Quarta maluca dos museus
Os museus de Hong Kong não têm preços fura-olho como outros lugares, mas economizar nunca é demais – ainda mais numa cidade que come dinheiro como essa. Quarta-feira é o dia ideal para visitar os museus ronguecônguicos, porque todos participam da mesma promoção ("o curador pirou!") e têm entrada grátis. Consegui visitar três numa mesma quarta: quando terminei a maratona, já era noite e o Museu de História acabara de fechar. Fica pra próxima. Neste post apresento os dois primeiros que visitei, o Museu do Espaço e o Museu de Arte.
O Museu do Espaço
E.T. Welcome. You.
Bonita a foto, né? Achei no Google.
Do lado de fora, a imensa bolota branca salta aos olhos e não deixa dúvidas: se algum lugar ali perto tem vocação pra abrigar um Museu do Espaço, é este prédio aqui. No interior, diversas mini-exibições interativas oferecem ao visitante um panorama informativo e divertido sobre ciências, astronomia e tecnologia. (Putz, que frase mais press release . Só faltava eu acrescentar um "você vai aprender brincando!"). É tudo legal, bem feito e tal, mas vou ser sincero: quanto mais velho você for, mais bobinhas soam as atrações. A que mais me atraiu foi um simulador antigravidade, feito pra você sentir que está andando na Lua, mas eles só abrem a cada tantas horas e quando fui estava fechado. Na lojinha de souvenirs, além das traquitanas de sempre, estava um pacotinho de "comida espacial": " sanduíche de sorvete seco e congelado sabor baunilha". Pagar 40 HKD pra experimentar gororoba de astronauta? Não, obrigado.
O ponto alto da minha visita ao Museu do Espaço, curiosamente, não foi relacionado ao Espaço ou à Fronteira Final, mas às profundezas do oceano. A tal bolota gigante abriga um cinema Imax com uma tela ocupando metade da cúpula, e o filme da vez era o "Under the Sea 3D". É um documentário de 40 minutos com imagens estupendas das águas do Pacífico (sul da Austrália, Papua Nova Guiné, por ali) e suas criaturas bizarríssimas, mais criativas que qualquer alienígena de seriado de sci-fi. E em vez daquele locutor de sempre da Discovery com voz de Cid Moreira, a narração é do Jim Carrey.
Na foto: Jim Carrey sob pesada maquiagem e um mergulhador.
O Museu de Arte
Vou confessar um negócio: não tenho lá muita paciência para arte chinesa antiga. Vasos ornamentados, peças de caligrafia e relíquias de dinastias de outrora são de inegável importância histórica e certamente têm o seu público, mas não fazem muita parte do meu repertório nem me despertam paixão. A colexão fixa do Museu de Arte de Hong Kong é calcada nessa arte antiga, e a julgar pelos comentários no livro de visitas, também polariza opiniões. " Muito interessante! ", escreveu um visitante. " Como assim interessante? ", retrucou outro, logo abaixo. E havia uma observação pertinente escrita em chinês: " Muito bonito! Se tivesse lugar pra sentar, seria melhor ainda. "
As exposições temporárias me apeteceram bem mais. Tinha uma, chamada "The Ultimate South China Travel Guide II" – simples, praticamente sem acervo – que achei uma ótima sacada. A premissa era fornecer informações para uma possível visita ao sul da China – só que no século 19. Um Lonely Planet para viajantes do tempo.
Textos e reproduções de pinturas da época informavam aos pretensos Marties McFlies o que precisavam saber para um tour esperto por Cantão e região. De como chegar (" Navios partem duas vezes por mês de Southampton e duas vezes por mês de Marselha ") às atrações e atividades imperdíveis (" Poucos vão admitir isso abertamente, mas entregar-se à jogatina é um dos passatempos favoritos do povo de Macau "), estava tudo lá. Algumas dicas eram especialmente valiosas: " Não vá antes de 1840, ou chegará no meio da Guerra do Ópio. "
A exibição contava até com um "phrasebook" apresentando o turista temporal ao Pidgin English, uma forma distorcida do inglês com sintaxe esquisita e pronúncia acantonesada:
Muito obrigado – "Too muchee thankee"
Sinto muito – "My velly sorry"
Eu quero isto – "My wantchee thisee"
Socorro! - "Makee help my!"
Estou bêbado – "Got tipsy"
Ele foi assassinado – "Some man killum him"
Sinto muito – "My velly sorry"
Eu quero isto – "My wantchee thisee"
Socorro! - "Makee help my!"
Estou bêbado – "Got tipsy"
Ele foi assassinado – "Some man killum him"
A outra exibição temporária se chamava "Touching Art". Na porta, eles te instruem a lavar a mão com álcool antes de entrar. Lá dentro estão 18 réplicas em tamanho real, feitas de resina ou gesso, das estátuas mais famosas do Museu do Louvre em Paris. Aí você descobre que o "touching" do nome não era no sentido de tocante, comovente, mas de passar a mão mesmo. Você é convidado a apalpar cabeça, tronco e membros (entenda como quiser) de todas aquelas estátuas multicentenárias do Louvre. Que, claro, não primam exatamente pelo decoro: Michaelangelo adorava esculpir uma genitália, pra não falar naquela gregaiada tarada. O museu explica que a intenção é fazer o usuário perceber como movimentos de corrida, dança ou queda eram reproduzidos com fidelidade ímpar nessas esculturas. Mas a malícia é inevitável. Para as mulheres, é uma oportunidade de examinar com zelo as partes íntimas dos deuses da mitologia grega. Para os homens, é a chance de poder dizer que você pegou nos peitinhos da Vênus de Milo.
Que, convenhamos, não são lá grande coisa.
Boca de Gafanhoto , ciência , Hong Kong , museus , viagens
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