23/09/2005

Pra celebrar a nossa falta de assunto, vamo todo mundo cantar junto

ou: Mim gosta ganhar dinheiro



Gosto muito do Ultraje a Rigor. Já tocamos ao vivo várias de suas músicas. "Ciúme" e "Filha da Puta" estavam em nosso primeiro show. "Pelado" e "Sexo" entraram no setlist cinco vezes cada, esta última num medley com "Bichos Escrotos", dos Titãs. O show que assisti no Pop Rock de 2003 foi excelente, principalmente por causa do repertório repleto de músicas divertidas como "Rebelde Sem Causa", "Eu Me Amo", "Marylou", "Independente Futebol Clube", "O Chiclete". Encarnam o espírito do rock´n´roll, mesmo com quarenta anos nas costas, e fizeram bunda-lelê para milhares de pessoas - milhões, se levarmos em conta a TV - no Rock in Rio 3. (O baixista do Queens of the Stone Age foi além e tocou nu com a mão no bolso, mas tudo bem.)

O problema dos caras é a repetitividade.

Tenho três discos deles aqui em casa: O Mundo Encantado do Ultraje a Rigor" que contém canções como "Nós Vamos Invadir Sua Praia", "Inútil", "Ciúme", "Eu Gosto de Mulher", "Pelado", "Zoraide". 18 Anos Sem Tirar, de 1999, traz quatro músicas inéditas e sucessos ao vivo como "Nós Vamos Invadir Sua Praia", "Inútil", "Ciúme", "Eu Gosto de Mulher", "Pelado", "Zoraide". E esse Acústico MTV que eles lançaram agora, que presenteia os fãs com as versões desplugadas de músicas como "Nós Vamos Invadir Sua Praia", "Inútil", "Ciúme", "Eu Gosto de Mulher", "Pelado", "Zoraide".

Faz anos que o Ultraje a Rigor grava o mesmo disco. De vez em quando lançam novas canções mais interessantezinhas ("Giselda" do 18 Anos Sem Tirar, "Me Dá Um Olá" de Os Invisíveis, de 2003), mas quando a grana aperta é batata, apelam sempre para os sucessos dos tempos áureos.

Só que parece que, para esse Acústico, aceitaram o convite da MTV numa quinta-feira e na sexta já era o show de gravação. Com exceção de "Ciúme", que ganhou um clima meio havaiano, todas as outras músicas são absolutamente idênticas às versões originais. É duro admitir que me lembrou o acústico do Charlie Brown. Assim como a (ex-)turma do Chorão, Roger e seus comparsas não compreenderam que o "conceito" de um acústico (se é que a essa altura ainda existe algum) não é simplesmente tocar violão e baixo acústico em vez de guitarra e baixo elétrica, mas, pelo menos, adaptar as canções a um novo formato, recriá-las até, se for o caso.

O acústico dos Titãs, pra mim, segue ainda como o melhor. Engraçado que ele é encarado como um divisor de águas entre o Titãs criativo e o Titãs comercial. Tem muitos arranjos inovadores, "Go Back" em espanhol, "Flores" com Marisa Monte, "Televisão" com Rita Lee, "Diversão", "Comida", todas bem diferentes de suas correspondentes nos anos 80. Também gosto dos acústicos da Rita Lee, do Gilberto Gil, do Jorge Benjor ("cuíca play, cuíca play!"), até da Cássia Eller e do Capital Inicial. Os dois últimos, vale acrescentar, levantaram tanto a bola dos artistas que eles acabaram se tornando incrivelmente chatos, me fazendo querer cavar um buraco e pular ao escutar "Malandragem" ou "Tudo Que Vai".

Esse do Ultraje não tem uma canção inédita digna de ser música de trabalho, um arranjo melhor que o original, uma participação bacana, e é com certo pesar que afirmo, convictamente, que é um disco que não vinga. É pelado no quesito inventividade, e, de certa maneira, inútil. Não há mais nada a declarar.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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