogando no Place, dessa vez em três cavalos: Good Boy Boy, Oriental Courser (ambos com 3 joinhas) e Fastplus Master (cujo nome já impunha respeito). 

É bem complicado saber quem venceu se não ficar de olho no telão. Às vezes a disputa é bem acirrada e eles ganham por um focinho. O vencedor dessa segunda corrida foi o Hawthorne, número 1, que completou a volta em 0'57''85. O número 11, Oriental Courser, em que apostei, terminou em 0'57''86. Um centésimo de diferença! Como eu havia jogado no PLACE, dava no mesmo se ele chegasse em primeiro ou segundo. Mas meu prêmio foi uma merreca: 16 HKD. 

Poucas horas no Happy Valley me fizeram perceber um negócio: se eu morasse numa cidade com hipódromo e tivesse amigos que também gostassam, esse fatalmente acabaria virando um programa freqüente. Menos por gostar de ver cavalos correndo, mas pelo clima, as apostas, a cerveja, a diversão. Ali eu conheci por acaso uma pá de brasileiros (vários deles pilotos de avião da Hong Kong Express, óia só), que curtiam ir ao hipódromo regularmente, como entretenimento mesmo. 

Na corrida das 20h15, a terceira, apelei: apostei em quatro cavalos, tudo no Place. Solar Up, Joyful Joyful e Dr. Win não deram em nada. O Fionn's Dragon chegou em segundo e me rendeu míseros 11,50 HKD. Eu já tinha perdido dinheiro demais – gastei mais de 100 HKD nessa brincadeira e só recuperei 27,50 – e, prudentemente, resolvi parar. 

Mas passei o resto da noite ali, conversando com a brasileirada e vendo a cavalaria passar. Foram 8 corridas no total, com um intervalo de meia hora entre cada uma. E você acha que vai querer ir embora depois da próxima, mas vai ficando, porque naquele intervalo tem a volta olímpica do cavalo vencedor, o jóquei felizão saudando a galera, a apresentação dos cavalos da próxima corrida, e dá aquela curiosidade de saber se o próximo ganhador será o favorito ou o azarão. 

 

Na sexta corrida, quebrei minha promessa e cedi a uma última aposta. Foi porque vi no telão que o cavalo número 7 ("Team Work") tinha o maior índice de rejeição da noite, e por isso pagava absurdos 99 para 1 no Win. Resolvi apostar nele, e unicamente nele, na expectativa de que essa corrida de cavalos desse zebra, e joguei no Place, que pagava menos, mas ainda valia a pena: 10 HKD podiam me garantir uns 400. 

Fiz uma figa, a corrida começou, e o Team Work disparou em segundo! Caramba, nem acreditei. Era só agüentar nesse ritmo por mais um minutinho que eu teria grana suficiente pra pagar cerveja pra todo mundo e ainda voltar pra casa com a carteira polpuda. 

Mas nos vintes segundos finais... bom, aí eu entendi o que faz um cavalo ser bom de pista. É a regularidade. Os piores desembestam na frente, enchem de esperança seus apostadores e morrem na praia ali no finalzinho, bufando. Os bonzões mantêm um ritmo mediano constante e só na reta final é que galopam a mil, ultrapassando os concorrentes e garantindo o pódio. O Legend Express, que começou lá atrás, ficou em primeiro. E o Team Work, que chegou a ficar em segundo durante boa parte da corrida, terminou num mirrado oitavo lugar. 

A sorte quase me veio a cavalo, mas perdeu o fôlego. 

07/03/2011

Quarta maluca dos museus II - Da Vinci e os espelhos

Minha primeira impressão do Museu de Ciência de Hong Kong foi bem similar ao Museu de Espaço: uma imensa maioria de atrações com grande apelo infanto-juvenil, gerando dois tipos de problemas para o público pós-12 anos.

1) Muitas exibições acabam parecendo superficiais e bobinhas.
2) Aquelas que são bacanas, interessantes e interativas estão igualmente lotadas de fedelhos, pouco dispostos a arredar pro lado e deixar os adultos brincarem também.


