18/10/2010

Esquadrilha da fumaça

Saiu no Wall Street Journal outro dia: cigarros produzidos na China contém três vezes mais metais pesados do que, por exemplo, no Canadá. A causa não seria apenas descuido na fabricação, mas o solo contaminado – parece que as plantas de tabaco absorvem níveis altíssimos de metais pesados da terra onde são plantadas.

Em tese, é uma péssima notícia para os chineses. Na China fuma-se muito. São entre 300 e 350 milhões de fumantes em todo o país. Isso é 3 vezes o número de fumantes dos Estados Unidos, 13 vezes o do Brasil, e corresponde a mais de um quinto da população total do país (no Brasil são 12%). A China é o maior produtor de tabaco do mundo e também o maior consumidor. Um quarto dos fumantes do planeta Terra são chineses. Um milhão e duzentos mil morrem por ano.


Se até os pandas fumam, você queria o quê? 

Na prática, não dá pra dizer que eles se importam tanto. Fumar já virou parte da cultura chinesa. Fuma-se para selar um negócio, para fazer novos amigos, para espantar mosquitos, depois das refeições, até mesmo durante as refeições. As estatísticas do parágrafo anterior se refletem nas ruas. Taxistas mais abusados fumam enquanto dirigem. Em alguns restaurantes com avisos de que é proibido fumar, basta pedir um cinzeiro que o garçom traz. Muita gente sequer imagina a conexão o cigarro ao câncer de pulmão. Sem falar de perigos mais, digamos, instantâneos: já vi um cara numa bicicleta elétrica, carregando um monte de botijões de gás e fumando tranqüilo seu cigarrinho. 

Um maço de cigarro custa 10 kuai (R$ 2,50) na China. No Brasil tá quanto, quase uns R$ 4,00? Na Europa sai por cerca de 5 euros (R$ 11). Europeus que em seus países são “fumantes de ocasião” chegam aqui e enfiam o pé na jaca, se esbaldando com os preços baixos e a variedade – cigarrinhos sabor laranja, maçã, chocolate e melancia são encontrados em qualquer barraquinha de rua. Lojas que vendem exclusivamente bebidas e cigarros estão em cada quarteirão. E a lei que restringe a venda aos maiores de 18 anos é frouxa, frouxa. Já vi uma menina de uns 4 anos entrando sozinha numa loja dessas, com um papelzinho na mão entregue pelos pais, e saindo logo em seguida carregando um pacotão daqueles de dez maços. 

 
Uma das inúmeras lojas de tabaco e álcool de Beijing. (Foto: Bloomberg News) 

Como não-fumante convicto, sou ferrenhamente a favor de leis que proíbem o fumo em ambientes fechados. Qualquer argumento contra vem inevitavelmente com um certo egoísmo travestido de “direito à liberdade”, como se o mundo fosse obrigado a inalar a fumaça catinguenta do próximo para que ele se sinta livre. Mas agora não sei se a lei antifumo brasileira, aprovada ano passado, “pegou”. Também temos disso, né. A Lei Seca, por exemplo, só durou uns três fins-de-semana. 

Na China, a coisa caminha a passos ainda mais lentos. Se no século 17 ser pego fumando ou vendendo tabaco valia pena de morte por decapitação, a fiscalização de hoje é à brasileira e a lei, pior. Os planos de uma proibição mais ampla acabam freqüentemente no limbo, e foi só no último mês de maio que baniram o fumo dentro de hospitais (!!). Pelo menos os doentes terminais agradecem. 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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