29/03/2012

Sob o solo de Seul

 

Vou de metrô, cê sabe... 

Que inveja do metrô de Seul. E olha que Beijing não faz feio, com suas 14 linhas (e mais um monte em construção) que te levam aos confins mais remotos por apenas R$ 0,50. Mas enquanto Seul tem um número parecido de linhas, a rede é muito mais entrelaçada e você escapa de enfrentar baldeações longuíssimas pra ir ali no bairro vizinho. Meu amigo coreano tem até um aplicativo para smartphone falando o número exato do vagão que você precisa pegar para transferir mais rápido. Isso é que é vontade de chegar logo. 

A título de comparação: o metrô de Seul atual... 
 

...e o de Belo Horizonte, incluindo as linhas que ainda não estão prontas. 
 

Pra te agarrar de volta ao subsolo, as estações estão cheias de lojinhas de bugigangas, barraquinhas de lanche e 7 Elevens. Algumas oferecem até entretenimento: telonas touchscreen com opções que vão do prosaico jogo-da-velha até programinhas que usam a câmera pra mudar sua roupa na tela. E todas as estações trazem plano de fuga, várias mascaras anti-gás e placas de abrigo subterrâneo – o que é compreensível, dada a presença de uns certos primos loucos ao norte da fronteira. 

  

 
Sem falar que os vagões têm braços e pernas e posam pras fotos à maneira asiática. 

A de amor, Bieup de baixinho... 

 

À primeira vista, o idioma coreano escrito parece um mundaréu de tracinhos impenetráveis e formas infinitas. Mas por baixo dessa casca hieroglífica há um simples alfabeto de poucas letras, como o nosso – a única diferença é que eles são agrupados por sílabas e não um atrás do outro, dando essa impressão de que são milhares como no chinês. É só na China mesmo que você precisa decorar 10 mil símbolos diferentes pra poder ler um jornal. 

Para escrever "saram" (pessoa), por exemplo, você faz assim: 
 
Se a gente usasse o mesmo sistema... 
 

​Segundo o dito popular, o alfabeto Hangeul é tão fácil que um homem sábio pode terminar de aprendê-lo antes do almoço e um idiota consegue o mesmo até a hora de dormir. Meu amigo fala que 30 minutos bastam, mas ele é coreano e aí não vale. Eu posso dizer por experiência própria que uma ou duas tardes ociosas no trabalho são suficientes pra você sacar o básico. ​Recomendo o site Korean Wiki Project , que ensina passo-a-passo como se alfabetizar em coreano. Em algumas horas você já consegue escrever soju, kimchi, makgeolli e Kim Jong-il usando os tracinhos do Hangeul. E visitar a Coréia sabendo pronunciar placas e cardápios, mesmo sem conhecimento algum do idioma, já dá um tchan diferente à sua viagem. 

Falar a língua é outra história, com suas palavras compridas e inúmeras flexões verbais. Eu só aprendi o básico: annyeonghaseyo ("oi"), gamsahamnida ("obrigado") e maekju ("cerveja"). Foi o suficiente. 

Tá na mesa, pessoal! 

Era tanto cartaz e resenhas nas revistas sobre o tal do Nanta que resolvemos conferir. E foi um barato. Nanta é um espetáculo sul-coreano apresentado ininterruptamente desde 1997 e que já foi até pra Broadway, onde recebeu o nomeCookin' . No Brasil, provavelmente viraria Uma Cozinha do Barulho . Imagine uma mistura do Stomp, grupo de percussão que usa objetos do cotidiano, com aqueles esquetes dos Trapalhões fazendo bolo. 

 

Quem vê o panfleto imagina que os pobres atores têm uma jornada de trabalho escravagista: são nove apresentações por dia em quatro teatros espalhados por Seul. Na verdade, há dez elencos diferentes, cada qual com seu Gerente mandão, o Sobrinho mala, o "Rapaz Sexy" em clima de azaração, a Garota aprontando altas confusões e o Chef de Cozinha tentando pôr ordem na casa. 

O fiapo de história – os cozinheiros precisam preparar um imenso banquete de casamento em apenas uma hora – serve como desculpa para os improvisos musicais e as situações pastelão. Eles usam colheres, garfos, facas e cutelos para batucar pratos, panelas, tábuas de madeira e latas d'água; despedaçam cebolas, repolhos, alfaces e pepinos, zoneando o palco sem perder o ritmo; batem uns nos outros, fazem acrobacias e caretas e botam gente da platéia pra cozinhar e fazer papel de bobo em público. 

Fui tentar tirar foto e uma mulher do teatro veio correndo dizer que não podia, mas este vídeo faz um trabalho melhor do que eu faria: 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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