29/03/2011

Booooom diaaaaa, Vietnããããã!

 

Comprar passagem da China para o Vietnã deveria ser fácil, mas não foi. A única companhia aérea que saía em conta era a China Southern, mas o sistema de compras do site deles não funcionava nem a porrete. Tentei com cartão de crédito internacional, nada. Com cartão de banco chinês, necas. Decidi ligar para um famoso serviço de vendas de passagens, e travei o seguinte diálogo com a atendente: 

“Por favor, você poderia verificar o preço de uma passagem de Beijing para Hanói?” 
“Só um momento, senhor.” 
“Ok.” 
“O sistema encontrou um vôo, mas tem uma escala.” 
“Onde é?” 
“Em Amsterdam.” 
“Em... Amsterdam?” 
“Sim. Amsterdam.” 
“Só pra confirmar: em que país?” 
“Holanda, senhor.” 

Achei a sugestão meio fora de mão e desliguei. 

 
Se você não visualizou direito, foi esse o itinerário que ela me recomendou. 

Munido de todas as informações desencontradas que catei na internet, fui pessoalmente até o escritório da China Southern em Beijing. Consegui uma passagem com escala em Guangzhou (vulgo Cantão), no sul da China, o que me pouparia umas boas 20 horas em relação ao trajeto proposto pela telefonista, e pude enfim garantir minha viagem para o feriado do Ano-Novo Chinês. 

A Festa da Primavera, como também é conhecido o reveillón com base no calendário lunar, muda de data a cada ano: em 2011, a hora da virada caiu à meia-noite de 3 de fevereiro. Mas ao contrário do nosso ano-novo, que é pura curtição, a versão chinesa está mais para um Natal, festa quieta em casa, comilança em família. Ano passado fiquei em Beijing durante a Festa da Primavera e não foi muito empolgante: apesar dos incessantes fogos de artifício, não se via viv'alma nas ruas, e até os bares e restaurantes estavam fechados, porque todos os cozinheiros e garçonetes voltam para suas cidades natais pra passar o feriado com a família. 

Em 2011, resolvi zarpar para outros ares. Mas em que direção? Viajar dentro da China nessa época é quase impraticável. Os vôos se esgotam, os trens viram formigueiros, as estradas ficam empacotadas. É a maior migração em massa do planeta, com mais de 2 bilhões de viagens em um período de poucas semanas. O Vietnã acabou surgindo como uma opção interessante: não fica tão longe, é um lugar barato e tem um clima bem camarada em comparação com países mais próximos a Beijing, como Coréia do Sul ou Mongólia. Depois de meses passando frio de até -15 graus, qualquer solzinho é lucro. 

A maioria dos brasileiros ainda associa o Vietnã à imagem da guerra. É natural, ainda mais com tantos filmes sobre o tema até hoje aparecendo por aí. (E tem o caso da minha avó, que, ao saber que eu iria pra lá, reagiu com o seguinte aviso: “Cuidado que o Bin Laden te pega lá! ”.) Uma pesquisa rápida sobre o Vietnã, no entanto, já passa uma imagem bem diferente: belas paisagens naturais, boa comida, um “caos moderado” nas cidades e aquela mistura de cores e cheiros típica do Sudeste Asiático. 

 
Sorrisos contagiantes como esse são a cereja do bolo. 

Não vou ficar relembrando a guerra por aqui: se você matou as aulas de História, é legal dar um pulo na Wikipedia ou ouvir o Nerdcast sobre o assunto. Aliás, no Vietnã o combate é conhecido por outro nome: Guerra Americana. (Isso me faz pensar: como será que a Guerra do Paraguai é chamada por lá?) Hoje em dia os norte-americanos são bem-vindos no país, e as verdinhas nos seus bolsos mais ainda. 

 

O Vietnã é um país alto e magro, tipo o Chile. Tem a China em cima, o Laos e o Camboja espremendo pelos cantos e um marzão no lado leste. Minha idéia inicial era visitar a capital, Hanói, e a antiga capital do Vietnã do Sul, Ho Chi Minh City, ex-Saigon (ela ganhou o nome do líder do norte logo após o fim da guerra). Mas essa longa distância entre uma e outra me fariam gastar mais tempo em trânsito do que conhecendo, e optei apenas por Hanói e um arquipélago espetacular não muito longe dali, Halong Bay. 

Passagem nas mãos, hotel reservado (com direito a carro buscando a gente no aeroporto, o que é uma mão na roda quando se chega em um país desconhecido à uma hora da manhã), só faltava o visto. O documento é exigido apenas para arrancar um dindim extra dos turistas, porque quem é que almeja ser trabalhador migrante ilegal no Vietnã? Exceto alguns privilegiados (russos, escandinavos, sul-coreanos, cidadãos de países vizinhos), todo mundo precisa de um visto para lá, que é estilo PP (pagou, pegou), mas exige uma certa disposição pra visitar a embaixada pelo menos duas vezes. 

Escolhemos uma alternativa mais conveniente: um visto em duas etapas, iniciado pela internet e completado no aeroporto, ao chegar no país. Você paga uma taxa para uma agência, manda seus dados e eles te retornam em alguns dias com uma carta carimbada pra você imprimir e levar. No aeroporto, paga mais uma taxa pra eles colarem o adesivo oficial no passaporte. Não é barato, mas não fica mais caro que o processo normal, e ao menos dá pra evitar os escassos horários de atendimento ao público na embaixada só pra pedir seu papelzinho. 

Mas não dá pra evitar a fila. Acho que metade dos gringos do meu vôo optaram pelo visto em duas partes, e eu achei que fôssemos ficar umas duas horas ali, porque fomos um dos últimos a entregar a papelada e o passaporte para conferência. Ledo (e agradável) engano: eles foram empilhando os passaportes da galera e começaram a emitir os vistos pegando primeiro os que estavam por cima da pilha. Não demorou muito e já tínhamos o passaporte de volta, ao contrário daqueles que correram pra chegar na frente e precisariam esperar até o final. Com o visto nos trinques, eu seguia o exemplo de Forrest Gump, Rambo e tantos outros, e entrava finalmente em solo vietnamita. 

 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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