Olá amiguinhos! Hoje vamos falar de segurança no trabalho. Um assunto extremamente interessante para a criançada! 

A “Ciência” do nome do museu abrange um número considerável de ramificações. Mais de quinze galerias exibem trecos e troços sobre luz, som, movimento, eletricidade, magnetismo, matemática, transporte, telecomunicações, nutrição, energia, saúde, etc, etc, etc. São mais de 500 atrações e quase 70% são interativas, cheias de botõezinhos, manivelas, câmeras e espelhos. Uma das mais legais é uma “cama de faquir”: você deita, o cara aperta um botão e milhares de pregos pontiagudos sobem, levantando seu corpo por alguns centímetros. E você sequer percebe. 


As camas chinesas não são muito diferentes. 

Eu já estava quase indo embora do Museu de Ciências quando resolvi conferir o subsolo, e acabei estendendo minha visita em mais umas três horas (e perdendo a hora pra ver o Museu de História logo em frente). De ilusões de ótica a esqueletões de dinossauro, trocentos campos da Ciência estavam ali representados, como se fosse uma daquelas feiras de colégio, mas numa versão profissa. 

 

Uma exibição temporária me atraiu especialmente: “As Maravilhosas Invenções de Leonardo da Vinci”. Você sabe, Da Vinci estava pelo menos uns 300 anos à frente do seu tempo – se fosse um pouquinho mais visionário, seria também cineasta, programador e tuiteiro. A exposição trazia maquetes baseadas em seus inúmeros esboços, a maioria nunca posta em prática: criações davincianas em mecânica, hidráulica, vôo, armas de guerra, além de reproduções de suas pinturas mais importantes. 

 
Da Vinci se declarava um pacifista, mas também precisava comer, e ganhava uma grana para projetar armas de guerra como essa, cercada de canhões por todos os lados. 

 
A carapaça de cavaleiro medieval é só fachada: esse era um projeto de um robô rudimentar (!!). 

 
A ponte do rio que cai: visitantes tentam montar uma ponte davinciana que não precisava de nenhuma corda ou material extra, apenas uma peça encaixada na outra. Não conseguiram. 

 
Por que duas Monas Lisas? É que a da esquerda é uma versão restaurada digitalmente, "limpando" a obra dos efeitos do tempo.  



 
Parece forca, mas é uma espécie de roupa de mergulhador - olha ali os tubos de ar saindo da boca do cara. 

 
Pra quem não quer é afundar, ele também fez uma bóia jóia. 

 
E se a intenção é voar, Leonardo pensou nisso também. 

 
As asas em tamanho natural. Quem topa encarar um vôo nessa coisa?

01/03/2011

Quarta maluca dos museus

Os museus de Hong Kong não têm preços fura-olho como outros lugares, mas economizar nunca é demais – ainda mais numa cidade que come dinheiro como essa. Quarta-feira é o dia ideal para visitar os museus ronguecônguicos, porque todos participam da mesma promoção ("o curador pirou!") e têm entrada grátis. Consegui visitar três numa mesma quarta: quando terminei a maratona, já era noite e o Museu de História acabara de fechar. Fica pra próxima. Neste post apresento os dois primeiros que visitei, o Museu do Espaço e o Museu de Arte.

O Museu do Espaço 


E.T. Welcome. You. 

 
Bonita a foto, né? Achei no Google. 

Do lado de fora, a imensa bolota branca salta aos olhos e não deixa dúvidas: se algum lugar ali perto tem vocação pra abrigar um Museu do Espaço, é este prédio aqui. No interior, diversas mini-exibições interativas oferecem ao visitante um panorama informativo e divertido sobre ciências, astronomia e tecnologia. (Putz, que frase mais press release . Só faltava eu acrescentar um "você vai aprender brincando!"). É tudo legal, bem feito e tal, mas vou ser sincero: quanto mais velho você for, mais bobinhas soam as atrações. A que mais me atraiu foi um simulador antigravidade, feito pra você sentir que está andando na Lua, mas eles só abrem a cada tantas horas e quando fui estava fechado. Na lojinha de souvenirs, além das traquitanas de sempre, estava um pacotinho de "comida espacial": " sanduíche de sorvete seco e congelado sabor baunilha". Pagar 40 HKD pra experimentar gororoba de astronauta? Não, obrigado. 

