29/01/2010

Os animal tem uns bicho interessante

Era meu terceiro dia na China, um domingão ensolarado, eu acordei cedo ainda sob os efeitos do jet lag e pensei: “quer saber? eu vou é pro zoológico”. Aproveitei as facilidades do metrô pequinês e passei um dia criando bolha no pé de tanto caminhar. A última vez que visitara um zoológico tinha sido em Beagá, há uns bons sete anos, e na Pampulha não tem pandas nem pingüins. 

O zoológico de Beijing tem mais de um século nas costas e foi criado no finalzinho da dinastia Qing, em 1906. Suas 500 espécies de hoje em dia constrastam com a escassez de bichos dos primeiros anos: consta que em 1949, às vésperas da Revolução Comunista, o parque abrigava apenas doze macacos, um papagaio e um emu cego (!!). De lá pra cá, trouxeram zebras, elefantes, girafas, cangurus, ursos, bisões, tartarugas, ou seja, a faunarada que se espera de um lugar como esse. 

 

A espécie mais abundante, entretanto, é mesmo o filhote do Homo sapiens: crianças correm por todo lado, imitam patos, perseguem bolas de sabão, conversam com os bichos, comem, bebem e fazem suas necessidades... no chão. É um costume muito comum: em vez de fraldas descartáveis, os nenês passeiam por aí com um rasgão na calça estrategicamente localizado nos fundilhos. A natureza chamou, faz no chão mesmo, deixando o campo minado à mercê das pegadas alheias. O meio ambiente agradece, o seu sapato nem tanto. 

 
Vai lá, filhinho, ninguém tá te olhando. 

 
A pirralhada em frente a um mar de pandas. 

 
Ela não sorriria assim se soubesse que sua estampa está invertida. 

Quanto aos bichos, tem de tudo um pouco. Os ornitófilos podem admirar gansos, patos, flamingos, araras, avestruzes, pavões. Fãs de répteis têm jacarés, tartarugas, serpentes. Os mamíferos comparecem com guaxinins, camelos, lobos, hienas, alpacas, ursos, panteras. 

 

Mas é aquela coisa. Sabe os protagonistas do longa “Madagascar”, que viviam aquela vidinha pacata e tediosa confinados no zôo de Nova York sem um pingo da vitalidade que teriam na selva? É mais ou menos assim em qualquer jardim zoológico pelo mundo – lembre-se do célebre Idi Amin em BH – e não é na China que seria diferente. Em Beijing, enquanto patos podem exercer suas habilidades aquáticas em lagos grandes e cercados de vegetação, outras espécies têm que se contentar com jaulas pequenas e claustrofóbicas. Nesse sentido, a ala dos grandes felinos é a que chama mais a atenção. Os leões, as panteras e os tigres brancos passam dia após dia trancados atrás das grades num galpão com pouca luz. Tá certo, têm todos uma portinha que leva a um espaço aberto e com algumas plantas, mas raramente eles estão por lá. Falta energia até pra tomar banho de sol. 

 
"Odeio segunda-feira..." 

Plaquinhas de “não alimente os animais” estão por todo lado, mas o pedido é solenemente ignorado por grande parte dos visitantes. E dá-lhe criança dando alface na boca do alce, adulto tacando biscoito pro lobo, e daí pra pior – há relatos de quem viu gente servindo refrigerante para os ursos. Influência dos comerciais da Coca-Cola? 

(Um adendo interessante, ou não, dependendo do seu amor pelos bichinhos. Alguns amigos meus foram pra gélida cidade de Harbin, no norte da China, e visitaram um parque cheios de tigres siberianos soltos pela neve. Você entra num carro e vai andando por ele, estilão Jurassic Park. E pode comprar animais vivos para servi-los. Uma galinha ou um pato custam cerca de 200 yuans, ou 50 reais. Se estiver com um grupo grande, dá pra fazer uma vaquinha – literalmente –, pagar 400 reais e servir uma vaca inteira e viva aos tigrinhos.) 

O ingresso do zoológico de Beijing é barato: 15 yuans (R$ 4,00). Mas olha que legal: se você quiser ver os pandas, tem que pagar 5 yuans a mais. Quem é que vai num jardim zoológico na China e deixa de ver pandas? Se aumentassem o valor do ingresso e eliminassem essa bobagem de pagar separado, seria ao menos mais honesto. Mas vá lá: preguiçosos e engraçadinhos, os pandas cumprem o que a propaganda promete. 

 

 

 
“Me dá aquele panda gordo ali, pra essa menina parar de chorar” 

 
Sem pêlos nem carne, eles não parecem tão fofinhos. 

O aquário de Beijing fica dentro do zoológico mas a entrada também é à parte, e uma fortuna se comparada à do parque: 100 yuans (cerca de R$ 27). Dezenas de tanques com tartarugas, águas-vivas, tubarões, arraias e peixes de todas as cores do espectro. E se você estiver por lá no horário certo, pode assistir ao show dos mamíferos aquáticos. Tão lá a foca batendo palminha, o leão-marinho fazendo sua imitação de cameraman do Faustão (como era o nome dele mesmo?) e os golfinhos assumindo sua posição de grandes astros, com nados sincronizados de fazer inveja nas gêmeas do Pan e piruetas de deixar o Diego Hypólito chorando. 

 

Na saída do aquário tinha um mural de recados, e a moça do balcão me ofereceu post-it e caneta pra eu deixar o meu. Meus caracteres ainda eram precários – só sabia escrever 你好 em traços tortos – então escrevi na nossa língua pátria mesmo. Aproveitando o ambiente marinho, parafraseei Rogério Skylab na sua brilhante resposta ao Jô quando perguntando a respeito das baleias e registrei minha igual ignorância acerca do assunto. 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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