13/09/2005

Amigo da água



O máximo que eu vi de Pop Rock Brasil esse final de semana foi um trechinho do Dead Fish tocando no rádio (trechinho mesmo, não consegui ouvir mais de um minuto) e um outro trecho no Jornal Nacional, com o D2 tocando ao vivo, numa reportagem sobre os 40 anos do Mineirão. É engraçado, porque há poucos anos o Pop Rock Brasil da 98FM era o evento mais aguardado do ano, ficávamos todos esperando sair a escalação das bandas, e a frase mais perguntada nos recreios era: "Você vai no Pop Rock?". O que aconteceu, então? Viramos adultos?

Não, acho que o pop rock brasileiro é que vai mal das pernas mesmo. É só olhar a lista das bandas que tocou esse ano. Detonautas. CPM 22. Tihuana (isso existe ainda?). Charlie Brown Jr, ou o que restou dele. Marcelo D2, Capital Inicial, Sideral. Marjorie Estiano (???), Ramirez (????), Armandinho (??????). Putz grila.

Quando fui no meu primeiro Pop Rock, tinha 12 anos de idade. Fui meus primos, os amigos dos meus primos, e claro, suas respectivas mães. Ficamos na arquibancada do Independência, assistindo lá de trás. Pelo que me lembro, foram shows muito legais. Pato Fu fazia sucesso com "Pinga" e "Capetão 66.6", Skank tinha acabado de lançar O Samba Poconé (com "Garota Nacional" e "É Uma Partida de Futebol") e os Paralamas estavam na turnê do Nove Luas, o melhor disco deles.

Em 1998 não pude estar lá porque tinha uma festa de quinze anos pra ir, mas em 1999, pra compensar, resolvi comparecer nos dois dias. Legião Urbana estava na moda na época, e o tema do festival era "Tributo à Legião Urbana". Todos os artistas tinham que tocar uma música da banda, o que deu origem a versões inusitadas. O Tianastácia, que ninguém conhecia e tinha só vinte minutos pra tocar, gastou nove com sua versão de "Faroeste Caboclo". Lulu Santos teve a cara-de-pau de ler a letra de "Índios", e foi vaiado, lógico. O Capital Inicial, pré-acústico, ainda não tinha virado uma bosta e contribuiu com um novo refrão para "Que País É Esse?", instituindo o hoje batidíssimo "é a porra do Brasil!". Outros limitaram-se a repetir os covers que já faziam normalmente, como o Pato Fu com "Eu Sei" e os Paralamas com a mesma "Que País É Esse?" que era a música de trabalho do acústico deles.

Mas a maior lembrança que tenho daquele Pop Rock foi o tumulto fenomenal que ocorreu no Independência por causa de uma mera chuva. Na hora, eu estava na arquibancada com minha mãe e minha prima, que tinha uns 12 anos. Céu aberto, pingos na cabeça, sabe como é, tivemos a ótima idéia de nos escondermos debaixo de uma marquise perto de onde vendiam bebidas. Nós e todo mundo no estádio. Não demorou pra se formar uma confusão dos infernos debaixo da tal marquise, com gente empurrando pra lá, empurrando pra cá, garotas desmaiando e um pique de luz sinistro que não ajudou em nada. Olhei pro pessoal que tava no gramado e, inocentemente, pensei por um segundo que tinham distribuído capas de chuva, porque estavam todos cobertos com alguma coisa. Que nada, eram pedaços de chão que eles tinham arrancado e colocado por cima da cabeça. Quando terminou a chuva pudemos voltar às arquibancadas e assistir à apresentação do Barão Vermelho, até que meu primo, que estava lá no meio em algum lugar da multidão, conseguiu ligar pra gente e informou que tinha sido "jogado" pra fora do estádio na hora da balbúrdia e não conseguia voltar nem a pau. Fui embora pra casa sem ver os shows dos Paralamas e dos Titãs.

Só fui voltar ao Pop Rock três anos depois. Fui com a galera da escola, ficamos no meio do povão mesmo e não teve chuva nem bagunça. Quer dizer, não muita, já que na hora do Charlie Brown (tinha que ser), a turma da área VIP começou a brigar com o povão e dá-lhe agressões mútuas de pedaços de chão, feitos de um plástico duro que machucou muita gente. Acabamos levando dois desses pedaços de presente para uns amigos nossos que faziam aniversário no dia, um 7 de setembro.

Aquele Pop Rock de 2002 alternou alguns shows bons, como Tianastácia e Raimundos (que sobreviviam já sem o Rodolfo, à custa dos hits antigos), com bandas pífias. Como o RPM. Já não bastasse a repugnância que causa Paulo Ricardo, ele ainda sustenta todo o seu show em cima de composições alheias, já que de músicas próprias só tinham mesmo Rádio Pirata e Alvorada Voraz, que definitivamente não são lá essas coisas. E tomem versões vergonhosas de "Exagerado", "Satisfaction", "Help", "Eu Sou Terrível", "Light My Fire", "Wish You Were Here". Pra fechar com chave de latão, a música-tema do Big Brother. Mas nada foi mais inusitado que o CPM 22 tocando "Meu Erro" com participação do Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

Em 2003 eu estava lá de novo, mais atraído por uns shows que nunca passavam por Belo Horizonte do que propriamente pela magia do evento. Pude ver o Ultraje a Rigor, que foi ótimo, faltando só "Filha da Puta" no repertório. Ou Gabriel o Pensador e seus clássicos de quando eu estava na sexta série ("2345678", "Cachimbo da Paz"), sem falar na sua melhor música, "Até Quando?". De resto, mais do mesmo: Biquíni Cavadão, Kid Abelha, O Rappa, Capital Inicial (em sua fase mais irritantemente ridícula), Detonautas. As bandas menos famosas ficaram relegadas a um palco lateral batizado de "varandão", onde tocaram Elétrika, Terral, Nenhum de Nós, Pitty, Sideral. Foi a última vez que fui ao Pop Rock.

Hoje em dia, mesmo as bandas boas de anos atrás estão capengando. Skank picaretou de vez e lançou uma coletânea misturada com canções "inéditas" ("Vamos Fugir" já deu, né?). Titãs só piora a cada cd, dá até medo do monstro que vai ser o sucessor de Como Estão Vocês? (também, olha o nome do álbum). Pato Fu ficou tão bonitinho e fofinho que chega a incomodar.

Meu Pop Rock ideal hoje em dia, se me fosse obrigatório escolher uma escalação de bandas, teria:

- Los Hermanos
- Ultraje a Rigor
- Paralamas (um dos poucos que ainda prestam nessa safra anos 80)
- Rogério Skylab, defendendo o underground
- Lobão
- Cálix ou Cartoon, defendendo a ala belorizontina
- Massacration

O tema seria claro: "Tributo aos Mamonas Assassinas". Seria ótimo. Massacration tocaria "Débil Metal". Ultraje a Rigor emendaria "Chopis Centis" com "Should I Stay Or Should I Go", do The Clash. Skylab faria uma versão insana de "Robocop Gay". Los Hermanos traria sua veia sambística a "Lá Vem o Alemão". E a gente dormiria feliz, num mundo sem Chorão, sem Dinho Ouro Preto.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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