O ponto alto da minha visita ao Museu do Espaço, curiosamente, não foi relacionado ao Espaço ou à Fronteira Final, mas às profundezas do oceano. A tal bolota gigante abriga um cinema Imax com uma tela ocupando metade da cúpula, e o filme da vez era o "Under the Sea 3D". É um documentário de 40 minutos com imagens estupendas das águas do Pacífico (sul da Austrália, Papua Nova Guiné, por ali) e suas criaturas bizarríssimas, mais criativas que qualquer alienígena de seriado de sci-fi. E em vez daquele locutor de sempre da Discovery com voz de Cid Moreira, a narração é do Jim Carrey. 


Na foto: Jim Carrey sob pesada maquiagem e um mergulhador. 

O Museu de Arte 

Vou confessar um negócio: não tenho lá muita paciência para arte chinesa antiga. Vasos ornamentados, peças de caligrafia e relíquias de dinastias de outrora são de inegável importância histórica e certamente têm o seu público, mas não fazem muita parte do meu repertório nem me despertam paixão. A colexão fixa do Museu de Arte de Hong Kong é calcada nessa arte antiga, e a julgar pelos comentários no livro de visitas, também polariza opiniões. " Muito interessante! ", escreveu um visitante. " Como assim interessante? ", retrucou outro, logo abaixo. E havia uma observação pertinente escrita em chinês: " Muito bonito! Se tivesse lugar pra sentar, seria melhor ainda. 

 

As exposições temporárias me apeteceram bem mais. Tinha uma, chamada "The Ultimate South China Travel Guide II" – simples, praticamente sem acervo – que achei uma ótima sacada. A premissa era fornecer informações para uma possível visita ao sul da China – só que no século 19. Um Lonely Planet para viajantes do tempo. 

Textos e reproduções de pinturas da época informavam aos pretensos Marties McFlies o que precisavam saber para um tour esperto por Cantão e região. De como chegar (" Navios partem duas vezes por mês de Southampton e duas vezes por mês de Marselha ") às atrações e atividades imperdíveis (" Poucos vão admitir isso abertamente, mas entregar-se à jogatina é um dos passatempos favoritos do povo de Macau "), estava tudo lá. Algumas dicas eram especialmente valiosas: " Não vá antes de 1840, ou chegará no meio da Guerra do Ópio. 

A exibição contava até com um "phrasebook" apresentando o turista temporal ao Pidgin English, uma forma distorcida do inglês com sintaxe esquisita e pronúncia acantonesada: 

Muito obrigado – "Too muchee thankee"
Sinto muito – "My velly sorry"
Eu quero isto – "My wantchee thisee"
Socorro! - "Makee help my!"
Estou bêbado – "Got tipsy"
Ele foi assassinado – "Some man killum him" 

 

A outra exibição temporária se chamava "Touching Art". Na porta, eles te instruem a lavar a mão com álcool antes de entrar. Lá dentro estão 18 réplicas em tamanho real, feitas de resina ou gesso, das estátuas mais famosas do Museu do Louvre em Paris. Aí você descobre que o "touching" do nome não era no sentido de tocante, comovente, mas de passar a mão mesmo. Você é convidado a apalpar cabeça, tronco e membros (entenda como quiser) de todas aquelas estátuas multicentenárias do Louvre. Que, claro, não primam exatamente pelo decoro: Michaelangelo adorava esculpir uma genitália, pra não falar naquela gregaiada tarada. O museu explica que a intenção é fazer o usuário perceber como movimentos de corrida, dança ou queda eram reproduzidos com fidelidade ímpar nessas esculturas. Mas a malícia é inevitável. Para as mulheres, é uma oportunidade de examinar com zelo as partes íntimas dos deuses da mitologia grega. Para os homens, é a chance de poder dizer que você pegou nos peitinhos da Vênus de Milo. 


Que, convenhamos, não são lá grande coisa. 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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