26/03/2009

Os textos inacabados do Biselho #19

Em julho de 2008...

Adaptation.

Enquanto Ensaio Sobre a Cegueira não chega, cinco livros que eu gostaria de ver nos cinemas:



5 - O Clube dos Anjos (Luis Fernando Verissimo)

Divertido livro do Verissimo em que dez amigos glutões se reúnem mensalmente para comer e beber bem, mas começam a morrer misteriosamente um a um, envenenados, após os banquetes. Humor, gastronomia e crimes já deram certo no recente Estômago, e Paulo Miklos, que vem se mostrando apropriado para papéis exóticos, bem que poderia encarnar o cozinheiro Lucídio. Porém...

Poderia dar errado: Verissimo já foi adaptado várias vezes para a TV, em programas geralmente bem-sucedidos (lembra do "Comédias da Vida Privada"?). Mas no cinema são poucas as experiências, sendo "Ed Mort" - que não vi, mas não costumo ouvir boas críticas - o exemplo mais famoso. Além disso, é batata: se é filme brasileiro e não tem favela ou ditadura, colocam o Jorge Fernando pra dirigir e aí danou-se. Um elenco de globais bem maquiados não faria jus aos personagens envelhecidos e decadentes que o livro apresenta.



4 - Blecaute (Marcelo Rubens Paiva)

Três amigos se perdem numa caverna e quando conseguem sair, alguns dias depois, São Paulo é uma cidade fantasma, habitada por pessoas estáticas, como se fossem de plástico. O tema de gente sozinha no mundo me agrada bastante e seria interessante ver a situação num cenário tupiniquim. A grana economizada no elenco poderia ser aplicada nos efeitos especiais, incluindo a antológica cena em que a Avenida Paulista, de cima a baixo, é pintada de vermelho. Porém...

Poderia dar errado: Convenhamos. Uma coisa é a Nova York deserta de "Eu Sou a Lenda", com uma Hollywood inteira por trás. Quando teríamos isso num filme nacional? Mesmo com um elenco enxuto, seria fácil a produção brasileira mais cara de todos os tempos. Imagine a cena em que uma Avenida Paulista deserta é pintada de vermelho de cima a baixo...



3 - O Homem Que Matou Getúlio Vargas (Jô Soares)

Um assassino sérvio com seis dedos em cada mão, especializado em matar tiranos - ou pelo menos em tentar -, resolve dar um fim ao presidente Vargas. O protagonista é divertido e o livro é cheio de cenas engraçadas. Sem falar que metade do elenco de Agosto poderia arranjar emprego novamente.

Poderia dar errado: Vamos por partes. "O Xangô de Baker Street", o livro, também tinha um protagonista divertido e várias cenas engraçadas - mas nem pro isso o filme conseguiu passar a mesma coisa na telona. "O Homem Que Matou Getúlio Vargas" é ainda mais ambicioso: compreende cerca de 40 anos de História mundial, indo de momentos tão díspares quanto a Primeira Guerra e a morte de Vargas, personagens tão diversos quanto Mata Hari e Franklin Roosevelt e cenários tão antagônicos quanto Sarajevo e a Ilha dos Leprosos. Vá tentar espremer isso num filme de duas ou, vá lá, três horas. Junte um protagonista com seis dedos (não vale chamar a Cicarelli), locações em três continentes e a óbvia dificuldade de fazer piadas literárias funcionarem na telona e temos a receita do caos.



2 - O Restaurante do Fim do Universo (Douglas Adams)

Seqüência de "O Guia do Mochileiro das Galáxias", continua a aventura de Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian, Beeblebrox e o robô-emo Marvin pelos confins do Universo, após a destruição total da Terra. Mais divertido e ambicioso que o primeiro, o livro traz situações tão diversas quanto o fim do universo, o encontro com o homem que rege o universo e a Terra pré-histórica de dois milhões de anos atrás.

Poderia dar errado: O livro não tem propriamente um final, e qualquer tentativa de fechar a história soaria falsa.



1 - Cem Anos de Solidão (Gabriel García Márquez)

A saga da família Buendía ao longo de mais de cem anos. Quem não consegue imaginar a cena inicial, com o coronel Aureliano Buendía diante do pelotão de fuzilamento, lembrando daquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo?

Poderia dar errado: O livro é grande demais e todas as páginas são indispensáveis. Talvez uma mini-série da HBO, com 20 episódios de uma hora, falados em espanhol, fosse mais fiel. Um filme só não daria conta do recado mesmo - uma trilogia já ajudaria.

*****

Em março de 2009...

Gostaria muito de assistir a qualquer um desses filmes, mas legal mesmo seria uma animação 2D dos Saltimbancos, com o áudio integral do disco original...

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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