13/01/2010

E vamos botar água no feijão

 

Embora as cidades brasileiras estejam abarrotadas de restaurantes chineses, é de se esperar que a recíproca não seja verdadeira. E não é mesmo. Pizza, hambúrguer, sushi e burritos são fáceis de encontrar pelas ruas de Beijing, mas não dá pra dizer o mesmo de um bom tutu com torresmo e uma goiabada cascão de sobremesa. 

De qualquer forma, estamos falando de uma cidade de 17 milhões de habitantes e é claro que nesse bolo todo alguém já teve a idéia de abrir um restaurante de comida brazuca por essas bandas. E eu já tinha ouvido falar de alguns. O Latin Grillhouse, que tem dono brasileiro e carne importada da terrinha. O Alameda, que ganha prêmio todo ano. E outros que são uma mistureba de cozinha brasileira com argentina, mas parecem agradar (e se a gente não se importa em botar toda a cozinha oriental no mesmo saco, comendo sashimi com molho agridoce, porque eles não fariam parecido com a sul-americana?). 

Foi com certo receio que me aventurei pelo Latin Grillhouse há um tempo atrás, por ocasião de um aniversário duplo. Depois de dois meses em território estrangeiro, será que o feijão estaria à altura das minhas expectativas? 

Até que tava. Foi bom matar a saudade de arroz com feijão, pão de queijo e picanha, ouvindo uma seleção de sambas tocados ao vivo por um grupo carioca (e a cantora que agradecia em três línguas: “brigadu! thank you! xièxie!”). A ambientação era muito engraçada: paredes verde-e-amarelo-berrantes, garçonetes com bandeirinhas do Brasil coladas no uniforme, telão passando o clipe de “Segura o Tchan” e garçons chineses usando chapéu, camisa de manga comprida e lenço no pescoço, numa cômica representação gaúcho-oriental das vestimentas brasileiras. 

 
Nihao, tchê! 

Vale dizer que se você está imaginando a variada culinária tupiniquim em todos os seus pratos típicos, do acarajé à moqueca capixaba, da geléia de mocotó ao bombom de cupuaçu, e uma profusão de temperos digna do Mercado Central, está enganado. Tirando a carne, o feijão e um ou outro pedaço com gosto de casa, o resto era macarrão estilo chinês, batata estilo tailandesa e etcétera e tal. 

Ontem de manhã, semanas após a experiência, resolvi arriscar outro lugar, aqui perto, que servia comida brasileira. Mas esse foi uma decepção total. Acho que a idéia deles de brasileiro é servir a carne no espeto, na mesa do cliente, independente do que vem. Assim, não faltou coraçãozinho de galinha nem língua de boi, e ainda tinha lula, peito de pato, milho, banana e pêra assada (?!). Os complementos – arroz, macarrão, batata frita – eram tão brasileiros quanto um delivery do China in Box. 

Alguém aí quer me mandar um pastel de angu pelo correio? 

 
Igualzinho à comida da vovó!

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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