22/10/2010

A tal da Praça da Paz Celestial

 

A Praça da Paz Celestial é a maior praça do mundo. São oitocentos e oitenta metros de comprimento por quinhentos de largura. Dizem que nela caberiam três Praças Vermelhas de Moscou e um milhão de pessoas. Lembra da imagem da praia de Copacabana abarrotada no show dos Rolling Stones em 2006? Lá estavam 1.5 milhão de pessoas pela praia inteira. Um milhão é gente pra burro, e uma praça sozinha ter espaço pra tudo isso é uma daquelas coisas que só podiam mesmo ser na China. 

Tian'anmen, como é chamada em mandarim, não é exagerada assim do nada. Nascida em 1651 logo em frente à Cidade Proibida, passou por uma infância relativamente tranqüila, enfrentou uma adolescência conturbada (escapou por um triz de ser incendiada por franceses e ingleses em 1861) e só foi espichar de verdade nos anos 1950. A idéia, óbvio, foi de Mao Tsé-tung, que queria torná-la a maior e mais espetacular praça do mundo. No processo demoliram portões históricos, prédios residenciais e quaisquer estruturas que encontrassem pelo caminho. 

A única forma de se chegar até a Praça é por baixo da terra. Ela é toda cercada por grades e você precisa descer por uma passarela subterrânea e passar por uma rápida inspeção de raio-x (só para bolsas e mochilas) antes de subir novamente. 

A primeira impressão é que, se Mao foi inquestionavelmente bem-sucedido no intuito de construir uma praça gigante, “espetacular” vai variar de opinião pra opinião. Não acho a Tian'anmen um lugar especialmente bonito. Não é uma praça para se fazer caminhadas, não se tem onde sentar, as árvores são bem poucas. Mas é pra isso que Beijing tem dezenas de parques, todos muito bem cuidados. O que interessa aqui é o valor histórico. Além de ter sido coração da capital da China por centenas de anos e testemunhado a criação da República Popular da China em 1949, a Praça da Paz Celestial foi palco do famoso massacre dos estudantes em 1989 , num protesto pela democracia que terminou com centenas de mortos. Também aqui foi tirada a foto do homem que encarou, sozinho, uma fileira de tanques de guerra, que desfilavam logo após o fim trágico dos protestos. Uma imagem que permanece viva na memória ocidental, mas de que vários jovens chineses sequer têm conhecimento. 

 
"Mamãe não me contou nada." 

O que falta em árvores e banquinhos na praça sobra em atrações turísticas, especialmente para o chinês mais patriota. O Grande Salão do Povo é a casa dos parlamentares: funciona como Congresso e ainda sedia concertos e apresentações – até o Pavarotti já soltou o gogó por lá. O Museu Nacional da China cobre um período de 1,5 milhão de anos (!!) de história e arte chinesa. Até há pouco tempo estava fechado para uma reforma-monstro que o transformará num dos maiores museus do mundo, mas acho que ainda não terminaram. O Monumento aos Heróis do Povo é um obelisco de 38 metros de altura erguido em homenagem aos heróis da pátria. E o Mausoléu de Mao Tsé-tung guarda o corpo do antigo líder, embalsamado e exibido ao público em um caixão de vidro. Só é possível ir de manhã e a fila é sempre tenebrosa. Ainda hei de tomar coragem, mas tenho tempo – ele não vai a lugar nenhum. 

 

 

Nos túneis que levam à Praça há sempre alguns vendedores - olha a mulher aí no canto exibindo seus brinquedinhos luminosos. 

 

A bandeira é hasteada todas as manhãs, durante o nascer do sol. No verão, isso significa 4h30 da manhã. Alguém aí afim de ver e me contar como foi? 

 

O fálico Monumento aos Heróis do Povo. 

 

Mausoléu de Mao Tsé-tung: é aqui que ele não descansa em paz. 

 

A fila para ver o cadáver do Mao: e isso é só um pedaço... 

 
Escultura em frente ao Mausoléu do Mao. Avante, camaradas! 

 

Agora de ladinho. 

 

O Ponto Zero, que marca o início das estradas da China. Os pontos cardeais vêm acompanhados de quatro animais da mitologia chinesa: o dragão verde, o tigre branco, o pássaro vermelho e a tartaruga preta. 
 

 
O portão Qianmen escapou da demolição e continua em pé, vigiando a praça. 

 

A Tian'anmen num sábado de sol: sombrinhas, painéis floridos e gente pra burro. 

 

Paisagismo chinês é assim: quanto mais berrante, melhor. 

 

Praça da Paz Celestial: para gente de todos os povos, cores, idades e tamanhos. 

 

Tem pai que é muito confiante... 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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