29/09/2005

Alea jacta est.



Meu pai tem a coleção completa do Asterix. Neste momento, os 31 álbuns se encontram do outro lado do globo e não posso mais relê-los quando me dá na telha. Mas nas férias de julho, pude matar a vontade e li, pela terceira ou quarta vez, clássicos como Asterix Gladiador, Os Louros de César, Asterix entre os Helvéticos e Asterix na Córsega. Meu pai, por sua vez, já está em sua quadragésima ou quinquagésima leitura de cada um.

No ano 2000, eu morava na casa da minha avó, no Nova Granada, enquanto a casa em que morei nos anos seguintes estava sendo levantada. Tínhamos guardado na garagem, em caixas repletas de naftalina, os vários objetos, livros e discos que não eram de uso cotidiano. Entre eles estava a coleção completa do Asterix. Um dia, desenterramos (ou desencaixamos) os álbuns todos e resolvi lê-los, um a um, na ordem em que foram originalmente lançados na França. Foi uma compulsão obsessiva, uma obsessão compulsiva, em 12 dias eu já tinha lido todos os trinta. Cheguei a ler cinco num dia só. Até hoje, quando sinto cheiro de naftalina, lembro na hora do Asterix.

Lendo os álbuns na ordem de lançamento, é possível enxergar com clareza as três fases da História do gaulês. Ascensão, apogeu e queda, como no Império Romano que eles tanto sacaneiam. Nos primeiros álbuns, os traços e as personalidades dos personagens ainda não estavam bem consolidados. Nem o cachorrinho do Obelix, Ideiafix, aparecia ainda. A partir da sexta história, Asterix e Cleópatra, seguem-se longos anos de ótimos álbuns, cheios de povos antigos, momentos cômicos e referências a celebridades. Os Bítous, por exemplo, aparecem em Asterix entre os Bretões. De repente, morreu o Goscinny, roteirista das histórias. Do jeito mais besta do mundo: teve um troço durante um check-up de rotina no médico. Sobrou pro desenhista, Uderzo, fazer a parte do colega, dando origem, assim, à fase do declínio. É incrível, parece mentira, mas a cada álbum a coisa piora. Os primeiros dele nem são tão ruins, mas A Galera de Obelix (1997) e Asterix e Latraviata (2001) não têm graça nenhuma e chegam ao cúmulo de possuírem erros de continuidade em relação aos álbuns passados, como se Uderzo não lesse as próprias histórias.

Bom, dia 14 de outubro agora sai o próximo e, muito provavelmente, derradeiro álbum do Asterix. Recebeu o nome de O Céu Cai Sobre Suas Cabeças, uma referência ao único medo que os gauleses alegam ter. As chances de ser uma porqueira são grandes, mas lá no fundo, bem no fundo mesmo, ainda tenho esperança de que a história seja boa, que Uderzo se redima dos fracos trabalhos recentes, que feche com foice de ouro uma saga quase brilhante. De qualquer jeito, a compra de uma das oito milhões de cópias que serão mundialmente lançadas já está garantida. Uma coleção não pode ficar incompleta.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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