O palácio que não é palácio, o lago que não é lago e o barco que não é barco: uma tarde no Palácio de Verão
A melhor época para visitar o Palácio de Verão é na primavera. O verão de Beijing é de fritar a pele e a cuca, e instalar lá dentro um ar-condicionado está fora de cogitação: assim como a Cidade Proibida não é uma cidade, o Palácio de Verão não é bem um palácio. Seu nome em chinês, Yíhé Yuán, significa literalmente “Jardins da Harmonia Cultivada”. Na prática, é um imenso complexo de 2,9 quilômetros quadrados, repleto de pavilhões, corredores, templos, pontes, jardins, montes e água, muita água. A proporção de terra e água é que nem o nosso planetinha azul: são três quartos de H2O.
O lago Kunming, que torna a água tão predominante no Palácio de Verão, é inteiramente artificial, mas já faz tanto tempo que dá pra considerá-lo natural. A terra escavada foi usada para erguer o Monte da Longevidade, que tem 60 metros de altura e um porção de templozinhos incrustados no topo. No início dos anos 1990, fizeram a primeira limpeza no lago, depois de dois séculos e meio de porcaria acumulada. Encontraram até 200 bombas da época da Guerra Sino-Japonesa (1937-1945). Hoje em dia, dá pra singrar o Kunming de barquinho, ou até patinar sobre suas águas congeladas, no inverno.
Construído inicialmente como jardim imperial em 1750, o Palácio de Verão foi feito em pedacinhos pelas forças anglo-francesas em 1860, que tocaram o terror em Beijing e só deixaram de pé a Cidade Proibida e olhe lá. Reerguido em 1888, servia de refúgio para a nobreza chinesa durante os escaldantes verões pequineses até o fim do Império. Hoje é Patrimônio da Humanidade e um dos pontos mais visitados da capital chinesa.
O Yíhé Yuán é bom tanto para os turistas ávidos por tirar umas fotos bacanudas, quanto para os visitantes sem compromisso. À esquerda da entrada principal dá pra caminhar à toa, observar a paisagem e ficar perdido na matinha. À direita ficam as atrações mais famosas do Palácio, como o Longo Corredor, que faz jus ao nome: 728 metros de uma ponta à outra, decorado por 14 mil pinturas (!!) em suas pilastras e tetos.
O campeão de visitas é o enorme Barco de Mármore, que não é propriamente de mármore – foi feito de madeira e pintado para se parecer com a rocha – e nem foi feito para navegar, só pra ficar parado e embelezar a beira do lago. O barcão era o xodó da Imperatriz Cixi, que desviou 30 milhões de taéis de prata para reconstruir e expandir o Palácio de Verão, dando atenção especial à pseudo-marmórea embarcação.
A grande ironia: essa dinheirama seria destinada à Marinha Imperial Chinesa, que continuou com uma frota ultrapassada e acabou perdendo a guerra contra os japoneses poucos anos depois. Tudo bem, guerras vêm e vão, e o barco permanece até hoje, atraindo uma boa grana para o Palácio todos os dias. Mas se eu fosse um marinheiro chinês naquela época, ah, como eu odiaria esse troço...
Cixi, a famigerada imperatriz que desviou grana pra reformar o Palácio. Que dedos são esses?!
O Longo Corredor: vazio de um lado...
...cheio do outro (com direito a chinês de barba grande e chapéu cônico)
Uma das milhares de pinturas do Longo Corredor.
Um painel de "previsão de turistas"! (Ontem: 41 mil. Previsão para hoje: 32 mil.)
Até a iluminação e os orelhões ganharam telhadinhos orientais.
Isso é que é medo: prendem o dragão até quando é de pedra.
O elefante de plantas teve mais sorte. Mas espere chegar o inverno...
E tem o Boi de Bronze: mais de 250 anos nas costas e ainda bem conservado.
As "florzinhas" do Palácio: lembram mais as flores mutantes transformadas pelo ooze em "Tartarugas Ninja II".
Milagre: uma atração turística chinesa vazia!
Outro milagre: um banheiro 4 estrelas!
Quem precisa de pente quando se tem um lagão desses à frente?
Eh... pra que lado fica mesmo?
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