16/11/2005

Sorte e azar



O Pato Fu plagiou a gente.

A afirmação pode parecer um tanto presunçosa e paranóica - e na verdade é mesmo -, mas não é injustificada. Vamos fingir que não aconteceu nada e tratar tudo na base da mera coincidência. Antes, porém, alguns patos, digo, fatos.

Março de 2004. Minha banda, ex-ABWNN, atual ABUNN, futura [deixe sua sugestão], gravou um cd demo batizado de 77 coisas. Ele juntou-se a uma demografia que já tinha o Y, de 2002. Reunidos, os dois disquinhos traziam dezessete canções, das quais selecionamos cinco para um cd de divulgação. Entre essas cinco estava uma chamada apenas de "?".

Abril de 2004. Num show no então Marista Hall, Adriano e Rafael (baterista e guitarrista da banda) conseguiram esticar o braço o suficiente para entregar a um roadie do supracitado Pato Fu um desses cds de divulgação. "Entrega pro John", pediram, na esperança, talvez, de que alguma divulgação realmente saísse dali. Semanas mais tarde, em outra oportunidade, os mesmos dois encontraram o baterista do Pato Fu, Xande, numa galeria na Savassi, e aproveitaram para deixar com ele mais um cd daqueles.

Meses mais tarde, encontramos o Xande novamente e perguntamos se ele tinha ouvido o cd. Ele desconversou, falou que recebia muitos cds por mês e que não tinha tempo de escutar quase nada. Estávamos em agosto de 2004, quando o Pato Fu estava na fase de composição e pré-produção de seu mais recente álbum, Toda Cura Para Todo Mal. Nós também já tínhamos começado a ensaiar para nosso terceiro demo, o ainda inédito Guiné-Bissau. Uma das primeiras músicas arranjadas e garantidas no repertório desse cd era um tema instrumental chamado "Amendoim Blues".

Passam-se os meses, vira-se o ano. O Pato Fu lança seu nonagésimo álbum e eu, farto das canções fofinhas e bonitinhas que eles vinham fazendo nos últimos anos, nem dei bola. Até que, semana passada, foi com uns amigos no Shopping Oiapoque e comprei uma leva de discos que não compraria nunca por trinta reais, mas que por dois e cinqüenta centavos são uma boa, tipo o Rappa acústico e o novo dos Paralamas. Toda Cura Para Todo Mal veio no pacote, e não é que achei o cd até legal? Destaque para a telejornalística "Boa Noite Brasil", a silábica "Uh Uh Uh La La La Ié Ié" e a losermânica "No Aeroporto".

Mas aí estava eu olhando o nome das músicas do disco quando me deparei com uma chamada "Amendoim". "Coincidência", pensei, lembrando do nosso "Amendoim Blues" instrumental. Logo depois, corri os olhos pelo resto do repertório e topei com uma "!" (que, aliás, é instrumental).

Como se não bastasse, eles agora têm um tecladista chamado Lulu Camargo - e nós, recentemente, decidimos colocar uma tecladista pra fazer umas participações especiais. A escolhida foi minha prima... Luísa Camargo. (Ninguém precisa saber que o tal Lulu Camargo já toca com eles faz uns três anos e que a Luísa nem ensaiou ainda com a gente, o que torna o "plágio" nosso, não deles.)

Lembro duma frase de um dos caras do Oasis. Acusaram ele de plagiar uma pequena banda inglesa numa de suas canções, no que ele respondeu: "Esses caras são malucos. Quando decido plagiar alguém, vou logo no David Bowie ou no Paul McCartney". Pelo visto, nem todos seguem a mesma linha de pensamento.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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